• Edição 136
  • 24 de julho de 2008

Saúde e Prevenção

Na hora do pânico

Heryka Cilaberry

Tremores, sudorese e sensação de infarto, pode ser a hora de procurar um bom psiquiatra. Isso mesmo, muitas vezes confundidas com os sintomas de um ataque cardíaco, as sensações de quem sofre com o Transtorno do Pânico ou, como é popularmente conhecido, Síndrome do Pânico levam pacientes a lotar por engano o setor de cardiologia de hospitais. É o que alerta José Henrique Figueiredo, psiquiatra do Serviço de Psiquiatria Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

– A crise de pânico pode durar minutos ou até uma hora, o que tende a fazer com que a pessoa vá direto a um pronto-socorro acreditando estar infartando por conta do desconforto toráxico. Um jovem de 25 anos pode até mesmo pensar estar sofrendo do coração, ele não vê que é pouco provável um infarto em sua idade tamanho é seu sofrimento – afirma José Henrique.

Registrado com esse nome pela primeira vez, em 1980, no DSM III (Diagnostic and Statistical of Mental Disorders, 3rd Edition) pela Associação Americana de Psiquiatria, o Transtorno do Pânico não é uma enfermidade contemporânea como se costuma alegar. Segundo José Henrique, ela já havia sido descrita no século XIX por Freud e pioneiramente pelo americano Jacob Mendes da Costa, então chamada de doença do “coração irritável”, fazendo uma relação com a sensação de desconforto causada pela doença.

A Síndrome do Pânico é um transtorno de ansiedade que acontece súbita e espontaneamente, sem a necessidade de um fator que deflagre o início de suas crises. “Como se você estivesse em seu normal e de repente começasse um grau de ansiedade elevado. Assustando-se com essa ansiedade, o sistema nervoso autônomo é acionado, gerando algumas transformações orgânicas observadas através de sintomas físicos como: palpitação, ausência de fôlego, tremores, sudorese, taquicardia, sensação de asfixia e de morte iminente”, explica o psiquiatra.

Ainda que a lista de sintomas seja grande, cada pessoa sofre os efeitos de uma maneira distinta. Contudo, para ser diagnosticado com segurança pelo psiquiatra como vítima da síndrome, o paciente precisa apresentar pelo menos quatro sintomas e ter uma crise por semana durante três semanas consecutivas. É uma maneira do especialista se certificar de não estar confundindo momentos de ansiedade um pouco mais elevada, derivados de uma situação isolada com Transtorno do Pânico.

– É necessário ter tranqüilidade e delicadeza para discriminar bem os sintomas e chegar a um diagnóstico corretamente, porque a partir do momento em que a gente diagnostica a síndrome do pânico é como se colássemos um rótulo na testa do paciente, que ele não só aceita, mas também ajuda a colar direitinho para viver em função daquilo. Comenta em casa e com as pessoas do trabalho e, principalmente, aceita o “estigma” e até a possibilidade de tratamento e de cura fica mais remota porque ela se concebe doente – alerta o especialista.

Ainda que a mídia leiga tenha contribuído na divulgação da Síndrome do Pânico, o maior empecilho para quem busca a cura para o transtorno é não se convencer vítima da doença. A conseqüência dessa negação é o início de uma busca desenfreada por médicos que acredita capazes de resolver o problema.

– Quando uma pessoa passa por um cardiologista, faz um eletrocardiograma e o médico não encontra nada e a aconselha buscar um psiquiatra. Ela não procura. Quando volta a ter a crise, busca outro cardiologista que vai fazer o mesmo procedimento e não vai encontrar nada. Até chegar ao psiquiatra, às vezes, a pessoa tem um caminho longo, passa por três, quatro ou mesmo cinco médicos. Desde o clínico do pronto-socorro, o cardiologista, o médico da família até alguém finalmente conseguir persuadi-la a procurar o especialista –,  conta José Henrique.

Finalmente, convencido a buscar ajuda do psiquiatra, o paciente vai receber o tratamento adequado. Mas é preciso alertar, que o tratamento de quem sofre com o Transtorno do Pânico tem uma taxa de cura muito baixa. Há, entretanto, diversos casos de pessoas que ficam completamente controladas por uma associação entre medicamentos e psicoterapia.

Tratamento

– O paciente é medicado com ansiolíticos, tranqüilizantes ou, na linguagem leiga, calmantes como o diazepan e alprazolan, que já provaram ser eficientes. Como a pessoa que sofre com a síndrome passa viver sempre imaginando quando vai ser a próxima crise, ela fica mais abatida, mais acabrunhada, às vezes uma pessoa que sempre foi descontraída, perde a descontração chegando a mudar o estado de humor, havendo a necessidade de tomar antidepressivos. Porém, nem todos os pacientes usam dois medicamentos, muitos usam só o ansiolítico e ficam bem –, relata o especialista.

Reconhecer a própria doença e, conseqüentemente, conseguir detectar os primeiros sintomas do ataque de pânico é fundamental para o tratamento. Isso porque os remédios podem ser tomados durante a crise, existem inclusive sublinguais no mercado que agem mais rapidamente.

Levar a família para o consultório é também um importante passo no tratamento da doença, já que essa precisa estar consciente sobre os aspectos da síndrome para fornecer total apoio ao paciente e em momentos de crise ter a delicadeza para prestar auxílio.

– O papel da família é fundamental, ela deve ser compreensiva e para isso é necessário que o paciente leve a família ao seu psiquiatra pelo menos uma vez, para que ela entenda o que ele está passando. Algumas famílias costumam achar a Síndrome do Pânico um “fricote”, principalmente quando se trata de um jovem que está levando a vida muito blasée, costumam achar que o comportamento é uma reação às responsabilidades –, finaliza o psiquiatra.