• Edição 099
  • 20 de setembro de 2007

Ciência e Vida

Babaçu pode ser promessa no tratamento e cura da leucemia

Priscila Biancovilli

O Babaçu (Orbignya martiana) é uma palmeira bastante comum no Norte e Nordeste brasileiro, especialmente nos estados do Tocantins, Maranhão e Piauí. É de grande valor comercial, já que dele se aproveitam as folhas para a montagem de cestos, a casca do fruto para a produção de farinha de enriquecimento na alimentação infantil, a farinha do óleo como matéria prima para cosméticos, o caule para ajudar em construções rurais, apenas para citar algumas propriedades. Uma pesquisa desenvolvida na UFRJ está em vias de descobrir mais uma função da palmeira: seu potencial no combate a leucemia.

Os estudos começaram com a tese de mestrado de Magdalena Nascimento Rennó, orientada pelos professores Fábio Menezes e Carla Holandino, da Faculdade de Farmácia.

No estado do Piauí, a amêndoa do babaçu já há algum tempo é popularmente aplicada no tratamento da leucemia. “Este é um fato que julgamos bastante curioso. Será que o babaçu realmente tem alguma propriedade anti-leucêmica? Daí surgiu a idéia de desenvolver esta pesquisa”, explica Carla Holandino.

- No início, estudamos várias linhagens leucêmicas. Entre elas, a que é resistente a múltiplas drogas. Este tipo de tumor desenvolve em sua superfície uma proteína que age como uma bomba de refluxo de substâncias, e impede o tratamento. Estes são os chamados tumores MDR – Multi Drug Resistance, considerados muito críticos para tratamento pela quimioterapia convencional - , continua a professora.

Os primeiros resultados do estudo do babaçu foram bem animadores. Testes in vitro mostraram que suas substâncias mataram as células leucêmicas de maneira drástica, incluindo as MDR. “Estes resultados in vitro foram bastante positivos.

Depois, quisemos testar outros tipos de células, para avaliar se os resultados seriam parecidos. Fizemos o teste com linfócitos humanos normais e tumores não-leucêmicos, comparamos suas sensibilidades com a própria leucemia. Para surpresa nossa, a célula sanguínea normal é muito mais resistente que a célula leucêmica”, atesta Carla.

O trabalho ainda está numa fase preliminar. Não se sabe exatamente quais substâncias do babaçu matam as células leucêmicas. “Nos testes, utilizamos o extrato, que contém uma mistura de substâncias. Por exemplo, ele é muito rico em anti-oxidantes. Isso bate com o dado da atividade anti-tumoral, mas não sabemos ainda, com precisão, quais os componentes exatos do babaçu ativos no combate à leucemia”, afirma a pesquisadora.

Da pesquisa básica para as prateleiras

Quando uma pesquisa acadêmica traz a esperança de tratamento e cura de uma doença grave, sempre surge a dúvida: quando a população poderá experimentar seus resultados? O babaçu realmente pode substituir os atuais tratamentos da leucemia?

- Chegamos a elaborar alguns comprimidos de babaçu, mas ainda não estamos na fase de estudos clínicos, para conseguir registro do Ministério da Saúde e poder comercializar o medicamento - , explica Carla. “No Nordeste, as pessoas comem a semente do babaçu, moendo e misturando ao alimento. Poderíamos fazer isso aqui também, mas é um risco. Estudamos apenas as células in vitro. Lidar com o ser humano, com a vida, não é algo simples. Isso pode dar um problema sério no futuro. Quem sabe esta farinha não tenha uma toxicidade para humanos”, questiona a professora.

De qualquer modo, a farinha do babaçu pode ser encontrada em algumas lojas de produtos naturais. Ela possui diversas indicações, desde o alívio da cólica menstrual até o tratamento da leucemia. A equipe de Carla testou este material in vitro e os resultados não foram promissores. “O que aconteceu foi exatamente o oposto do prometido: o tumor aumentou de tamanho. Quando vimos a composição, percebemos na farinha uma série de substâncias alimentadoras da célula, como o amido. Ainda assim, existe uma indicação popular e muitas pessoas adquirem esta mistura”, avalia Carla.

Não se pode afirmar categoricamente que o babaçu será a nova promessa no tratamento da leucemia, substituindo a quimioterapia convencional. “As pesquisas não estão tão desenvolvidas. Mas, quem sabe um dia...”, finaliza a professora.