• Edição 099
  • 20 de setembro de 2007

Microscópio

Em busca do diagnóstico perfeito


Marcello Henrique Corrêa

Chegar a um diagnóstico correto é o primeiro passo para curar uma doença. Para isso, técnicas cada vez mais eficazes vêm sendo descobertas e utilizadas por laboratórios e hospitais em todo o mundo, entre elas as técnicas de biologia molecular. Esse será um dos temas da XIII Semana de Microbiologia e Imunologia da UFRJ, que acontece de 24 a 28 de setembro.

- Os alunos do curso de Microbiologia são apresentados a várias técnicas, tanto as moleculares quanto as não moleculares durante a graduação, porém nem sempre é possível aos alunos se manterem atualizados no assunto -, comenta Marinella Silva Laport, professora adjunta do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG – UFRJ), que ministra o mini-curso “Técnicas em biologia molecular” durante o evento.

- O curso vai apresentar técnicas em biologia molecular para identificação de bactérias, em diagnóstico clínico -, explica a professora, ressaltando a importância do contato mais direto do aluno de Microbiologia com sua futura profissão, que será propiciado pelo mini-curso.

A identificação de bactérias por meio de técnicas moleculares se mostra muitas vezes mais confiável do que quando comparadas com as técnicas não moleculares, segundo Marinella. O modo como algumas destas técnicas são interpretadas podem induzir ao erro. Segundo a professora, alguns métodos não-moleculares baseiam-se em um produto do metabolismo bacteriano. “Por exemplo, alguns testes baseiam-se em análises reativas da bactéria, se consegue produzir algum ácido pela fermentação de um dado açúcar. Assim, identifica-se a espécie pelo produto metabólico liberado, através da mudança de cor no meio de cultura”, explica Marinella.

Os métodos moleculares, por outro lado, baseiam-se em informações genéticas da bactéria para identificá-la. Com essas técnicas, pode-se analisar o genoma inteiro da bactéria ou então utilizar a chamada técnica PCR (reação da polimerase em cadeia, em tradução livre). “Nessa técnica detectamos genes específicos. Se o resultado dos testes for positivo, pode-se identificar a espécie bacteriana que se tem em mãos”, explica Marinella.

A professora comenta que esse tipo de técnica existente desde a década de 80 era muito cara. Entretanto, mais laboratórios no Brasil passaram a utilizar o PCR nos últimos dez anos devido ao barateamento da técnica. “Mais modelos de termocicladores (aparelho para a detecção) estão disponíveis no mercado, assim como o custo das enzimas usadas no processo está diminuindo”, afirma Marinella

As aplicações das técnicas são inúmeras. A PCR, por exemplo, pode-se identificar uma bactéria de forma espécie-específica, ajudando no diagnóstico preciso. Um exemplo de aplicação dessas técnicas é na identificação de bactérias do gênero Staphylococcus, uma das principais causadoras de infecção hospitalar. “Existem muitas técnicas não-moleculares para identificação dessas bactérias, porém muitas não apresentam  eficiência satisfatória”, afirma Marinella. A biologia molecular, segundo a professora, permite a identificação de espécies e até subespécies deste e de outros gêneros.

Contudo, para a professora, mais importante que o diagnóstico clínico, são as análises que geram resultados para dados epidemiológicos. Há um perigo grande de dados desse tipo estarem errados, prejudicando todo o tratamento. “Quando aplicamos técnicas moleculares, podemos fazer a tipagem molecular das bactérias. Depois podemos ter dados epidemiológicos sobre a incidência dessas espécies em hospitais de todo o Brasil”, explica Marinella, ressaltando a importância do diagnóstico preciso para um tratamento bem-sucedido: “A grande problemática é, se identificarmos uma bactéria de maneira errada, o tratamento será errado e aí não teremos sucesso na cura do paciente.”

A professora vê nesse mini-curso uma experiência valorosa para os alunos de Microbiologia. Segundo Marinella, a Semana vai ajudar a estreitar os laços entre aprendizado em sala de aula e as experiências na futura profissão. “Muitas vezes, o aluno sabe a técnica apenas seguindo o protocolo. O objetivo do mini-curso é apresentar ao aluno o fundamento da técnica, para uma melhor compreensão dos temas”, finaliza.