• Edição 106
  • 08 de novembro de 2007

Saúde em Foco

Dores musculares pós-atividade física não seriam causadas por ácido láctico

Fisiologista do São Paulo desmistifica idéia e afirma que solução estaria na suplementação. Processo inflamatório seria o real responsável pelas dores do dia seguinte.

Carla Ferenshitz

Engana-se quem acredita que a dor muscular que aparece no dia seguinte a alguma atividade física mais intensa seja provocada pelo acúmulo de ácido láctico.

De acordo com o fisiologista Turíbio Leite de Barros -- um dos maiores especialistas em medicina esportiva no país --, o fenômeno não tem nada a ver com intoxicação das células pela substância, mas sim com um quadro inflamatório dos tecidos musculares.

Causada por esforço físico intenso ou por movimentos bruscos e não habituais -- que podem estar presentes no cotidiano até no ato de segurar uma criança nos braços--, esse tipo de dor muscular é comumente atribuído ao ácido láctico. Um erro cometido por leigos e por quase todos os profissionais da saúde.

Não que a associação do ácido láctico a dores relacionadas à atividade física seja equivocada. Ele tem sua parcela de culpa. Porém, estudos recentes descobriram que a substância é eliminada do organismo cerca de duas a três horas depois do término do exercício.

Portanto, o ácido láctico seria responsável apenas pelas sensações imediatas, durante e logo após a atividade, como explicou o fisiologista. "Ardência e dor aguda momentânea são ações do ácido láctico e causam dor de efeito imediato."

Microtraumas

Nos sintomas manifestados no dia seguinte e até 72 horas depois da prática física, os verdadeiros responsáveis seriam os chamados microtraumas, que desencadeiam um processo inflamatório no organismo cerca de 24 horas após a atividade. O efeito seria causado pela liberação da enzima CK na corrente sangüínea, a partir do rompimento de membranas celulares presentes nos músculos.

Segundo o fisiologista, que desde 1986 atua no São Paulo Futebol Clube, as dores decorrentes dessa lesão química -- importante para esportistas e pessoas que buscam o crescimento muscular -- pode ser amenizada com a administração de vitaminas e minerais. A suplementação, segundo Barros, protegeria o músculos dos traumas do exercício intenso ao impedir o rompimento das membranas celulares a partir da neutralização dos radicais livres.

"Quanto mais exercício o indivíduo faz, mais radicais livres no organismo e maior a necessidade de antioxidantes", disse.

Para prevenir as dores seria necessário, então, alimentar o organismo com compostos que ele não produz e que dificilmente conseguimos suprir somente por meio das refeições. O consumo de vitaminas e minerais nas dosagens recomendadas seria, de acordo com o fisiologista, a melhor resposta para combater o problema . "Se for possível neutralizar o radicais livres, o quadro de dor vai melhorar, sem impedir o remodelamento dos músculos."

On-line G1, 07 de novembro, Editoria Ciência e Saúde

link original:http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,5603,00.html