• Edição 125
  • 08 de maio de 2008

Por uma boa causa

Cáries além da boca

Jefferson Carrasco

O Por uma boa causa deste mês aborda a saúde bucal, algo além dos dentes perfeitos e das gengivas saudáveis. Uma boca saudável é aquela sem doença como cárie e ou periodontite, sem feridas ou manchas, de bom hálito, que proporcione boa mastigação, deglutição e comunicação, além de ser esteticamente agradável.

Um dos problemas mais recorrentes e comuns relacionados à falta de saúde bucal é a cárie, uma doença infecciosa, com a ação de bactérias e que, segundo especialistas, causada por vários fatores. “É considerada multifatorial porque, no passado, se dizia que a cárie era relacionada à dieta (açúcares), às bactérias e ao meio bucal (hospedeiro). Hoje, porém, se associa a diversos fatores, como social, ambiental e até cultural”, explica Maria do Céu, professora do Setor de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia da  UFRJ.

Com a presença do açúcar - o que torna o meio permissivo - a bactéria metaboliza esta sobra alimentar e desmineraliza (descalcifica) o esmalte do dente.  Se nada for feito, no estágio seguinte, com este tecido vulnerável ao ataque do agente causador da cárie, é gerada uma cavidade, chamada lesão cariosa.

Perigo

- A cárie, quando não tratada, se aprofunda. Do esmalte para um tecido com maior sensibilidade, denominado dentina, o qual produz, por exemplo, incômodos com água gelada e, por fim, à polpa - o tecido mais interno, envolto por vasos sanguíneos e nervos – aponta a professora.

O último tecido, a polpa, acometido pela cárie, necessita de um tratamento popularmente conhecido como canal. Porém, há a possibilidade de as bactérias produzirem uma inflamação ou uma infecção neste tecido, provocando dores fortes e a contaminação da corrente sanguínea do indivíduo.

- Nesses casos, as bactérias são levadas juntamente com o sangue para outros órgãos, ocasionando abscessos, processo inflamatório agudo com acúmulo de pus, como no cérebro, nos pulmões e, principalmente, no coração -, esclarece Maria do Céu.

A odontologia tem tido mais trabalhado, de acordo com a professora, em casos de abscessos cardíacos – especialmente com a endocardite bacteriana. Esta complicação caracteriza-se pelo comprometimento do tecido endocárdio, podendo levar a problemas em válvulas e outras partes do órgão. No Brasil, cerca de 40% dos casos da doença devido a infecções bucais.

Ações simples para evitar os transtornos

As cáries são combatidas, antes de tudo, com campanhas educativas. A professora enfatiza a relevância em engajar a população com relação à saúde bucal, transformando hábitos maléficos os quais a cultura brasileira apresenta.

- A escovação, mecanicamente, remove a placa bacteriana – agente causador da cárie -, e o flúor, presente no creme dental, auxilia na prevenção por remineralizar o esmalte ou manter o já existente. Além disso, há o fio dental, esquecido pela maioria dos brasileiros -, enumera Maria do Céu.

Levantamentos epidemiológicos de cárie no Brasil indicam uma melhora no comportamento bucal das pessoas. Em 1986, aos 12 anos, que é uma idade considerada padrão pela Organização Mundial de Saúde (OMS), havia um índice de seis dentes acometidos, número bem acima do que a OMS considera como ideal - o que seria três. Hoje, contudo, após uma atenção à educação preventiva, há uma média de 2,8.

Nesses casos de maior gravidade, o paciente, antes de ser atendido por especialistas, deve ser tratado pelo dentista, que atua, removendo a placa bacteriana e aplicando flúor, visando findar o problema no seu local de origem, ao menos.

O dentista, portanto, ao receber um paciente, tem que considerar a anamnese (entrevista para conhecer o histórico da pessoa) e o diagnóstico para, assim, interferir no hábito do paciente visando melhorar e equilibrar o meio bucal. Segundo a professora, estudos recentes descobriram que se uma criança é protegida de problemas com cáries até os quatro anos, muito provavelmente ela será um adulto sem cárie alguma.