• Edição 100
  • 28 de setembro de 2007

Notícias da Semana

Semana de Microbiologia revela segredos da Antártica


Marcello Henrique Corrêa

Com o apoio do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG), a XIII Semana de Microbiologia e Imunologia, realizada por alunos do curso de Ciências Biológicas, foi aberta na última quarta-feira, dia 24 de setembro, com a palestra “Conhecendo a comunidade bacteriana na Antártica”, ministrada por Alexandre Soares Rosado, professor do IMPPG.

— Por incrível que pareça, quase nada existe de documento sobre a microbiologia da Antártica. Pouquíssimos trabalhos são encontrados —, comenta Alexandre que coletou com seu grupo, por exemplo, durante o verão antártico, bactérias presentes em espécies de gramíneas locais. Segundo o professor, a Antártica é um continente essencialmente microbiano, mas, apesar disso, esse assunto desperta o menor dos interesses das equipes instaladas nas estações.

A temperatura é um fator importante para a divisão de bactérias, conforme explica o professor. Segundo ele, considerando-se todo o planeta, a média é estar abaixo dos cinco graus Celsius. “Basta pensarmos em áreas como as zonas abissais nos oceanos, as polares ou os picos das montanhas, juntos estes lugares representam uma boa parcela do globo.”

Para o professor, isso explica a expressiva quantidade de organismos psicrofílicos e psicrotolerantes. Respectivamente, esses termos se referem a bactérias muito adaptadas ao frio e melhor reprodutoras nessas condições; e àquelas capazes de sobreviver em baixas temperaturas.

Alexandre Rosado considera a Antártica um lugar ideal para estudar microorganismos. “No que diz respeito ao estudo de endemismo, analisa-se espécies que só ocorrem em um lugar, a Antártica é o melhor deles”. Segundo o professor, quando se começa a catalogar bactérias e protozoários aparentemente existentes só nesse continente, esse assunto passa a ganhar uma atenção especial.

A Antártica oferece uma diversidade microbiana bastante representativa. O professor explica que os estudos na região estão ajudando a entender melhor os padrões de funcionamento dessa diversidade, de uma maneira mais clara. Além de tudo, já existe uma demanda significativa na economia para essas descobertas. “Existe um potencial muito grande de novos produtos que funcionam com base nesses microorganismos”. Para o professor, o Brasil está atrasado nesse ponto. Inglaterra, Japão e EUA já utilizam, por exemplo, microorganismos antárticos na produção de cosméticos.

O professor comenta que o trabalho é caro e ressalta que é necessário retransmitir esses dados à comunidade científica. “Se eu tenho a oportunidade de estar na Antártica, posso coletar para mim e para todo mundo”, afirmou. Alexandre retorna à Antártica em janeiro próximo, para dar prosseguimento aos estudos.

A XIII Semana de Microbiologia e Imunologia contou ainda com mais dois dias de atividades, incluindo mini-cursos voltados especialmente para alunos do Ensino Médio, uma proposta da organização de apresentar um pouco do conteúdo aos futuros universitários. O evento se encerra dia 28, com a apresentação de trabalhos acadêmicos.


I Semana de Pós-graduação em Bioquímica Médica


Flávia Fontinhas

Por iniciativa dos alunos está ocorrendo nessa semana, de 24 a 28 de setembro, no auditório Rodolpho Paulo Rocco (Quinhentão), a I Semana de Pós-graduação em Bioquímica Médica, inteiramente organizada e planejada pelos pós-graduandos.

A abertura ocorreu dia 24 e contou com a participação da professora Débora Foguel, diretora do Instituto de Bioquímica médica; do vice-diretor do Instituto, professor Mário Cardoso Neto; da coordenadora de pós-graduação do Instituto de Bioquímica Médica, professora Andréia Poian; da vice-coordenadora da pós-graduação, professora Ana Paula Valente; e do representante da comissão organizadora, Daniel Sanches.

A professora Débora Foguel deu as boas-vindas a todos os presentes, e parabenizou os alunos, em especial a comissão organizadora, por essa iniciativa. Ela ressaltou o grande crescimento do Instituto de Bioquímica Médica, ocorrido nos últimos anos, e conferiu grande parte do crédito aos alunos. Além disso, destacou também a importância da pós-graduação no Brasil, como forma de melhorar a realidade vigente.

Logo em seguida, o professor Mário Neto contou um pouco da história do Instituto de Bioquímica Médica: era um instituto pequeno, no qual as informações, dados sobre pesquisas e experimentos dos alunos eram compartilhados no corredor; com o tempo cresceu e perdeu um pouco dessa troca. Portanto, segundo ele, essa iniciativa retoma um pouco esse intercâmbio de informações “com certeza, fundamental para enriquecer os planos de trabalho e as técnicas de todos os pesquisadores.”

O representante da comissão organizadora, Daniel Sanches, agradeceu e afirmou que o apoio dos professores estimula os alunos a realizar esse evento, “que com certeza será o primeiro de muitos”.

Agradeceu também às 446 inscrições realizadas, como aos 149 participantes que apresentaram seus trabalhos; reafirmou seu desejo de que essa Semana não se torne apenas um evento do Instituto de Bioquímica Médica, mas sim um evento da Universidade e do Brasil; a fim de novos encontros científicos serem promovidos e aquele passado de troca de informações seja resgatado, de uma maneira mais formal. Para, com isso, construir um futuro melhor para a Ciência e para o país.

Palestra inaugural

A palestra inaugural foi proferida pelo doutor Hugo Caire de Castro Faria Neto, formado em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), especializado em processos inflamatórios e, atualmente, chefe do Laboratório de Imunofarmacologia da Fundação Oswaldo Cruz.

O tema central da palestra foi um trabalho desenvolvido pelo professor, juntamente com sua equipe, sobre o estudo da SEPSIS – uma resposta inflamatória sistêmica a um agente infeccioso; essa resposta do organismo é danosa ao próprio hospedeiro. Ou seja, há uma infecção, produzida em geral por bactérias, que se torna generalizada, principalmente na corrente sangüínea.

Outra consideração possível a respeito da SEPSIS, é ela ser a interseção de dois grandes conjuntos: o conjunto de pacientes de quadro infeccioso, e o conjunto de pacientes de resposta inflamatória sistêmica, ou síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS).

– A ocorrência da SEPSIS é extremamente grave, uma vez que ela é a principal causa de mortalidade em Centros de Terapia Intensiva (CTIs). A mortalidade atinge valores de até 60% em alguns lugares e, em lugares de tecnologia mais avançada, em torno de 30 a 35%. É uma mortalidade extremamente elevada e, por isso, precisa ser tratada quanto antes –, afirmou o professor.

Assim, existem três medidas principais para tratar um paciente com SEPSIS: a primeira, ainda insuficiente isolada, é controlar a infecção, através do uso de antibióticos ou antifúngicos; a segunda é usar medidas de suporte de vida, colocar o paciente no respirador, fazer hidratação (esta medida obteve um grande avanço nos últimos anos devido à invenção de novos equipamentos, mais modernos e eficientes); e a terceira medida, algo em desenvolvimento, mas ainda não geradora de frutos bastante positivos, é justamente tentar modular essa resposta inflamatória danosa ao hospedeiro.

– Apesar de nos últimos 15 anos ter havido uma série de estudos clínicos, a fim de testar novas terapias e, com isso, controlar a resposta imune inflamatória nos paciente com SEPSIS, é triste constatar que não houve praticamente nenhum resultado positivo –, explicou o médico.

Assim, o foco da palestra foi discutir as possíveis causas que têm tornado inviável o controle da infecção geradora da SEPSIS, e discutir alternativas a fim de mudar essa situação.