• Edição 134
  • 10 de julho de 2008

Ciência e Vida

Estudo de novos fármacos contra leishmaniose

Priscila Biancovilli

Desconhecida e traiçoeira. Estas são as características da Leishmaniose, doença que afeta entre 1,5 e 2 milhões de pessoas anualmente no mundo todo, e é considerada endêmica em 88 países tropicais e subtropicais – inclusive o Brasil. Apesar da pouca fama, sua força de disseminação não é nada insignificante. Aqui, a doença atinge cerca de 4 mil pessoas por ano - grande parte na região Nordeste – sendo mortal em 5% a 10% dos casos.

A pesquisadora do Laboratório de Quimioterapia Experimental para Leishmaniose, do Instituto de Microbiologia da UFRJ, estuda o desenvolvimento de novos medicamentos fitoterápicos contra este mal. “Dentre os tipos de leishmaniose temos a tegumentar, que causa feridas na pele, o que pode fazer com que os pacientes confundam com outras doenças e não busquem o tratamento correto e a visceral ou calazar, que é mais preocupante,  pois ataca as vísceras, causando aumento de fígado e baço, por exemplo”, explica  a Dra. Maria do Socorro Carvalho, Coordenadora do Laboratório.

Fitoterápicos

As plantas medicinais são usadas já há muitas centenas de anos por populações ancestrais, como por exemplo os indígenas e quilombolas brasileiros. A pesquisa deste grupo analisa extratos de diversas plantas, descobre seu princípio ativo e promove a interação desta substância com a leishmania. “Caso exista alguma ação, observamos se ela é benéfica, e se conseguimos debelar a infecção com este fitoterápico. Algumas destas substâncias trouxeram resultados promissores”, comemora a professora. Dentre estas, destacam-se o Ocimum basilicum, Ocimum gratissimum, Cocos nucifera e o Croton cajucara. Esta última apresentou a melhor resposta à doença, por necessitar de doses menores para surtir os efeitos desejados.

“A leishmania é um protozoário muito resistente. O flebótomo (inseto hematófago que transmite a doença) infecta o ser humano com a Leishmania, que ataca diretamente os macrófagos - células de defesa do organismo que são hospedeiras do protozoário. Dentro deles, o parasita se multiplica, rompendo a célula e infectando outros macrófagos, ” explica  Maria do Socorro.

Os medicamentos atualmente ministrados em portadores da doença trazem efeitos colaterais severos, por sua alta toxicidade. Além disso, não podem ser encontrados facilmente em qualquer farmácia, tendo que recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS). “A pessoa com leishmaniose deve ser tratada corretamente em um Centro de Doenças Infecciosas. Este tipo de diagnóstico e tratamento não é rotina de hospitais particulares”, lamenta a professora. O objetivo maior do laboratório é encontrar uma opção de tratamento menos tóxica para o ser humano.

Experimentos

Os experimentos acontecem em duas etapas: primeiro a parte in vitro (em meio de cultura), seguida pela in vivo, com camundongos. “Primeiro extraímos o macrófago da  cavidade abdominal do camundongo. Ambos, parasitas e macrófagos, são tratados ou não com diferentes concentrações dos compostos antes do ensaio de interação macrófago-parasita. Na segunda parte, infectamos o camundongo com a Leishmania. Por possuir o sistema imunológico muito semelhante ao dos seres humanos, são os animais mais adequados para este teste. Após a infecção, tratamos o animal com o fitoterápico. Durante 120 dias, observamos se a doença tende a regredir ou não. Porém, caso o resultado in vitro seja positivo, as chances de os testes in vivo também surtirem efeitos similares são muito promissoras”, explica a professora.

Ainda não há previsão de chegada destes novos fármacos nas prateleiras das farmácias. Em um segundo momento, a indústria farmacêutica deve realizar mais uma bateria de testes com estas substâncias, para comprovar sua maior eficiência em relação aos medicamentos atuais.