• Edição 123
  • 24 de abril de 2008

Argumento

Recertificação para hospital da UFRJ

Tatiane Leal

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) passou, recentemente, pelo processo de recertificação, previsto pelo Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino, dos Ministérios da Saúde e da Educação. Em 2004, ocasião do lançamento do programa, o HUCFF foi certificado como um hospital de ensino. Agora, nos últimos dias 3 e 4 de abril, o hospital recebeu a visita da comissão para recertificação, prática periódica, necessária para que os hospitais universitários sejam avaliados em metas e condições de trabalho e ensino.

A comissão, integrada por representantes do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação e das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, percorreu o caminho de um paciente do hospital, visitando ambulatórios, laboratórios e outras dependências. Além disso, foram realizadas reuniões com a diretoria, com os professores, com as comissões existentes no hospital (como a de Ética e a de Infecção Hospitalar) e, também, com os alunos e residentes, reunião que foi considerada bastante proveitosa para entender o funcionamento do Hospital Universitário.

A unidade conseguiu a aprovação da comissão e agora espera o anúncio oficial da recertificação. “Nós conseguimos, pelos critérios estabelecidos pela própria comissão certificadora, atender àquilo que foi pactuado em 2004. Nós temos todas as comissões necessárias ao funcionamento do hospital e preenchemos todos os quesitos. Conseguimos cumprir as metas, com muito sacrifício”, afirmou o professor Alexandre Pinto Cardoso, diretor do hospital. Essas metas dizem respeito a três âmbitos que um hospital universitário deve contemplar: assistência, ensino e pesquisa.

As assessoras de planejamento do HUCFF Lissandra Andion de Oliveira e Ariane Fontes dos Santos ressaltaram que o hospital foi reconhecido como uma estrutura viva: “Eles reconheceram o engajamento de nossos profissionais e o forte potencial do hospital, que foi caracterizado como uma estrutura em efervescência.” Essa vivacidade torna-se aparente nos projetos de pesquisa desenvolvidos pelo HUCFF, muitas vezes revolucionários.

- Nós temos os melhores cursos da área médica do país. A formação desses meninos se faz aqui dentro do HUCFF. Dos hospitais universitários, o nosso é o que tem uma produção científica maior, não só quantitativa, mas também qualitativa. Existem mais de 300 procedimentos de pesquisa aqui dentro, como foi visto pela comissão recertificadora - explica Alexandre.

Entretanto, foi sinalizada uma carência na área acadêmica. É ainda restrita a presença de professores das faculdades de medicina e enfermagem, entre outras, nos ambientes de ensino e pesquisa do hospital. O diretor esclareceu que, em grande parte das vezes, quem faz o trabalho de supervisão dos alunos nas enfermarias, no centro cirúrgico e nos laboratórios são os médicos contratados pelo hospital. “Na clínica médica, por exemplo, 70 a 80% das supervisões das atividades assistenciais nas enfermarias são feitas por médicos”, exemplificou o Alexandre. Lissandra Andion e Ariane Fontes ressaltaram ainda que essa é uma queixa freqüente dos próprios alunos, que mostraram essa carência aos recertificadores.

As assessoras de planejamento ponderaram que o critério de remuneração do MEC é voltado para a quantidade e qualidade de publicações feitas pelo professor, que precisa dedicar seu tempo à pesquisa. “Muitas vezes, ele faz isso ou dá assistência ao aluno”, dizem as assessoras. O diretor do HUCFF defendeu a realização de concursos para professores, bem como para médicos, e também disse que a mudança desse paradigma depende não só do hospital, mas das próprias faculdades.

O cumprimento das metas e o potencial de produção são vitórias do HUCFF, mas é preciso que atitudes sejam tomadas para a melhoria das instalações. “Foi constatado que os recursos financeiros pactuados em 2004 estão absolutamente defasados. Além disso, a nossa situação de infra-estrutura foi mostrada. Eles viram os nossos equipamentos, aquilo que conseguimos fazer nesses anos e aquilo que precisamos fazer. O HUCFF precisa de um forte investimento em infra-estrutura, afirmou Alexandre, e defendeu também que “diante dessas constatações, seria importante que a Reitoria da Universidade, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde investissem pesadamente na capacidade instalada”.

Lissandra Andion e Ariane Fontes lembraram também que o HUCFF não deve ficar restrito ao município, sendo muito importante o diálogo com as instâncias estaduais e federais. “O HUCFF é habilitado para atender casos de complexidade maior, por ser um local de produção do conhecimento. Por isso, pode atender casos complexos também do estado e até em âmbito nacional, será depender apenas de um redirecionamento, enquanto outros casos podem ser direcionados a outras unidades”, concluem as assessoras.