• Edição 143
  • 11 de setembro de 2008

Argumento

Ciência e arte: juntos por uma educação melhor

Marcello Henrique Corrêa

Christine Ruta, professora do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (Nupem/UFRJ), trouxe da França, onde concluiu seu doutorado em 2006, mais do que um diploma. A estada na Europa serviu de inspiração para a bióloga idealizar o Scientificarte, projeto criado por ela no ano passado com a idéia de relacionar o mundo da biologia com expressões artísticas, prática muito comum no Velho Continente. “Percebia, lá na França, um estímulo natural ao contato das crianças com os animais, no zoológico, e com a arte, nos museus, sem que essas duas experiências fossem isoladas”, comenta.

O projeto foi criado assim que a professora voltou para o Brasil e ingressou no Nupem. Formado por ela e mais seis alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Núcleo, o grupo pretende criar novas estratégias para levar abordagens mais dinâmicas à sala de aula, a partir da interação entre biologia e arte. Dessa forma, seria possível, por exemplo, falarmos de cadeia alimentar, baseando-nos na tela “Sonho Causado Pelo Vôo de uma Abelha ao Redor de Uma Romã um Segundo Antes de Acordar”, de Salvador Dali (foto). Nesse exemplo, além de aprender sobre o funcionamento da cadeia, o aluno seria estimulado a saber mais sobre o artista surrealista. O objetivo final do trabalho é elaborar um vídeo educativo, que passaria a compor o leque de opções de professores do Ensino Fundamental.

A interação entre ciência e arte não é inédita na História. Grandes pensadores ficaram conhecidos por se destacar em diversas áreas. Leonardo Da Vinci, por exemplo, além de marcar a história da arte como expoente do Renascimento, contribuiu nos campos da arquitetura, engenharia, ciências, dentre outros. Para Christine, o mundo contemporâneo já não apresenta essa característica. “Talvez isso ocorra por causa da crescente especialização. Há uma dificuldade de interação entre as áreas”, opina.

Para a professora, unir dois modos de pensar e agir diferentes como ciência e arte pode ser um meio de melhorar o processo cognitivo e despertar bons resultados. “Nossa proposta é promover a união entre esses dois tipos de pensamentos, mas não a mistura completa. É preciso que fique claro para esses jovens que uma coisa é a obra de arte e outra coisa é um habitat, um nicho, o mundo real. Esses dois universos coexistem, na verdade”, frisa a coordenadora.

O primeiro passo já foi dado. Antes de elaborar o material, os alunos integrantes do grupo realizaram estágios em escolas dos municípios de Macaé e Barra de São João. “Tentamos escolher as escolas mais diferentes possíveis, desde uma escola pública com um ensino bom até uma escola que tem um déficit de estrutura, para vermos se isso funcionaria na prática”, explica Christine.  Segundo ela, o grupo tem aprendido bastante, já que nem sempre as experiências com as crianças caminham como o esperado. “Os principais motivos para as oficinas não caminharem tão bem são relacionados ao material. Além disso, em alguns casos, as crianças acabam dispersando”, comenta a professora.

Entretanto, nessa fase de observação, o grupo não se limita ao ambiente de sala de aula. Além do trabalho que ocorre diretamente nas escolas, o projeto tem sido apresentado em eventos, palestras e oficinas. “Participamos, há um tempo, de um evento muito marcante para todo o grupo. O VI Congresso de Limnologia contou com um espaço aberto à população, e o Scientificarte esteve presente com diversas atividades e oficinas voltadas para o tema central, a água”, recorda a professora. O grupo também marcou presença na última edição do Festival UFRJMar, evento de extensão conhecido da população costeira do Rio de Janeiro, que ocorreu em maio desse ano, em Cabo Frio.