• Edição 125
  • 08 de maio de 2008

Medicina 200 anos

Faculdade de Medicina: os primeiros passos

Marcello Corrêa e Seiji Nomura

Na primeira matéria da série de reportagens sobre os 200 anos da Faculdade de Medicina da UFRJ, o Olhar Vital mostrou como era a Medicina antes da criação de um Ensino Superior. O leitor pôde saber um pouco mais sobre figuras como parteiras, curandeiros e barbeiros sangradores, responsáveis pelo exercício de atividades relacionadas à saúde até o início do século XIX.

Apesar de, por um bom tempo, essas funções consideradas mais populares terem convivido com o Ensino Superior, a História mostra que, aos poucos, o padrão universitário se consolidou e passou a ocupar o lugar de legitimidade da área de saúde no Brasil. Nesse contexto, a Faculdade de Medicina (FM) da UFRJ desempenhou papel de destaque na transição e institucionalização do exercício médico no país.

Como começou

Para dar início a essa história, em 1808, com a chegada da família real ao Brasil, D. João determina por Carta Régia a criação da então Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia. Para Diana Maul, professora da Faculdade de Medicina, isso demonstra o interesse do Estado na criação de um Ensino Superior, diferente dos EUA, por exemplo, onde essa área da educação sempre foi caracterizada pela presença da iniciativa privada.

— No Brasil, o Ensino Superior é um investimento de Estado. Só existiram duas escolas até o final do século XIX (no final deste século é criada a Escola Médica de Porto Alegre) e as duas recebiam fortes investimentos, além de terem sido criadas sob forte influência do Estado —, analisa Maul.

A segunda Escola a que Diana Maul se refere é a Faculdade de Medicina da Bahia, também criada em 1808, com a chegada da corte portuguesa. De acordo com a professora, a relação entre as duas Escolas sempre foi bastante produtiva. “As duas representavam investimentos importantes para o Estado. Possivelmente a do Rio de Janeiro, como era a Escola de Medicina da Corte, recebia um maior destaque, provavelmente, no que diz respeito a acesso a verba para pesquisas”, comentou ela, reforçando que o intercâmbio entre alunos sempre foi bastante expressivo.

Onde começou

A partir de sua criação, portanto, nesse primeiro momento, a Escola fica instalada no Hospital Militar, no morro do Castelo. Esse período durou até 1856, quando a Faculdade de Medicina (já com esse nome desde 1832) desce do Morro do Castelo e passa a se instalar em um prédio anexo à Santa Casa de Misericórdia.

Diana Maul lembra que, nessa época, a Faculdade de Medicina já oferecia dois cursos além do de Medicina: Farmácia e Obstetrícia. “O de Obstetrícia, contudo, desaparece. Era um curso voltado só para mulheres e formava parteiras. Desde esse período, o curso tinha poucas alunas (cerca de duas por ano)”, completa a médica.

A universidade

Dois anos depois da criação de seu prédio próprio na Praia Vermelha, a Faculdade de Medicina integra a primeira Universidade do país. Em 1920, a FM se une à Escola Politécnica (hoje correspondente aos cursos de Engenharia da UFRJ) e à Faculdade de Direito (hoje da UFRJ). Nascia, dessa forma, a Universidade do Rio de Janeiro, na época, Universidade do Brasil.

Esse modelo, segundo Diana Maul, foi contestado fortemente por muitos autores. “A discussão de ter uma Universidade aqui é antiga. Remete ao século XIX. As propostas eram muito combatidas principalmente pelos positivistas, que as consideravam ultrapassadas, arcaicas, elitistas”, afirma a professora, lembrando que o modelo foi adotado a partir de uma tendência dos países de maior projeção internacional em organizar o Ensino Superior dessa maneira.

Influência externa

Dessa forma, o padrão internacional foi determinante na articulação da Educação Superior no país. Para Diana Maul, a Faculdade de Medicina e, portanto, o Ensino Superior brasileiro como um todo, tem, de maneira geral, uma intensa influência externa em sua origem. “Temos, desde essa época, um padrão internacional de ensino. É feito um investimento enorme na construção de laboratórios, equipamentos, pesquisas. Além disso, era comum que muitos daqui fossem enviados à Europa”, destaca a professora, citando como exemplo uma carta que consta nos documentos históricos e é assinada por Louis Pasteur, falando sobre a recepção dos alunos brasileiros na Universidade de Paris.

Segundo Diana Maul, o diálogo com instituições estrangeiras e a influência que estas desempenhavam no Ensino Superior sempre foi bastante forte, mudando o eixo apenas em meados do século XX, quando a Europa deixa de ser o foco das atenções mundiais, dando lugar aos EUA. Esse diálogo, entretanto, foi responsável pela criação de uma Instituição de padrão internacional e de qualidade, de acordo com a análise da especialista.

Conheça mais sobre a história da Faculdade de Medicina e de sua atuação nos problemas do Brasil clicando aqui e nas próximas edições mensais do especial Medicina 200 anos, do Olhar Vital.