• Edição 141
  • 28 de agosto de 2008

Argumento

Anorexia alcoólica: o efeito do vício

Monike Mar e Sofia Moutinho

A anorexia alcoólica, ou também conhecida como drunkorexia, é mais uma das inúmeras conseqüências do alcoolismo. O consumo exagerado de bebidas alcoólicas provoca a perda de apetite, acarretando graves problemas no aparelho digestivo. Esta não é uma doença propriamente dita, ´mas sim um sintoma do alcoolismo, e tem como tratamento o mesmo que seria dado a qualquer outro alcoólatra.

A professora Magda Vaissman, do Instituto de Psicologia da UFRJ e chefe do departamento de Dependência Química da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro (APERJ) esclarece que a anorexia é a falta de apetite, um sintoma de um problema do alcoolismo em que o alcoólico vai apresentar uma carência nutricional muito forte. “Ao ingerir o álcool, o alcoólico substitui a comida e seus nutrientes, agride todos os órgãos do aparelho digestivo, do esôfago ao intestino”.

A perda de apetite seria uma das outras muitas conseqüências da ingestão de álcool, como esofagite, gastrite hemorrágica, hepatite alcoólica, varizes e hemorragias, carência de absorção das vitaminas do complexo B que pode evoluir para uma pelagra, diabetes secundária pela interrupção da produção de insulina e inibição da absorção de outras vitaminas que aumentam a excreção. Além do desenvolvimento de anemia macrocítica, na qual os glóbulos vermelhos, células responsáveis pelo transporte do oxigênio no sangue, aumentam para um tamanho maior que o normal. Anorexia alcoólica, portanto, não seria o termo adequado para nomear o distúrbio, pois não é possível um anoréxico se tornar alcoólatra posteriormente.

— A anorexia alcoólica na verdade não é uma anorexia. É apenas um sintoma de uma deficiência metabólica que o álcool causa. Por isso o alcoólatra já em um estado grave é um sujeito magro, só se alimenta de álcool, deixa de comer — explica a professora que também trabalha no Hospital Escola São Francisco de Assis, da UFRJ.

As causas do alcoolismo estão associadas ao padrão estrutural familiar e ao ambiente de trabalho, por exemplo. A desestruturação dessas bases de convivência propicia o consumo de álcool. Contudo, isso não é uma regra. Há pessoas que convivem com problemas e não se rendem ao vício. Magda Vaissman afirma também que as causas podem estar relacionadas à hereditariedade.

— Famílias desestruturadas, alguns tipos de trabalho e de transtornos psiquiátricos favorecem o alcoolismo. Mas o alcoolismo tem uma base genética, pois nem todos sucumbem submetidos a essas condições. As estatísticas indicam que a maior freqüência de alcoólicos está nas famílias que têm outros alcoólicos.

A abstinência é a melhor forma de tratamento, seja ela alcançada gradativamente ou não. Abster-se do álcool exige estratégias como trabalhos de terapia de grupo, reuniões do AA (Alcoólicos Anônimos), e avaliações clínicas para medir os prejuízos orgânicos do consumo do álcool. “Como podemos constatar, a anorexia alcoólica é um sintoma que se manifesta como estágio avançado do alcoolismo. A característica principal não é a preocupação com o corpo, como acontece com pessoas com distúrbios alimentares — e comumente se pensa. A magreza é conseqüência, assim como os outros graves problemas”, conclui Magda.