• Edição 108
  • 22 de novembro de 2007

Argumento

Os polêmicos aditivos alimentares

Clarissa Lima

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aditivos alimentares são quaisquer elementos acrescentados voluntariamente aos alimentos com o propósito de alterar suas características. Contudo, após grande discussão gerada pela adição de substâncias como soda cáustica e água oxigenada ao leite, é importante discutir a pertinência do uso desses agentes transformadores da comida.

Não é de hoje que se acrescentam diferentes produtos aos alimentos. Por muitos anos, antes do surgimento das geladeiras, o sal era usado na preservação de carnes e peixes, assim como o vinagre era usado para conservar pepinos e outros vegetais. No entanto, os aditivos alimentares contemporâneos estão cada vez mais sintéticos e industrializados, o que causa certo espanto nas pessoas.

Segundo Luiz Eduardo de Carvalho, professor do Departamento de Produtos Naturais e Alimentos (DPNA) da Faculdade de Farmácia (FF) da UFRJ, engenheiro de alimentos e coordenador do Laboratório de Vida Urbana, Consumo e Saúde (LabConsS), “o mundo dos aditivos mudou dramaticamente nos últimos anos. O nosso olhar de consumidor, bem como de pesquisador, também precisa evoluir. Olhemos, por exemplo, o suco de maracujá ou a água de coco industrializada. A gente aceita que um maracujá seja diferente do outro, um mais vermelho, outro mais amarelo, um mais azedo, outro mais doce. Mas não aceita que uma caixinha de suco de maracujá industrializado seja diferente da outra.  A mesma coisa ocorre com a água de coco. Nós não queremos aceitar que entre uma caixinha e outra, entre uma garrafinha e outra, exista a diferença de sabor que sempre encontramos entre um coco e outro. Ora, como é que a indústria vai atender os desejos desse consumidor? Ela fica obrigada a padronizar seus produtos. E, para padronizar, se vê compelida a usar corantes, aromatizantes, espessantes e açúcar. É óbvio que essas caixinhas de água de coco industrializada sofrem adição de açúcar. E os rótulos não informam isso, mas tabelam conter de 5% a 6% de açúcar.”

Invasão de aditivos

Existem diversos tipos de aditivos alimentares, como acidulantes (que aumentam ou conferem acidez aos alimentos), antioxidantes (que retardam o surgimento de alterações oxidativas como sabor e odor rançosos), realçadores de sabor (que acentuam gosto ou aroma dos alimentos), entre muitos outros. Luiz Eduardo prefere se ater a substâncias que não contém nenhuma necessidade aparente, como os corantes artificiais: “muitas balas e pirulitos que existiam há 30 ou 40 anos, e que hoje ainda estão no mercado, se apresentam com um colorido muito mais acentuado, exagerado mesmo. O azul brilhante, o amarelo crepúsculo e a tartrazina não são recomendáveis para crianças, menos ainda com essa freqüência e concentração. Existem, inclusive, pirulitos que destacam, em seus anúncios publicitários, que deixarão as línguas das crianças totalmente coloridas. Onde está a razão de ser desses aditivos?”

A pergunta não é somente do professor, mas também faz eco em meio à população brasileira como um todo.

O controle destas substâncias

Luiz Eduardo de Carvalho também tem opiniões polêmicas a respeito da regulamentação dos aditivos alimentares. Segundo ele, existem jogos de mercado que influenciam na liberação ou não desses elementos. “A Anvisa já não está regulando a relação dos fabricantes com os consumidores. Antes disso, ela está regulando os aspectos concorrenciais. Ela é uma intervenção na competitividade. Uns podem e outros não podem. O caso do leite, por exemplo, é típico. Há substâncias, como tripolifosfato de sódio, fosfato trissódico e citrato de sódio, que a indústria pode acrescentar ao leite, mas o dono da vaca não pode, é proibido legalmente” ressalta o pesquisador.

Para ele, a indústria acaba tendo muita liberdade no momento de adicionar certos elementos aos seus produtos. Isso pode ser fonte de problemas: “o problema mais grave é o grau de pureza desses aditivos. O risco maior é que essas substâncias sejam das marcas mais baratas do mercado, sejam aquelas com finalidades distantes do consumo humano e com alto grau de contaminantes, começando pelos metais pesados, altamente tóxicos. Isso sequer foi lembrado, questionado ou analisado ao longo da polêmica do leite.

Enfim, o coordenador do LabConsS lembra a importância de pesquisar sobre os produtos que consumimos, para que não sejamos afetados por aditivos prejudiciais. Por isso, devemos conferir sempre a embalagem dos alimentos e procurar entender quais tipos de substâncias estamos ingerindo.