• Edição 115
  • 21 de fevereiro de 2008

Saúde e Prevenção

Volta às aulas aumenta índice de distúrbios vocais

Miriam Paço – AgN/CT

Começa o ano letivo. Alunos eufóricos e agitados levam os professores a alterarem o tom da voz, esquecendo o cuidado que devem ter com esse precioso instrumento de trabalho. A voz é importante tanto para a comunicação entre os indivíduos quanto para a identificação de cada um. No entanto, é principalmente nesse período do ano que ela é deixada de lado e os distúrbios vocais se intensificam.

- Gritar é um abuso muito forte para as pregas vocais. Uma pessoa fala em média em uma intensidade que varia entre 40 e 60 decibéis. No momento do grito, esse valor aumenta para algo em torno de 100 decibéis – informou Ângela Garcia, fonoaudióloga do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ.

O dano mais incidente é a rouquidão, também chamada de disfonia, uma dificuldade na emissão vocal causada por uma irritação da mucosa local e que pode ser tratada com repouso, descanso e poupando-se a voz.

Outro problema, mais raro, é a formação de pólipos, ou seja, bolhas que se projetam da membrana das pregas vocais e podem ser dematosos (quando contém sangue por dentro). Os pólipos são ocasionados por traumatismo oriundo do atrito entre uma prega e outra no momento dos gritos. Uma vez formado o pólipo, ele pode regredir espontaneamente, se houver repouso, ou não e, neste caso, o tratamento é feito cirurgicamente.

Os sintomas mais comuns são rouquidão e soprosidade, ou seja, ar escapando junto com a voz, causado pelo fechamento inadequado da prega vocal (as chamadas fendas). “Embora sejam dois fenômenos acústicos diferentes, são sinais de que a fonação não está adequada. É importante ressaltar que a presença de ambos não garante a existência de uma lesão nas cordas vocais. É o que chamamos de disfonia funcional, causada por ansiedade e tensão”, esclarece Ângela.

No entanto, mesmo que não se queira gritar, um ambiente extremamente ruidoso leva os indivíduos a falarem mais alto para que sejam ouvidos e estes podem conseqüentemente apresentar no dia seguinte, rouquidão provocada pelo edema das cordas vocais.

O fonoaudiólogo trabalha em conjunto com o otorrinolaringologista. Enquanto o primeiro é responsável pelo diagnóstico acústico da voz, pelo tratamento da disfonia, o segundo faz o tratamento medicamentoso, cirúrgico e o diagnóstico da lesão.

A doutora Ângela Garcia está envolvida em um trabalho com pessoas que apresentam sinais de alterações na laringe, como ardência, dores e diferenças na voz ao final do período de trabalho. Sobretudo profissionais da voz, entre eles professores, radialistas, operadores de telemarketing e que, embora não tenham problemas efetivos, estão em vias de ter.

- É importante que essas pessoas tomem cuidados antes e depois procurando se hidratar, se alimentar bem, descansar, dormir bastante e poupar a voz quando estiver fora do local de trabalho – aconselha Ângela.

Nesse caso, a água tem um papel ainda mais importante. Além de proporcionar a hidratação, alivia a tensão na laringe durante a deglutição pelo próprio movimento em processo.

Para os profissionais da voz, é fundamental ter o acompanhamento de fonoaudiólogos, pois existem exercícios mais complexos para o aquecimento vocal que devem ser praticados a fim de os distúrbios não se agravarem. Para eles, a perda da voz é sinônimo de falta de trabalho.

Além do que já foi mencionado, problemas emocionais podem gerar também prejuízos para as cordas vocais, como o stress, responsável por inúmeras doenças que acometem o ser humano.

- Se houvesse uma exposição maior na mídia, é provável que os distúrbios vocais fossem evitados ou melhor tratados. No carnaval, por exemplo, há um aumento de gripes e resfriados, provocados por mudanças bruscas na temperatura e isso pode levar a alterações na voz. É preciso alertar a população sobre os cuidados necessários – adverte a médica.A fonoaudióloga está desenvolvendo um projeto dentro de todos os cursos da UFRJ sobre saúde vocal e aperfeiçoamento da expressão oral para alunos da graduação e pós-graduação. São formadas seis oficinas para trabalhar a conduta de emissão da voz. Para os interessados, é necessário enviar um e-mail com o curso e DRE para angelagarcia.fono@gmail.com. As aulas devem começar em março, em diversos horários.