• Edição 129
  • 05 de junho de 2008

Saúde e Prevenção

Soluço pode indicar doenças graves

Marcello Henrique Corrêa

Não chega a ser uma doença em si, e não causa dor, na maioria dos casos, mas há de se admitir que o incômodo causado pelo soluço é capaz de gerar sérios transtornos para quem tem crises, especialmente quando o sintoma perdura. Apesar de ser fácil identificar os espasmos, as reais causas para esses estranhos movimentos do corpo não são de conhecimento geral. Afinal, o que é o soluço? Que processos do organismo desencadeiam os bruscos movimentos?

Quem responde a essas e outras perguntas é Eponina Lemme, chefe do ambulatório de Esôfago do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. “O soluço é a resultante de uma contração espasmódica do diafragma e dos músculos intercostais em séries irregulares, acompanhados de fechamento da glote”, explica a professora. Segundo ela, esses músculos se localizam entre as costelas e o movimento é mediado por ramos sensitivos do nervo frênico (que inerva o diafragma), o simpático dorsal e o nervo vago.

Causas

O soluço pode ser um sintoma para muitos problemas. “As causas mais freqüentes são as que resultam em irritação dos nervos frênico e vago, como por exemplo, esofagite de refluxo ou simplesmente refluxo gastroesofágico”, aponta a professora.

Os motivos para o soluço, porém, não se limitam a esses. De acordo com Eponina, manipulação intra-operatória e doenças do sistema nervoso central, como traumatismo de crânio, esclerose múltipla e encefalite aumentam a lista. “Além disso, doenças do tórax (pleurite, aneurisma, tumores) e fatores psicogênicos (ansiedade e stress) também são fatores freqüentes”, acrescenta a médica.

Apesar de poder estar relacionado a doenças graves, Eponina Lemme destaca que, até certo ponto, o soluço é considerado normal. “É relativamente comum que ele ocorra esporadicamente, principalmente após refeições volumosas, ingestão de bebidas alcoólicas”, explica. O tempo de duração está diretamente relacionado à gravidade do problema. “O soluço que dura até 48 horas é considerado agudo, se dura mais de 48 horas é soluço persistente e se durar mais de dois meses, é soluço intratável”, explica a professora.

O drama de soluçar sem parar por muito tempo foi vivido ano passado pela jovem norte-americana Jeniffer Mee. O caso teve grande destaque, principalmente na Internet, e a menina ficou conhecida como “hiccup girl” (garota soluço). Ela ficou por mais de cinco semanas soluçando ininterruptamente. A professora, que não analisou profundamente o caso, preferiu não opinar sobre as possíveis causas de um soluço tão persistente, mas lembrou que, mais importante que o tempo de duração do soluço, é importante avaliar o quanto o problema está perturbando o paciente.

Tratamento e prevenção

Eponina Lemme destaca mais uma vez a importância de buscar a causa para considerar o tratamento, entretanto, algumas medidas podem ser tomadas para interromper ou atenuar os efeitos dos espasmos. “Entre as manobras, a que costuma interromper o soluço ou espaçar os episódios é a chamada manobra de Valsalva, que consiste em soprar contra resistência, por exemplo, sobre o dorso da mão”, orienta a gastroenterologista.

De qualquer forma, a professora ressalta que casos mais difíceis são também mais raros. “Na maioria dos casos, o soluço desaparece espontaneamente. Em caso de soluços persistentes ou intratáveis, é importante se inteirar da causa, por meio de consulta clinica e combatê-lo”, conclui.