• Edição 120
  • 3 de abril de 2008

Notícias da Semana

Especialistas da UFRJ discutem impactos da dengue

Marcello Henrique Corrêa

A epidemia de dengue no Rio de Janeiro já é uma realidade comprovada. Para ajudar a combater o problema, a Universidade Federal do Rio de Janeiro reuniu ontem, dia 2 de abril, especialistas que discutiram falhas na prevenção e nas ações de enfrentamento. O encontro contou com a presença dos professores Maulori Cabral, do Instituto de Microbiologia, Roberto Medronho e Diana Maul, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina, Edimilson Migowisk do Instituto de Puericultura e Pediatria Matargão Gesteira e Celso Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia.

O evento ocorreu no auditório do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), que estava lotado de médicos, estudantes da graduação e da pós-graduação da Faculdade de Medicina. Para o professor do IESC, Roberto Medronho, o combate a dengue pode ganhar o reforço de estudantes dos últimos períodos de Medicina da UFRJ. “A idéia é tentar envolver os alunos, principalmente do internato, em ações de apoio nos hospitais de campanha, a fim de  contribuirem na redução da letalidade, que está muito alta”, declarou.

Para o professor Maulori Cabral, campanhas de extermínio em massa do mosquito com auxílio de inseticidas (fumacê) não é a solução  para combater a proliferação do mosquito  Aedes aegypti. O mesmo se aplica às visitas sistemáticas de agentes de saúde aos potenciais focos. Os resultados são parciais, pois, segundo Cabral, o mosquito existe sob quatro formas: ovo, larva, pupa e mosquito (alado). Essas medidas apenas combatem duas formas. O ovo, por exemplo, pode permanecer vivo por dois anos, não sendo erradicado pelo fumacê e os larvicidas posto pelos agentes sanitários matam as larvas, deixando impunes as pupas, que mais tarde, completarão a metamorfose, transformando-se em mosquitos.

Como o mosquito é essencialmente doméstico, Maulori Cabral afirma que cada pessoa que se descuide da eliminação dos focos em sua residência tem uma responsabilidade significativa na proliferação dos insetos e, por conseguinte, da doença. Para combater o vetor em casa, o professor recomenda as medidas que suprimam do ambiente possíveis criadouros e propõe a confecção da armadilha para mosquito, a “mosquitoeira” (aprenda a fazer no site da WebTV UFRJ).

Ela ajudaria a revelar se nas redondezas há outros focos não identificados, tornando-se um instrumento auxiliar na propagação de ações de educação coletiva de erradicação da dengue.

Os presentes puderam ver o que Cabral chama de “show dos mosquitos adestrados”. A experiência faz parte do processo de identificação do Aedes aegypti, capturado com o auxílio da armadilha. Para saber se o material em questão é de fato o vetor da dengue, basta coloca-lo em contato com uma fonte de luz: se for a espécie em questão, as larvas retidas na “mosquitoeira” irão fugir imediatamente do facho de luz. O professor ressalta que essa é a única espécie que se comporta dessa maneira.

Segundo Diana Maul, a dengue veio para ficar mas há como tratá-la. “Não podemos chegar o inverno e achar que acabou. As ações precisam ser mantidas e ampliadas”, declara a professora. Para ela, a vigilância epidemiológica precisar agir prospectivamente, não se atendo as evidências já existentes. “A vigilância tem que pensar que tudo pode mudar, trabalhando, portanto, com cenários diferenciados, para que não projete no futuro, o passado já visto”.

Após assinalar que houve uma série de falhas do poder público nas ações preventivas e de tratamento à dengue, que impulsionaram o crescimento dos casos em 2008, o infectologista Edimilson Migowiski antecipa que em 2009 não haverá epidemia com essas proporções, porque as pessoas já foram afetadas com o virus. Ele sentencia, porém, que há o risco de chegada ao Rio de Janeiro do vírus tipo 4, após estimar um intervalo de três  ou quatro anos. Por isso, as ações preventivas devem ser contínuas.

Migowiski, que também é pediatra, afirma que são as crianças o grupo social mais afetado, pois nasceram depois da última epidemia onde houve a circulação do vírus tipo 2, o que põem em destaque a necessidade desse profissional na área da saúde.

No quadro atual de forte pressão sobre a área médica, o Dr. Celso Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia destacou que não se deve culpabilizar o médico pelos graves problemas de atendimento. “Não se pode esquecer que ele está na linha de frente de um sistema, que tem muitos outros componentes, com precariedade, por exemplo, na eficiência e rapidez dos exames laboratoriais, na falta de leitos hospitalares, entre outros.” Ele lembrou que não há nenhuma condição de avaliar se uma pessoa  que tenha contraído dengue venha a evoluir para um quadro hemorrágico. Quanto a buscar o apoio de profissionais de pediatria em outros estados do país, Celso Ramos salientou que mais eficiente seria acolher médicos vindos de regiões onde já foram registradas epidemias, como no caso de Fortaleza,e não do Rio Grande do Sul, como foi proposto por autoridades de saúde.