• Edição 114
  • 31 de janeiro de 2008

Saúde e Prevenção

Médicos reavaliam efeitos do mel

Seiji Nomura e Marcello Henrique Corrêa

Antibacteriano, antiinflamatório, analgésico, sedativo, hipersensibilizador. Esses são alguns dos efeitos benéficos do produto do néctar recolhido de flores e processado pelas enzimas digestivas das abelhas: o mel. Presente na história da humanidade desde longa data, primeiro como alimento, essa substância pode ser muito útil para a saúde, de um modo geral.

Nessa edição, o Olhar Vital ouviu Felipe Félix, otorrinolaringologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, para explicar a ação expectorante do produto, principalmente na tosse noturna. "Para tosse, a gente sempre soube que o mel produzia bons resultados, mas tínhamos poucas provas científicas", explica o médico. Ele lembra também, que a idéia de que "mel era bom para tosse" sempre esteve presente no senso comum. "Apesar da falta de provas científicas, já se sabia algo de histórias do passado, de pessoas que usavam o mel para curar a tosse", lembra.

No ano passado, a Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, divulgou um estudo que comparava os efeitos do mel com o tratamento com dextrometorfano (DXM) – o xarope para tosse. O estudo, que observou 105 crianças com tosse de dois a 18 anos, constatou que o mel foi mais eficaz do que a administração de DXM na redução da gravidade, freqüência e intensidade da tosse noturna.

— Nós temos "gatilhos" na região da hipofaringe, na base da língua, na entrada da laringe. São receptores que disparam a tosse. O mel, por assim dizer, "mascararia" esses receptores. — esclarece o médico. "Ele também é antibacteriano, mas não se sabe explicar por que", completa ainda.

DXM: efeitos colaterais

Diferente do mel, o DXM possui certos efeitos colaterais. "Evito o máximo indicar xarope para a tosse por causa dos efeitos colaterais", afirma Félix. "Se o médico tem a opção de prescrever mel, é o ideal. Além de ter menos efeitos colaterais, é mais acessível e barato", lembra o especialista.

Segundo o médico, os efeitos do xarope podem até causar certa depressão na criança. "Aumentar a dose pode deixar a criança tão sonolenta ao ponto de ela não conseguir respirar", afirma. Segundo ele, isso pode desencadear uma série de outros fatores que acabam fazendo do tratamento um fracasso. "Isso pode gerar um ciclo vicioso. A tosse acontece para evitar que a secreção chegue ao pulmão. Se a gente está dando um remédio para diminuir a tosse, a criança tem que estar acordada para ter uma defesa contra a secreção", explica Félix.

A tosse

Apesar dos muitos métodos de combater a tosse, é comum os especialistas afirmarem que o melhor meio de combater esse sintoma é extinguindo suas causas. Entre as causas possíveis para a tosse destacam-se infecções, tuberculose, transtornos psiquiátricos e tabagismo. Normalmente, no caso do tabagismo, o abandono do fumo leva a uma diminuição considerável de tosse em um mês.

O mel ganha destaque

— Não se tem o hábito de usar mel como tratamento, porém isso está sendo reavaliado: se a criança está em um estado geral razoável e o incômodo principal é tosse noturna, prescrever o mel pode ser uma boa opção —, avalia o médico, lembrando que o produto também tem suas contra-indicações. "Por exemplo, pessoas diabéticas e com intolerância ao açúcar do mel estão nesse grupo", afirma.

— Acho que esse trabalho confere um respaldo maior e um incentivo para novas pesquisas. Está aumentando muito a procura por fitoremediação e esse estudo contribui ainda mais para isso — comenta. "Temos sempre que pesar risco-benefício. É bom tossir? Sim, mas tosse em excesso é ruim, acaba irritando a garganta e não deixa a criança dormir, fazendo com que suas defesas caiam. É fundamental que o tratamento dê mais conforto, para ela dormir e se recuperar de seu problema", conclui Felipe Félix.