• Edição 107
  • 14 de novembro de 2007

Saúde e Prevenção

Cirrose é mais do que excesso de álcool

Clarissa Lima

A maioria das pessoas associa a cirrose ao consumo excessivo de álcool. Contudo, este problema, digno de atenção, pode ter origens diversas e acarretar quadros clínicos bastante complicados.

– A cirrose hepática é uma lesão da estrutura do fígado, com fibrose e formação de nódulos hepáticos, acompanhada ou não de alterações da função do fígado (insuficiência hepática) –, explica Jorge Segadas, supervisor do ambulatório de Hepatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e professor do Departamento de Clínica Médica da UFRJ.

No Brasil, as principais causas de cirrose hepática são as hepatites crônicas B e C e o álcool (caso chamado de hepatopatia alcoólica). Existem origens mais raras, como hepatite auto-imune, cirrose biliar, esteato-hepatite, hemocromatose. A cirrose atinge geralmente homens acima dos 45 anos, mas também pode acometer mulheres.

– As hepatites por uso excessivo e contínuo do álcool causam inflamação persistente do fígado e progressivamente ocorre a formação de fibrose. Quando esta fibrose é intensa pode haver formação de nódulos hepáticos que caracterizam a cirrose. Se a agressão ao fígado persiste, as células hepáticas são substituídas por tecido fibroso e surge então a insuficiência hepática –, informa o médico.

Complicações devidas a este problema podem ser, por exemplo, dificuldades na produção da bile (agente emulsificador de gorduras) e de proteínas, na manutenção dos níveis de açúcar no sangue e na metabolização do colesterol e do álcool, entre outras coisas.

Como descobrir o problema

A princípio, esta doença pode ser assintomática. No entanto, ao se manifestar, as pessoas podem sentir uma série de desconfortos, como olhos amarelados (icterícia), líquido no abdome (ascite), inchaço nos pés (edema) e confusão mental (encefalopatia hepática).

De acordo com o hepatologista, o diagnóstico determinante de cirrose é feito pela biópsia hepática. Contudo, nem sempre é possível fazer este exame, pois nos casos de cirrose com insuficiência hepática o paciente pode apresentar alterações na coagulação do sangue ou líquido no abdome, que dificultam ou impedem a realização da biópsia.

Jorge Segadas indica, também, outras formas de identificar o problema. “Na prática clínica podemos suspeitar de cirrose quando o paciente apresenta sinais de hipertensão (varizes no esôfago, aumento do baço, baixa de plaquetas, baixa da albumina) e de insuficiência hepática (icterícia, ascite, encefalopatia hepática). Nestes casos, com freqüência, não há necessidade de realizarmos a biópsia. O diagnóstico é clínico e laboratorial. Também há procedimentos auxiliares, como hemograma, hepatograma, ultra-som do abdome e endoscopia digestiva”, relata o especialista.

Importância da prevenção

Para evitar a cirrose, controlar o consumo de álcool é importante. Entretanto, outras medidas recomendáveis na prevenção desta doença não são freqüentemente relacionadas a ela. O uso de preservativos em relações sexuais, por exemplo, pode impedir a contaminação pela hepatite e diminuir a possibilidade do desenvolvimento da cirrose hepática. A vacina contra a hepatite B também é uma alternativa neste sentido.

Quando o problema se manifesta, assume caráter ainda mais sério porque pode levar o paciente a sofrer de câncer de fígado. Por isso, procurar tratamento é indispensável. Nas cirroses causadas por excesso de álcool, o paciente deve parar de beber, para assim evitar o agravamento da doença. “E, além do acompanhamento médico, nos casos de cirrose ocasionada por hepatite crônica, há tratamentos medicamentosos que dão bons resultados. Por fim, em quadros mais graves, pode haver necessidade de transplante de fígado”, alerta Jorge.

Sendo assim, é importante todas as pessoas, em especial pacientes de hepatite ou com tendências alcoólatras, buscarem se prevenir, para não ter seus problemas ainda mais agravados pela cirrose.

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