• Edição 109
  • 29 de novembro de 2007

Ciência e Vida

Laboratório analisa resistência ao câncer

Clarissa Lima

O câncer está incluído no grupo de doenças mais prevalentes em todo o mundo. Por isso, a gama de pesquisas relacionadas à patologia é grande e de suma importância. Na UFRJ, há diversos projetos voltados para pesquisas sobre tumores. Um deles é o Programa de Oncobiologia, projeto interinstitucional cujo objetivo é reunir pesquisadores de vários institutos e laboratórios que trabalham com o câncer.

Vivian Rumjanek, coordenadora do Núcleo de Ensino do programa, professora do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) e  também chefe do Laboratório de Imunologia Tumoral, explica sobre o trabalho em seu projeto: “o Laboratório de Imunologia Tumoral pertence ao IBqM. Nossos interesses envolvem, como o próprio nome indica, estudos sobre a interação entre o sistema imunológico e o crescimento tumoral.

O laboratório possui três linhas de pesquisa centrais, adiante explicitadas por Vivian, além dos trabalhos nelas desenvolvidos: “a primeira linha de atuação faz o estudo do desenvolvimento de células dendríticas que possam funcionar como “vacinas” para alguns tipos de câncer. Ainda estamos em fase de análise da biologia básica das células dendríticas e de como fatores produzidos pelo microambiente do tumor podem afetá-la. Tão logo essa fase esteja estabelecida começaremos a colaborar com um grupo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para o desenvolvimento das vacinas. A segunda linha elabora estudos sobre a regulação da resposta imunológica e não se restringe à pesquisa em câncer. A terceira direção, provavelmente a principal, busca estudar o fenômeno de resistência a múltiplas drogas no câncer. Essa resistência representa um dos maiores entraves terapêuticos e a principal causa de falha quimioterápica em vários tumores.

Resistência tumoral

O “Ciência e vida” desta edição está voltado especificamente para essa última pesquisa do Laboratório de Imunologia Tumoral. O fenômeno da resistência a múltiplas drogas (MDR), como evidencia Vivian, se refere à resistência cruzada entre quimioterápicos diferenciados não apenas em suas estruturas como também no modo de ação e alvo celular.

“Apesar de o fenômeno MDR ser resultado de vários fatores, o aspecto melhor estudado está associado à presença de um grupo de moléculas transportadoras (conhecidas como transportadores ABC), presentes na superfície das células tumorais, que funcionam como “bombas de efluxo”, impulsionando para o exterior da célula uma variedade de drogas quimioterápicas, reduzindo, dessa forma, a concentração da droga na célula cancerosa em níveis sub-letais. Esse mecanismo permite a sobrevivência das células cancerosas mesmo quando existem concentrações altas do quimioterápico na circulação. O ideal seria que, da mesma forma que se testa se um microorganismo morre com determinado antibiótico, fosse testado se a célula tumoral é ou não resistente antes de se iniciar o tratamento, visto que a quimioterapia pode ser danosa para células saudáveis”, explica Vivian Rumjanek.

Os reversores da MDR, conhecidos também como agentes moduladores ou quimiosensibilizadores, são substâncias que podem inibir a resistência múltipla. Vivian expõe os efeitos que esses agentes têm sobre as células: “essas substâncias bloqueiam a bomba de efluxo permitindo o acúmulo intracelular da droga quimioterápica. Entre os reversores mais utilizados está a ciclosporina A e seus derivados. Alguns desses agentes reversores possuem graus variados de toxicidade. Além de sua ação farmacológica, uma das razões da toxicidade desses reversores deriva do fato dos Transportadores ABC estarem também presentes em alguns tecidos normais (mesmo que em menor quantidade) onde pouco se conhece sobre o seu papel fisiológico”.

A professora destaca o câncer de intestino como um exemplo de tumor que, derivado de tecido que possui naturalmente maior quantidade desses transportadores, apresenta maior probabilidade de resistência ao tratamento.

Realizações do laboratório

Nessa área, a equipe analisa a presença e a atividade dos Transportadores ABC em células tumorais. A pesquisa conta com a colaboração de diversos membros da UFRJ e de uma médica do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Com profissionais do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN), a parceria busca analisar novos quimioterápicos e sua relação com os transportadores ABC. Porém, “alguns desses transportadores estão presentes em células normais do sistema imunológico, e nosso grupo tem se dedicado também a estudar o funcionamento desses transportadores em células normais do sistema imunológico para entender o impacto produzido por agentes reversores ou quimioterápicos que não são bombeados para fora nessas células normais”, destaca Vivian Rumjanek.

O maior interesse do projeto é aproximar os resultados obtidos através da pesquisa básica com a aplicação clínica. Dessa forma, há a possibilidade de melhoria das condições de pacientes que sofrem desta terrível doença.