• Edição 142
  • 05 de setembro de 2008

Microscópio

Terra: planeta água

Heryka Cilaberry

Os interessados em ampliar conhecimentos sobre meio ambiente já podem iniciar a contagem regressiva. De 8 a 10 de setembro, ocorre na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o II Simpósio em Ecologia, abordando o tema “Ciclo do carbono em ambientes aquáticos continentais”. O encontro terá a participação de pesquisadores de diversos países para compartilhar as inovações na área.

O primeiro simpósio, que ocorreu em 2007 e abordou a ecologia da Antártica, foi apenas o início de uma promissora jornada. Desde então o ciclo de eventos, coordenado pelo professor do Instituto de Biologia da UFRJ Alex Enrich Prast, não pára de crescer. Os simpósios, que estão relacionados ao periódico Oecologia Brasiliensis, editado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade, já contam inclusive com programação para 2009.

O encontro desse ano tem o objetivo de discutir diversas questões relacionadas ao ciclo do carbono, dentre elas a emissão de gases que causam o efeito estufa. Para alcançar essa meta, um grupo de especialistas se aprofundou em assuntos muitas vezes esquecidos em grandes congressos. Assim, apresentando posturas diversas, serão expostas as múltiplas facetas de uma mesma questão, como exemplifica o coordenador.

“Uma das mesas redondas será sobre a emissão de gases causadores do efeito estufa por reservatórios. Ela promete ser muito polêmica, pois há dois pesquisadores que possuem opiniões e argumentos científicos opostos. Um deles é o professor Pinguelli (Luiz Pinguelli Rosa, da UFRJ), que reconhece a existência da emissão de gases, porém mostra dados que comprovam não ser esta emissão tão expressiva e que mais estudos são necessários. O outro, o doutor Phillip Feanside, do INPA da Amazônia, diz que estes ambientes emitem grande quantidade desses gases. Deste modo, espera-se um debate bem acalorado”, afirma Prast.

As diferentes opiniões sobre uma mesma questão favorecem a participação dos alunos. Segundo o professor, a experiência no simpósio contribui para abrir os horizontes do estudante. “Quando existem bons pesquisadores ministrando palestras, muitos aspectos excluídos da sala de aula, por falta de tempo ou por não ser da área do professor, são apresentados com grande profundidade. Isso torna o simpósio, às vezes, ainda mais enriquecedor que uma aula.”

Profissionais como Carlos Nobre, um dos estudiosos mais conceituados na discussão sobre o efeito estufa, e um grande número de palestrantes estrangeiros também são esperados para o evento. A programação constitui uma experiência positiva para o aluno, já que pode estabelecer contato com os professores, acertando, inclusive, a possibilidade de fazer pós-graduação no exterior.

Outro assunto que será abordado no II Simpósio é o papel dos lagos e rios no ciclo global do carbono, desmistificando algumas idéias populares, até de que o plantio de muitas árvores resolveria o problema do efeito estufa. De acordo com Prast, já se sabe que lagos e rios têm grande relevância na emissão e fixação de carbono, porque muito do elemento fixado em florestas acaba sendo transportado para estes ambientes aquáticos.

Um alerta deve ser feito para a pequena quantidade de estudos realizados no Brasil sobre os processos relacionados ao ciclo do carbono em ecossistemas aquáticos continentais, principalmente quando comparada ao volume de pesquisas feitas em países desenvolvidos. Como aconselha Prast, é fundamental que, com a crescente pressão humana sobre os ecossistemas em todo o planeta, os pesquisadores brasileiros compreendam seu próprio ambiente e entendam o ciclo do carbono.

“Todos os processos ecológicos em ambientes aquáticos estão relacionados de uma maneira direta ou indireta ao ciclo do carbono. Portanto, sem o entendimento mínimo da ocorrência deste ciclo nos ambientes aquáticos, a sociedade não terá as ferramentas necessárias para sua preservação. Nosso país é rico em água doce, mas a poluição causada pela sociedade pode nos causar falta de água também. Muitos recursos são gastos para despoluir a água e a melhor maneira de economizar estes recursos é a preservação destes ambientes”.