• Edição 143
  • 11 de setembro de 2008

Por uma boa causa

Açaí: sinônimo de alimento saudável

Cília Monteiro

Euterpe oleracea Mart. Este é o nome científico do açaí, pequenino fruto roxo e arredondado, com peso de apenas 1,5 grama, bastante difundido entre os brasileiros. Ele se tornou uma espécie de vício não exclusivamente por seu sabor, mas também por ser sinônimo de alimento saudável. Karen Signori Pereira, professora do curso de Engenharia de Alimentos da Escola de Química da UFRJ, explica: “O açaí é uma fruta bastante exótica, que acabou caindo no gosto popular, principalmente na região Norte do país. É um produto que pode trazer diversos benefícios à saúde”.

Segundo a especialista, o consumo de açaí passou a crescer no final da década de 90, saindo da região Norte, principalmente do Pará e Amazonas. A partir de 2000, começou a se popularizar em outras localidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, na forma de polpa. Além da região Norte, onde o consumo costuma ser diário, atualmente o Rio de Janeiro é o Estado que mais consome açaí no Brasil.

Fatores positivos

Para Karen, o produto é benéfico por ser bastante rico em proteína e conter vitamina E, ferro, antocianina e flavonóides. Também estão presentes em sua composição alguns minerais, como potássio e cálcio. “O açaí apresenta elevado teor de ácidos graxos, principalmente insaturados, que fazem bem ao coração. São as chamadas ‘gorduras boas’, que desempenhariam funções fisiológicas no organismo quando consumidas, podendo ajudar a reduzir o colesterol”, observa a professora. Ela acredita que os componentes ajudam a manter um equilíbrio mineral, contribuindo para a manutenção do organismo.

De acordo com Karen Pereira, a pigmentação escura do açaí denuncia o fato de o fruto apresentar potencial anti-oxidante, característica positiva para o retardo do envelhecimento e processos degenerativos. No entanto, a especialista esclarece que não se trata de um rejuvenescimento associado à beleza estética, mas sim à melhora do sistema interno, o que reflete no bom funcionamento dos órgãos. “Não é como um creme anti-rugas, mas o efeito pode ser comparado a uma máquina em que a engrenagem está funcionando bem. Isto é sentido internamente, quando se deixa de acumular placas de gordura que podem resultar em um infarto”, explica a professora.

- São itens mais sutis do que o apelo da cosmética que existe atualmente. O consumidor deve ter a consciência de que é saudável e não associar a características físicas. Até porque é bastante gorduroso, e extremamente calórico, portanto deve ser consumido com moderação – explica Karen, alertando para o fato de que 100 gramas de polpa industrializada possuem aproximadamente 80 Kcal.

Tipos de polpa e indicações

O valor calórico e a porcentagem de nutrientes encontrados podem variar de acordo com o nível de diluição da polpa. Segundo a professora, ela pode ser grossa, média ou fina, dependendo da quantidade de água em que está diluída. Quanto mais diluída, menos calórica será. “A preferência por determinado tipo de polpa costuma diferir entre as regiões. Enquanto no Norte predomina a escolha pela polpa grossa, os cariocas costumam priorizar as mais finas”, aponta Karen.

Para a especialista, o produto pode ser consumido por qualquer indivíduo, mas acaba sendo mais procurado por praticantes de atividades físicas. “Quem costuma realizar exercícios pode consumir tigelas com porções mais generosas. O açaí é uma bomba calórica, mas o praticante de atividades queima calorias, podendo encontrar um equilíbrio”, explica Karen. Ela acredita que pessoas com problemas de peso, que entram em dietas com restrições de gorduras, devem evitar o fruto.

Freqüentemente relaciona-se a incidência de espinhas na pele à ingestão de açaí. Segundo a professora, isto pode ser explicado por se tratar de um alimento gorduroso. Porém, não há comprovação científica sobre este possível efeito. 

Atuais perigos

Algumas pesquisas associam a transmissão da Doença de Chagas ao consumo de açaí. Em algumas localidades, os processos de colheita, transporte e armazenamento do fruto são muito precários, deixando a desejar no quesito higiene. Com isso, protozoários como o barbeiro, dentre outros, acabam tendo acesso e chegando até a polpa, o que pode provocar doenças no indivíduo que ingere o produto. “A indústria precisa dispor de tecnologias para eliminar o protozoário caso ele esteja presente, e para garantir a qualidade do que está sendo consumido”, afirma Karen.

Segundo a professora, o Ministério da Agricultura determinou que as polpas industrializadas precisam ser pasteurizadas. O consumidor deve estar atento a este fator, pois assim evita diversos perigos microbiológicos. “Por um lado, existem empresas sérias, mas por outro há uma produção primária que precisa crescer e se adaptar às práticas ideais, higiênicas. Para que se possa desfrutar dos benefícios do açaí, não pode haver contaminação”, conclui Karen Pereira.