• Edição 120
  • 3 de abril de 2008

Por uma boa causa

Dengue em foco

Marcello Henrique Corrêa

Mais de 57 mil casos confirmados e 67 mortes. Esses são os números da epidemia de dengue que castiga a população fluminense nesse verão. Só na capital do Estado, mais de 36 mil casos foram confirmados até agora. Entretanto, segundo especialistas, ainda faltam orientações e informações mais detalhadas sobre a doença. Para esclarecer melhor os aspectos da dengue, o Por uma boa causa de abril traz os detalhes desse mal, às vezes confundido com outras enfermidades provocando um erro que pode levar até o óbito.

Tudo tem início quando o vírus, por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, invade o organismo e começa a se replicar. “Qualquer vírus necessita se replicar para manter seu ciclo de vida. Esse processo precisa ocorrer dentro das células do organismo, que apresentam o maquinário necessário para o processo”, explica Edimilson Migowski, infectologista do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG). Segundo ele, essa replicação acaba lesionando e rompendo a célula, causando sérios danos.

O principal dano causado pela replicação do vírus dentro das células, segundo o professor, é a excessiva perda de água resultante da lesão. Nesse quadro, os vasos sangüíneos aumentam a permeabilidade, permitindo a saída de líquido. Com isso, o sangue fica mais espesso e a pressão arterial cai. “A pessoa acaba evoluindo para um quadro de maior gravidade. Por isso, a maior indicação é repor líquido seja por via oral ou através de hidratação venosa, nos casos mais graves”, recomenda Migowski.

Sorotipos

Existem quatro tipos diferentes de vírus causadores da dengue. Segundo o professor, a literatura especializada indica que o sorotipo três é mais violento. Entretanto, os quatro tipos podem levar ao grau mais complexo da doença. “Quando um vírus acomete uma população exposta previamente a outros vírus, como é o caso agora, em que o tipo dois está ocorrendo em quem já foi atacado pelo tipo três, o quadro pode se tornar grave”, afirma o médico. “Uma segunda infecção por dengue, em geral, tende a ser mais grave do que a primeira”, complementa.

Outras doenças

Edimilson Migowski ressalta a importância de se diferenciar a dengue de outras doenças. Hepatite A e leptospirose são os principais motivos de confusão. “Os sinais e sintomas se parecem muito. Febre, mal-estar, dores no corpo e dor de cabeça podem ocorrer tanto na dengue, como na hepatite e na leptospirose”, exemplifica o professor. Além dos sintomas, ele lembra que as doenças têm em comum a relação direta com o crescimento urbano desordenado e acúmulo de água.

Segundo o professor, deve-se levar em conta que os mecanismos de profilaxia de cada doença diferem bastante. Enquanto uma abordagem de vacinação ataca o problema da hepatite A, o mesmo não ocorre com a dengue, em que a prevenção é no controle do mosquito, que não pode ser feito em apenas um dia. “Além disso, as abordagens terapêuticas também diferem de uma para outra”, complementa o professor.

Causas de morte

Segundo Migowski, os casos mais graves, que levam à morte, podem ser relacionados a algumas causas importantes. O choque, queda significativa da pressão arterial e a lesão no fígado são duas delas. No segundo caso, vale ressaltar a cautela necessária em relação a medicamentos como o paracetamol. “Esse fármaco tem metabolização no fígado e pode agredir mais ainda o órgão. Por isso, é preciso ser bastante criterioso na escolha do medicamento”, alertou o professor, ressaltando que nenhum medicamento foi estudado quanto à segurança e eficácia em pacientes com dengue.

A terceira grande causa de morte, segundo o médico, é o sangramento. Esse problema está diretamente ligado à queda na contagem de plaquetas – a plaquetopenia. Segundo ele, uma plaquetopenia grave, em que seja necessária uma transfusão, é algo incomum. Considerando-se que a contagem normal varia entre 150 e 300 mil, o infectologista afirma que a situação precisa estar muito crítica para exigir medidas mais drásticas. “Ninguém sangra com 90 ou 50 mil plaquetas. Para se ter sangramento, é preciso estar abaixo de 20 ou 10 mil”, informa.

Migowski alerta que a letalidade da doença é muito grave. Para quem entra em um estágio mais grave, o chamado grau quatro, a morte é praticamente inevitável. Nesse caso, cada minuto deve ser valorizado, antes que o paciente piore. “É importante dar bastante líquido, seja por via oral, seja pela veia, evitando que o paciente evolua do grau dois para o grau três ou para o quatro. Quanto mais se demora para iniciar a hidratação, mais rapidamente o paciente vai evoluir para esse quadro de gravidade e até de irreversibilidade da situação”, esclarece o pediatra.

Para o professor, a saída mais eficaz para erradicar qualquer doença é a vacinação. De acordo com Migowski, há uma perspectiva para, daqui a quatro anos, existir uma vacina eficaz contra a dengue. Entretanto, a vacina sempre pode ter contra-indicações e problemas. “A forma mais segura de evitar a dengue é combatendo o mosquito”, decreta Migowski.