• Edição 105
  • 01 de novembro de 2007

Faces e Interfaces

Mitos dos produtos de emagrecimento

Priscila Biancovilli e Amanda Wanderley - Agência UFRJ de Notícias – Praia Vermelha

Você quer perder peso, entrar em forma e tonificar o abdômen para o próximo verão? Essa é a abordagem das propagandas para vender os chamados aparelhos “milagrosos”. Os anunciantes garantem que verdadeiras “geringonças” são capazes de facilitar o exercício físico e acelerar os resultados; lingeries podem modelar o corpo e acabar de vez com as estrias e celulites; travesseiros salvam casamentos por acabarem com o ronco do marido. Tudo isso em até 15 vezes no cartão de crédito!

Apesar de, muitas das vezes, ciente da maneira tendenciosa como essas mercadorias são vendidas, o consumidor se deixa levar pela promessa de solucionar problemas de estética ou de saúde e paga para ver se o produto funciona ou não. Para saber a funcionalidade dos aparelhos milagrosos, o Olhar Vital conversou com os professores Roberto Simão, da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ; e Bernard Rangé, do Programa de Pós-graduação do Instituto de Psicologia.

Roberto Simão

Professor da Escola de Educação Física e Desportos

“Evidências científicas mostram que nenhum destes produtos milagrosos vendidos no mercado cumpre o que propõe. Não existe nada na literatura médica provando que estes medicamentos ou aparelhos tenham uma real funcionalidade.

“Por exemplo, aquelas faixas que dão choques na região do abdômen e teoricamente servem para tonificar os músculos, não cumprem esta função. Trata-se de propaganda enganosa. A função real deste aparelho é reabilitação, ou seja, colaborar no tratamento de uma debilidade muscular extrema e aumentar a força do músculo. De forma alguma ele aumenta a massa muscular.

“Do outro lado, os aparelhos que ajudam a fazer exercícios abdominais podem ser usados por iniciantes com grau de coordenação baixo. Existem pessoas que, sem este aparelho, não conseguem fazer os movimentos do exercício. Ele trabalha vários músculos da região do tórax. Mas a pessoa deve largar o aparelho depois de um tempo, senão jamais aumentará o grau de dificuldade abdominal.

“Neste grupo de produtos milagrosos, existem também as sopas hipocalóricas, que prometem fazer a pessoa emagrecer vários quilos por semana. O que acontece nestas situações é a perda de peso muito rápida, num curto espaço de tempo. Dietas pobres em calorias causam diversos efeitos colaterais, como cansaço extremo e astenia – fadiga do cérebro. Isto acontece porque o hipotálamo, parte do cérebro que controla o metabolismo, tenta fazer com que o corpo gaste menos calorias, já que consome poucas. Se a pessoa segue com esta dieta por um longo período de tempo – um a dois meses – vai sentir uma fome muito mais intensa que o normal. Além disso, o corpo tentará hipercompensar a perda de peso – ou seja, além de recuperar todo o peso perdido, ele ainda engordará. O organismo interpreta o corte brusco de calorias como uma agressão. O ideal é que uma pessoa em dieta emagreça de 0,5 kg a 1 kg por semana, sempre com uma dieta equilibrada.

“Para que consiga emagrecer e ficar em forma, o mais importante é a pessoa alterar seu modo de vida. O exercício físico é coadjuvante na perda de peso, mas é fundamental que, em qualquer dieta, ninguém se esqueça de sua saúde.”

Bernard Rangé

Professor do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia e supervisor de terapia cognitivo-comportamental da Divisão de Psicologia Aplicada

“Já vi algumas propagandas na televisão anunciando produtos que prometem resultados eficientes, em curto prazo e sem muito esforço, como os de ginástica. Não acredito que eles ofereçam estrutura capaz de produzir os efeitos prometidos. Ou seja, que funcionem de fato. Isso quem pode responder é um profissional da Educação Física. O resultado pode até ser atingido, mas pela convicção que o consumidor tem de que aquele aparelho vai ajudá-lo a resolver seu problema. Em geral, esses anúncios usam e abusam de promessas e mexem com a vaidade das pessoas, levando-as à compra.

“Em todo o tipo de pesquisa em psicoterapia ou sobre a ação de medicamentos, observamos efeitos placebo, quando, por exemplo, um comprimido sem princípio ativo gera resultado terapêutico, devido aos efeitos da crença do paciente tratado. Em média, 30% das pessoas submetidas a tratamentos manifestam algum tipo de resposta como essa. A manifestação é proporcional ao quanto o paciente acredita na efetividade do produto.

“É importante deixar claro que o efeito placebo não acontece só através de fármacos, como vimos em testes de medicamentos. Por ele ter a ver com a crença do paciente, o efeito placebo pode acontecer não só na ingestão de remédios, como em alguma oração de curandeiro. Uma pessoa reconhecida por curar doenças pela palavra é capaz de fazer surtir o efeito placebo nas pessoas. Nesse sentido, os produtos que prometem ‘milagre’ anunciados na mídia também têm esse poder. Porém, precisam da crença do consumidor. O ideal é que as pessoas procurem sempre o especialista adequado para ajudar a resolver seus problemas.”