• Edição 124
  • 30 de abril de 2008

Notícias da Semana

UFRJ apresenta recentes avanços em Alzheimer

Marcello Henrique Corrêa

Há mais de 100 anos, pesquisadores têm se desdobrado para tentar entender a doença de Alzheimer. Descrita pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer, em 1906 e foi discutida hoje, 30 de abril, durante a sessão do Centro de Estudos do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ.

Para falar sobre o assunto, Sérgio Ferreira, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), foi convidado e apresentou os mais recentes avanços no campo do diagnóstico da doença, que vem crescendo e se configurando uma causa de morte cada vez mais expressiva.

De acordo com o professor, no que diz respeito a avanços em pesquisas, até a década de 1980 não se evolui quase nada. O fato é que pouco se sabia sobre os motivos reais do desenvolvimento do Alzheimer e outras doenças. Por exemplo, o termo “esclerosado”, popularmente usado para se referir aos efeitos de demência em idosos, remonta a uma causa vascular, que corresponde à minoria das causas desse tipo de distúrbio, conforme explicou o especialista.

Segundo Sérgio Ferreira, o grupo de pesquisas de que participa estuda diversas doenças que, a princípio, parecem muito distintas. Muitas são do sistema nervoso, como a própria doença de Alzheimer, a doença de Parkinson e doenças de príon. Outras são de sistemas diferentes, como o diabetes tipo 2.

Classificadas como doenças amiloidogênicas, conforme explica o professor. “Essas doenças tem bastante a ver do ponto de vista da patogênese. Em todas elas, existem proteínas ou peptídeos que formam agregados desse tipo, criando uma rede de filamentes que se depositam nos tecidos encontrados em exames específicos”, detalhou o professor.

Diagnóstico e epidemiologia

Sérgio Ferreira lembrou que, quando Alzheimer conseguiu descrever a doença, só o fez a partir da análise do cérebro de uma paciente que havia acompanhado por cinco anos. Quando ela faleceu, o cientista alemão teve acesso a seu cérebro. “Interessante ressaltar que, até hoje, esse é o único instrumento de diagnóstico decisivo para identificar doença de Alzheimer. A única maneira de diagnosticar a doença claramente de pos-morten”, destacou o pesquisador.

No que diz respeito à epidemiologia, a doença apresenta um grupo de risco muito bem definido: os idosos. Segundo o professor, aos 85 anos, a chance de um indivíduo desenvolver a doença é de cerca 30%. “Além disso, a projeção é explosiva. As curvas de crescimento apontam que, daqui a 20 ou 30 anos, os pacientes de Alzheimer somarão mais de 10 milhões no mundo inteiro”, acrescenta o cientista.

No Brasil, temos hoje cerca de 800 mil e a previsão é aumentar, em função do envelhecimento da população. “Em breve, até 2025, vamos ter cerca de 34 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, se o aumento da expectativa de vida se confirmar. Considerando que 5% desses desenvolvam a doença de Alzheimer, o número já será bastante expressivo”, avaliou o professor.

Sérgio Ferreira comparou essa projeção a problemas enfrentados com doenças infecciosas e parasitárias, como é o caso da dengue. “Seria uma epidemia de proporções aterradoras. Comparando-se aos 100 mil casos de dengue desse ano, multipliquemos por umas 10 vezes. Esse seria o tamanho do problema que teríamos”, analisou o professor.

Ele ressaltou que não é o caso para negligenciar as doenças infecciosas, mas é preciso se dedicar à pesquisas em doenças neurodegenerativas. “Entretanto, para uma doença desse tipo, não há saneamento público que resolva. Nesse caso, é necessário realmente entender o que está se passando nos cérebros dos pacientes e tentar desenvolver novas terapias”, completou Sérgio Ferreira, que apresentou a residentes e alunos da Faculdade de Medicina os detalhes da terapêutica da doença de Alzheimer.


Programa de Saúde da População Negra visa conscientização


Jefferson Carrasco

O Programa de Saúde da População Negra vem se afirmando enquanto projeto dentro do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Na última segunda-feira, dia 28, em uma reunião com os coordenadores, idéias, objetivos e perspectivas foram explicados, traçando o perfil do grupo responsável pela proposição.

- É um trabalho como o da cartilha de direitos do paciente. A gente está começando a desbravar essa discussão sobre a saúde da população negra e, embora seja um projeto novo, o assunto já circula pelos ambientes de saúde há um tempo -, afirma Maria da Conceição Buarque, coordenadora da Coordenação de Políticas Institucionais de Humanização do HUCFF.

Segundo o grupo, há algumas patologias, cuja incidência é maior na população negra e é necessário alerta e transmissão de informação a respeito dessas doenças para que o médico siga um tratamento adequado e o paciente saiba da sua própria estrutura fisiológica. “Nos EUA, por exemplo, há uma relevante ação educativa voltada para a mulher negra, através de campanhas publicitárias e educativas”, informa a coordenadora.

Uma dessas enfermidades é a anemia falciforme, que se caracteriza por ser hereditária e causar a má formação das hemácias, que assumem a forma de foice. Então, por apresentar esse formato, nos pequenos vasos ou nas dobras, as hemácias se aglutinam, podendo gerar inchaço e problemas no baço ou nos rins. O paciente, assim, precisa tomar muito liquido sempre e, logicamente, nascendo com a doença, a pessoa precisa conhecer a patologia e seu tratamento.

De acordo com Luciene Lacerda, pesquisadora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), o programa trata de algo tão específico - saúde da população negra -, primeiramente, porque a metade da população nacional é constituída de negros; e o atendimento é diferenciado entre as raças, por haver uma credibilidade errônea (herança de um passado histórico da raça) de que as pessoas negras são mais resistentes. Dessa forma, há a preocupação em transportar essa discussão para dentro da Instituição acadêmica.

A organização frisa que não há, em primeira instância, uma questão política, mas um interesse científico-social. “É um assunto que se embaralha muito e não possui uma rápida adesão, por as pessoas logo relacionarem às questões de cotas, com possíveis privilégios aos pacientes negros em exames e atendimentos – o que não é o nosso intento”, aponta Luciene.

Para maior alcance do programa, os coordenadores objetivam a utilização de um site, como forma de veicular idéias e gerar debate em fóruns, além de já terem atuação agendada para a Semana de Saúde Coletiva, com mesa redonda e oficina, que acontece em  maio, constituídos de mostras de vídeos e distribuição de material de divulgação de doenças.