• Edição 123
  • 24 de abril de 2008

Saúde e Prevenção

Equipe de enfermagem essencial na prevenção

Jefferson Carrasco

Quem nunca deu a devida atenção ao profissional da área de enfermagem, após este “Saúde e Prevenção”, possivelmente irá valorizar, e muito, o fundamental trabalho dessas pessoas que circulam entre os leitos dos doentes, atendendo-lhes em todo o tipo de cuidado necessário.

Nesta semana, esta editoria discute a úlcera de pressão, também conhecida como úlcera de decúbito, enfermidade intimamente relacionada à estabilidade e imobilidade do corpo. “As lesões ocorrem principalmente em regiões de proeminência óssea - locais onde o osso é mais protuberante - como a região sacra (acima do cóccix), nádegas, cotovelos e tornozelos, por exemplo. São regiões de atrito com a superfície, quando o paciente está em uma situação imobilizadora”, explica Sueli Carneiro, professora doutora em dermatologia e subchefe da Seção do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

Quando um indivíduo encontra-se nesta situação de imobilização, as regiões de erupção óssea produzem uma pressão prolongada, provocando atrito suficiente com a superfície sobre a qual elas se encontram, levando à isquemia (carência de suprimento sanguíneo) do tecido e, progressivamente, à úlcera.

Em primeira instância, brotam manchas na pele, chamadas eritemas, quando podem acontecer mudanças de temperatura e alteração da consistência do tecido, endurecendo ou amolecendo-o. A denominada segunda fase da doença é caracterizada por perda parcial das camadas da pele, enquanto a terceira, por danos em toda a espessura da pele, envolvendo necrose (morte) do tecido subcutâneo. No último estágio da úlcera, a destruição estende-se, alcança músculos, ossos e outras estruturas de suporte como articulações e tendões; nesta fase a necrose é capaz de formar a escara – uma camada enegrecida. Outra complicação neste quarto estágio seria uma infecção secundária por bactérias, que podem afetar a corrente sangüínea (septicemia).

Os alvos da úlcera de pressão

Engana-se quem pensa que apenas por razões de impossibilidade física, conseqüência de alguma situação traumática, as pessoas estão propensas à úlcera, pela imobilização. “O paciente pode ficar acamado ou sentado por muito tempo na mesma posição, devido a um período pós-cirurgia ortopédica ou devido à ocorrência de uma fratura na perna”, indica a dermatologista.

- Porém – lembra Sueli Carneiro - há outro grupo de pessoas também passível de ser acamado, que não por um caso pós-traumático. Idosos, desnutridos e demenciados, são indivíduos que, em alguns casos, possuem restrições graves e, até, estejam inaptos para locomoção.

Entretanto, há ainda aqueles que são candidatos ao aparecimento precoce da doença. Em casos de imobilização de diabéticos, fumantes ou alcoólatras, há um maior grau de seriedade, uma vez que os vasos capilares desses pacientes já são sofridos.

O significado da enfermaria

A prevenção da úlcera de pressão não só é possível, como acontece de fato em muitos hospitais. Para tanto, são necessários infra-estrutura de qualidade e um eficiente quadro de enfermagem. “Com uma equipe de saúde bem entrosada, a úlcera de pressão não é freqüente, porque este grupo se preocupa em evitar logo o primeiro estágio, o da vermelhidão da pele”, aponta a dermatologista.

A partir da contração das manchas na pele, designando o início da úlcera, os enfermeiros têm de manter a atenção redobrada em cada paciente, visando, concomitantemente, o tratamento do estágio em que a enfermidade se apresenta e prevenindo a evolução do quadro.

A principal indicação é a mudança de decúbito a cada uma ou duas horas, evitando a manutenção e durabilidade do atrito. Outras medidas auxiliares são a constante higienização de pacientes que defecam e urinam no leito; a hidratação da pele; e a utilização de colchões tipo “casca de ovo” ou de água – para manter a instabilidade do corpo e evitar a pressão continuada.

- Com relação à limpeza da pele, usa-se bastante emolientes, óleos com substâncias que reproduzem o manto lipídico da pele. Utilizados nas fases inicias da úlcera de pressão, auxiliam na manter a resistência da própria pele -, finaliza Sueli Carneiro.