• Edição 117
  • 13 de março de 2008

Argumento

Projeto Pró-Saúde: melhorias na atenção básica da saúde

Priscila Biancovilli

Qual o primeiro lugar em que esperamos encontrar um médico, no exercício de sua profissão? Geralmente pensa-se em hospitais, clínicas ou ambulatórios. Claro, não apenas os médicos, mas todos os profissionais de saúde são fundamentais nestes ambientes. No entanto, muitas vezes se esquece que o espectro de atuação desta área vai muito além. Para evitar o aparecimento de uma doença em determinado grupo populacional, deve-se agir sobretudo na prevenção. Dizimar o problema antes de seu surgimento é fator célebre para a promoção de um sistema eficaz de saúde.

Este é um dos objetivos do Programa Pró-Saúde, que objetiva reorientar a formação do profissional desta área para que ele consiga trabalhar e produzir conhecimentos de acordo com a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o programa também oferece capacitação para aqueles que já trabalham no sistema. O Pró-Saúde foi criado em 2005, através de uma ação conjunta dos Ministérios da Educação e Saúde. Entre suas funções está minimizar o distanciamento entre os mundos acadêmico e o da prestação real de serviços. Em sua primeira edição, algumas instituições de ensino na área de Medicina, Enfermagem e Odontologia foram selecionadas. “Houve uma remodelação do currículo destes cursos, pois a maioria concentra as ciências básicas nos anos iniciais e não focam na atenção ao paciente. Esta formação gera profissionais com ótima especialização em uma área restrita, mas que apresentam dificuldades em diagnosticar problemas simples”, afirma Vera Halfoun, professora e coordenadora do Projeto de Atenção Básica em Saúde da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Saúde da Família

Dentro do Pró-Saúde, existe também a preocupação em qualificar profissionais para o projeto Saúde da Família. Surgido em 1994, no Brasil, este projeto visa implementar a atenção básica, através da assistência, promoção da saúde e prevenção de doenças. “O que é a atenção básica? Basicamente, é o ato de fazer com que determinado problema seja tratado e resolvido antes mesmo de surgir. Cerca de 95% dos problemas na saúde podem ser solucionados deste modo”, esclarece Vera.

A Saúde da Família opera através de equipes regionalizadas, (formadas por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem, um dentista, um auxiliar de consultório, um técnico de odontologia e de seis a oito agentes de saúde), que atendem entre 600 e 800 famílias. A população destes lugares é mapeada e cadastrada, e as equipes promovem visitas mensais a cada família, para verificar o surgimento de doenças e trabalhar na prevenção. “A equipe verifica o tipo de casa, a relação entre as famílias, pesa as crianças, examina os idosos, atende nos consultórios os que necessitam de consultas e faz todos os exames mais comuns”, explica a professora.

Este projeto já faz sucesso em diversos países no mundo, como Canadá e quase toda a Europa. Nestes lugares a atenção básica é uma idéia difundida há aproximadamente 30 anos, e vem obtendo sucesso. “A tendência mundial é caminhar para este tipo de organização. Além de ser um método mais barato, é muito mais eficiente. Para se ter uma idéia, a atenção básica diminui a mortalidade para todos os cânceres, prevenindo seu surgimento. Apenas não conseguimos minimizar as taxas de suicídio, mortalidade após os 80 anos ou violência externa, não relacionados à saúde”, afirma Vera. Apesar de parecer simples, existem algumas complicações. “A maior parte dos profissionais está preparada para trabalhar nas áreas secundária (atendimento ambulatorial, cirurgias de médio porte) e terciária (transplantes, cirurgias de alta complexidade, internação). Quando falamos em atendimento primário, não soa tão atrativo aos profissionais”, continua.

Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, 251 equipes promovem esta atenção básica. Porém, apenas 174 possuem um médico. Como cada grupo pode atender até 800 famílias, estima-se que existam cerca de 200 mil famílias atendidas na cidade. “Priorizamos as áreas mais carentes, com baixo índice de desenvolvimento humano, para iniciar este trabalho. Hoje atendemos famílias em alguns lugares da Zona Oeste, Centro e subúrbios”, explica a professora. “Apesar de tudo, ainda temos problemas em contratar médicos. Isto acontece porque há muito medo da violência nas áreas atendidas e, também, nem sempre o médico se sente preparado para realizar este tipo de diagnóstico”, esclarece Vera.

Dentro da UFRJ, pretende-se implementar algumas mudanças nos cursos de graduação. “Na medicina pretendemos ampliar os estágios dos alunos em atenção básica, tanto nos centros Municipais de Saúde quanto nas equipes de Saúde da Família, principalmente no internato. Na Enfermagem e Nutrição, queremos oferecer estágios dentro do Saúde da Família. No curso Dança, da Escola de Educação Física, promoveremos a expansão do projeto para hipertensos e diabéticos. Na Psicologia, também haverá oferta de estágios dentro das equipes do Saúde da Família e no centro de tratamento psiquiátrico do SUS”, explica a professora.

A prefeitura do Rio de Janeiro está fazendo um convênio com a UFRJ, visando reformar o prédio do Hospital Escola São Francisco de Assis para alocar um Centro de Saúde com 80 consultórios e também três equipes de Saúde da Família. Este convênio facilitará as ações propostas no âmbito do Pro-Saúde.