• Edição 130
  • 12 de junho de 2008

Notícias da Semana

Tratamentos contra o tabagismo: verdades e mitos

Cinthia Pascueto - AgN/PV

O Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da UFRJ discutiu na última sexta-feira, dia 6 de junho, a eficácia de tratamentos contra o tabagismo. A convidada para a palestra, Analice Gigliotti, presidente da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (ABEAD) e chefe do setor de dependência química da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), apresentou uma análise de diversos medicamentos e técnicas utilizadas no tratamento de pessoas que desejam parar de fumar.

Analice explica que o cigarro, assim como qualquer dependência química, deve ser tratado de forma multidisciplinar, oferecendo ao paciente o auxílio de medicamentos e apoio psicológico. “Ao final de seis meses de abstinência, as chances de um fumante interromper esse hábito, sem esse apoio profissional, são de apenas 3%”, destaca a especialista.

A médica revela ainda que existem três etapas no tratamento do tabagismo: argüir (perguntar ao paciente se ele fuma), aconselhar brevemente e auxiliar na cessação do tabagismo. “Se a resposta à primeira etapa for positiva, o médico deve ser bastante direto em seu conselho, afirmando a necessidade do paciente parar de fumar e colocando-se à disposição caso ele aceite o alerta”, recomenda Analice, lembrando que no terceiro passo, o médico deve orientar o paciente a marcar uma data para parar de fumar, alerta-lo sobre a síndrome de abstinência (que pode apresentar quadros de ansiedade, estresse, entre outros), prescrever medicações de apoio e rever experiências anteriores que obtiveram sucesso, apresentando o caso de ex-fumantes, e mantendo contato constante com o paciente.

- O processo de cessação do tabagismo com suporte médico apresenta resultados positivos. As consultas devem ser marcadas a cada semana ou quinzena e, no caso do paciente ter problemas psiquiátricos, essa freqüência deve aumentar de uma a duas vezes por semana – orienta a médica, lembrando que é importante rever progressos e dificuldades, que congratule o paciente pelos sucessos e verifique se houve lapsos ou recaídas. “As recaídas não devem ser vistas como um fracasso. Elas fazem parte do tratamento e podem acontecer outras vezes até a cessação”, explica Analice.

Entre os tratamentos medicamentosos existem terapias de reposição de nicotina, com adesivos, sprays nasais e gomas de mascar, além da recomendação de antidepressivos e agonistas parciais, medicação que induz o fumante a não sentir mais prazer no ato de fumar. “A eficácia da reposição de nicotina está associada à rapidez com que a substância chega na corrente sanguínea. Apesar do risco de vício, este é mínimo perto dos problemas causados pelo uso do cigarro”, defende a médica. Analice destaca ainda que o uso paralelo de antidepressivos e da terapia de reposição da nicotina aumenta consideravelmente as chances do paciente abster-se do cigarro.

Outras medicações e técnicas ainda são estudadas no controle do tabagismo, como a prática do exercício físico e programas de terapia em grupo. “O Quit and Win é uma técnica de compensação, em que o ex-fumante é premiado ou punido de acordo com o seu desempenho em parar de fumar. Do mesmo modo, o exercício físico surte efeitos em alguns casos”, conta Analice, enumerando técnicas que não apresentam relações com o combate ao tabagismo. “Acupuntura, terapia à laser e hipnose não funcionam nesse caso”.

Por fim, Analice alerta que quanto antes a pessoa começa a fumar, maiores são as chances de desenvolver transtornos psicológicos, como a depressão. Além disso, o índice de pessoas com doenças mentais que fumam é maior que a porcentagem de fumantes na população em geral, uma vez que as chances de o paciente mental parar de fumar surgem apenas se ele estiver estabilizado. “O maior problema para eles pararem de fumar é a falta de auto-estima e confiança, que o profissional de saúde, portanto, deve incentivá-lo a ter”, orienta a médica, que afirma: “A dependência de nicotina é o transtorno mental mais prevalente, mais letal e um dos mais tratáveis”, conclui a especialista.