• Edição 109
  • 29 de novembro de 2007

Notícias da Semana

O paciente em destaque

Marcello Henrique Corrêa

Os direitos do paciente tiveram atenção privilegiada em mais uma edição do Encontro de Pacientes do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, organizado há seis anos pela Comissão de Direitos do Paciente (CDP) do HUCFF. O encontro foi realizado nos dias 26 e 27 de novembro, no auditório Alice Rosa, no próprio hospital. A abertura contou com a presença e algumas palavras do diretor da instituição, Alexandre Pinto Cardoso.

Para ele, a razão de ser dos hospitais é o paciente. Alexandre Cardoso relembrou que os hospitais universitários, em especial, além de serem preparados para receber os doentes, têm a responsabilidade de ensinar a todos aqueles que neles trabalham – não apenas os médicos – a lidar com o paciente de maneira devida e com o respeito adequado. “O maior problema para o paciente é o dele mesmo, não importa a gravidade”, constata Alexandre, ressaltando que, muitas vezes a sensação de desconforto do paciente e a gravidade da situação não são proporcionais. “De qualquer forma, todos devem ter seus direitos respeitados, sejam aqueles que apresentam problemas de fácil solução ou os que têm problemas para os quais, infelizmente, não temos solução”, avalia o diretor.

A luta pelos direitos

Direito à saúde e burocracia, quando juntos, não produzem bons frutos. A arquiteta Iva Rosa Coppedè, portadora de artrite reumatóide abordou esse e outros assuntos na primeira palestra do Encontro. Com experiência de sobra, a arquiteta relatou o duro caminho enfrentado por ela e pelos demais brasileiros e brasileiras na tentativa de acesso à assistência médica pública.

“Passei por várias etapas difíceis da doença. Fiquei um período sem andar, toda deformada, devido aos efeitos da artrite” relembrou Iva. Segundo ela, a falta de informação foi a principal causa desse longo sofrimento. A luta por informações e pelos direitos de pacientes resultou em um pequeno manual, voltado para os pacientes “Tratado para um dia-a-dia melhor”, tema de sua palestra no Encontro.

Segundo Iva, o cenário já mudou bastante desde 2005, quando o manual foi editado. Contudo, ela acredita que é preciso mudar muito mais, para uma melhoria efetiva nas condições do acesso do paciente ao tratamento, seja ele por remédio, cirurgia, ou qualquer outra medida necessária.

Iva Rosa afirma que o paciente no Brasil fica literalmente perdido, relatando que durante o período em que sofreu com a artrite, viu muitos morrerem também devido à falta de informação e dificuldade no acesso. “Eu acho que isso deveria ser uma responsabilidade do governo”, defende a arquiteta.

A arquiteta expôs sua opinião a respeito do uso do dinheiro público e das prioridades. Iva relembrou um episódio em particular de sua busca por medicamentos para tratar da doença crônica, quando um dos assessores do secretário de Saúde, na época, alegou que seu medicamento era caro demais. “A saúde é um direito de todos, garantido pela Constituição, não importa quanto isso custe”, afirmou. “Se o problema é dinheiro, por que não tirar do fundo para o meio ambiente ou do paisagismo? Do meu ponto de vista, saúde, educação e habitação são direitos fundamentais”, declarou a arquiteta.

Além disso, Iva Rosa Coppedè ressaltou a importância do governo e da mídia disponibilizar informação, o tempo inteiro. A palestrante fez um apelo aos meios de comunicação de massa na ampliação da divulgação dos direitos do paciente. Além disso, alertou sobre a responsabilidade na hora de ir às urnas. Para ela, é fundamental votar em representantes que tenham uma visão ampla e não naqueles que chamou de “vereadores de bairro”. “Temos que começar a pensar em coisas mais amplas. Para mim, isso corresponde a saúde, educação e habitação. Se temos isso, temos tudo”, finalizou.


VIII Jornada do IBCFF reúne especialistas

Marcello Henrique Corrêa

Ocorreu, no último dia 29 de novembro, o primeiro dia da VIII Jornada Científica Carlos Chagas Filho, realizado pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, na UFRJ. O evento, previsto para acontecer até o dia 30, reuniu professores e alunos da graduação e da pós-graduação, para a exposição de suas pesquisas. Além das conferências no auditório do IBCCF, painéis no corredor do CCS expunham trabalhos dos participantes.

A primeira conferência ficou por conta do professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Emerson Lopes Olivares, apresentando os modelos, objetivos e resultados de sua pesquisa, iniciada em seu mestrado e prolongada durante o doutorado, sob orientação da professora Masako Oya Masuda. Com o título, “Cardiomioplastia celular: seis anos de aprendizado”, a palestra trouxe os detalhes da metodologia de sua pesquisa, premiada pela CAPES, concorrendo com vários recém doutores.

— Quando se fala em terapias alternativas, é necessário fundamentar muito bem a razão de procurá-las —, iniciou o professor, apresentando os dados sobre as principais causas de morte, em que as doenças cardíacas se destacam, tanto no Brasil, quanto no resto do mundo.

Do ponto de vista terapêutico, segundo o professor, não existe tratamento eficaz para a insuficiência cardíaca. A expectativa, atualmente, é de 50% dos pacientes com esse problema virem a falecer. Do ponto de vista cirúrgico, as técnicas ou não atuam na fibrose do miocárdio, no caso do by-pass coronariano, ou, no caso do transplante cardíaco, há o problema de escassez de doadores, complicações com o transplante, entre outras barreiras.

Dentro desse cenário adverso, o estudo se iniciou, como um projeto da dissertação de mestrado de Emerson na UFRJ. Nomeado pelo próprio professor de cardiomioplastia celular, a técnica consiste em implantar células saudáveis em um miocárdio lesado, buscando a regeneração do tecido, baseado no modelo do infarto do miocárdio experimental.

O professor explicou, durante a apresentação, todo o processo de experiências, objetivos e conclusões preliminares, tanto durante o mestrado, quando o trabalho foi festejado e reconhecido pela comunidade científica, quanto pelo doutorado, que continua a ser analisado, buscando conclusões cada vez mais sólidas na busca de uma terapêutica eficiente para os problemas cardíacos.

Ao final da conferência, o professor agradeceu a todos aqueles que apoiaram e apóiam até hoje a pesquisa e investem na idéia. Logo em seguida, Emerson Lopes foi surpreendido por uma homenagem, com a entrega de uma Menção Honrosa, pelo diretor do IBCCF, Olaf Malm, em reconhecimento ao seu trabalho de pesquisa.


Novas instalações do CRMM-CR são inauguradas

Seiji Nomura

O Núcleo de Estudo de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP – DH) da UFRJ inaugurou as novas instalações, com o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM/PR) e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH/PR), o Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa (CRMM-CR). 

A mesa do evento contou com a presença do reitor da Universidade, Aloísio Teixeira, do decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, Marcello Castro, da ministra da SPM/PR, Nilcéa Freire, da diretora do NEPP-DH, Suely Souza de Almeida, da representante da SEDH/PR, Ângela Radis, da coordenadora do CRMM-CR, Eliana Amorim Moura, da representante do UNIFEM (Fundo das Nações Unidas para as Mulheres para o Brasil e o Cone Sul), Júnia Puglia, da representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ana Benzolt, superintendente Técnico Científico e Cultural da FUJB, Helena Ibiapina, e da diretora técnica do Posto de Saúde da Vila do João, Ana Lúcia de Castro.

Cerimônia de inauguração

A mesa homenageou a pedagoga Carminha Rosa, com muitas reações emocionadas. “Estamos muito honrados diante da homenagem à Carminha”, afirmou Ângela Radis. Ana Denzolt a homenageou dizendo que “Além de uma grande amiga era alguém que fazia com que as pessoas conversassem umas com as outras e construíssem em conjunto”. A militante dos direitos humanos das mulheres também foi lembrada por Júnia Puglia. “Esse projeto não seria o que é hoje se não fosse pela Carminha”, disse ela, observando que Carminha fazia aniversário no dia da não-violência à mulher.
Suely de Souza Almeida aproveitou o momento para contar a história do Centro. “Tudo começou com o programa regional do BID. O Conselho Nacional de Direitos da Mulher não tinha personalidade jurídica, entre outros problemas. Carminha assumiu a direção nacional do programa e promoveu diversas campanhas e iniciativas pelo desenvolvimento. O CRMM era a menina dos olhos dela e aqui promovemos um trabalho que tem continuidade”, declarou ela. “Foi então que Carminha pediu que a UFRJ assumisse os trabalhos lá. Ela me convenceu lembrando a importância da função social da universidade”, relembrou.

Eliana Moura teve que segurar o pranto para falar da pedagoga. “Que saudade da risada dela. É do tamanho das fartas gargalhadas da Carminha esse sonho, que está sendo espraiado por toda a universidade”, afirmou a coordenadora do CRMM. Marcello Castro disse que iniciativas como essa o fazem ver que vale a pena o trabalho que fazem diariamente.

A ministra Nilcéa Freire falou da inauguração de outro centro de referência para mulheres, mas na Ilha do Fundão. “Em breve poderemos inaugurar o Centro do Fundão, que será um nó estratégico para o Brasil. Precisamos de um pólo de capacitação, treinamento, pesquisa, de teste de novas práticas na área. Vão ter aqui duas unidades – o CRMMCR e o da Cidade Universitária – referências importantes para todo o Brasil”, explicou.

O reitor da UFRJ Aloísio Teixeira encerrou a cerimônia. “Não conseguiremos formar jovens com qualidade se a extensão não for parte integrante desta. Espero que a discussão da reestruturação da universidade seja a oportunidade para a abertura de espaços para a função social da UFRJ” finalizou ele.

A luta pelos direitos das mulheres

O trabalho no Centro tem uma grande importância na área, já que atende não só a demanda do bairro da Maré, mas também a das áreas na região. De acordo com a coordenadora do projeto, Eliana Moura, o CRMM-CR oferece atendimento de psicólogas, assistentes sociais e advogada, mas não se restringe a isso, já que não seria o bastante. “É preciso que elas voltem a ter as rédeas de si como cidadãs e sujeitos históricos”, afirmou a professora.

Para alcançar esse objetivo, a iniciativa conta com diversas oficinas como a de educação artística, a de expressão corporal, de teatro e a de leitura. Um outro destaque é a oficina de educação não-sexista, bem como as oficinas de arranjos florais em uma perspectiva de educação empreendedora de geração de trabalho e renda. “As oficinas de educação não-sexista são desenvolvidas em escolas do bairro para que professores possam realinhar suas aulas de acordo com os novos parâmetros curriculares, desconstruindo preconceitos, sobretudo o de gênero”, declarou Eliana Moura.

A ministra Nilcéa Freire destacou a importância da UFRJ no projeto. “Se não fosse a disposição da UFRJ de assumir esse centro, não teríamos essa oportunidade; será um pólo de pesquisa e intervenção na violência” disse ela. De acordo com a coordenadora do centro, a importância acadêmica, nos dois anos e oito meses nos quais a UFRJ assumiu a coordenação da iniciativa, já é substancial – o CRMM foi apresentado em congressos internacionais no Canadá e na cidade de Córdoba, além de ter sido tema de quatro trabalhos de conclusão de curso, dois de mestrado em elaboração e de diversos trabalhos apresentados em jornadas científicas.

Está sendo construído um novo centro de referência para mulheres na Ilha do Fundão. De acordo com Eliana Moura, o novo espaço irá contar com 16 gabinetes de atendimento, além de estruturas de cinema, teatro, salões de produção e grandes salas para o desenvolvimento de oficinas. “A idéia é que ele possa se constituir em um centro piloto de formação para espalhar a experiência pelo Brasil” finalizou a professora.