• Edição 099
  • 20 de setembro de 2007

Por uma boa causa

Uma doença de muitas faces

Flávia Fontinhas

A medula é o local de formação das células sangüíneas, ocupa a cavidade dos ossos (principalmente esterno e bacia) e é conhecida popularmente por tutano. Nela são encontradas as células-mãe, ou precursoras, que originam os elementos figurados do sangue: glóbulos brancos (leucócitos), glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e plaquetas. O desequilíbrio entre esses elementos pode ocasionar doenças como a leucemia, tema da editoria Por uma boa causa dessa semana.

Trata-se de um câncer, uma neoplasia dos glóbulos brancos (leucócitos), de origem, na maioria das vezes, desconhecida. Tem como principal característica o acúmulo de células jovens (blásticas) anormais na medula óssea, substituindo as células sangüíneas normais.

- As principais manifestações relacionadas à leucemia estão ligadas à incapacidade do indivíduo de produzir células normais do sangue. Portanto, os sintomas mais comuns são: anemia, relacionada à produção anormal de hemácias; aparecimento de infecções, relacionado à produção de leucócitos deficientes; e hemorragia, relacionada à ineficiência de ação das plaquetas - , explica Wolmar Pulcheri, professor do Serviço de Hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Outros sintomas comuns são febre, calafrios, cansaço, fadiga, perda de apetite ou de peso, inchaço ou aumento dos nódulos linfáticos, do fígado ou do baço, surgimento de pequenas pintas vermelhas (chamadas petequias) sob a pele, suor abundante, especialmente durante a noite, e dores nos ossos ou nas juntas.

Tipos de leucemia

Existem vários tipos de leucemia  agrupados em duas categorias principais. Uma delas diz respeito à velocidade com que a doença avança,  a outra sobre quais tipos de células sangüíneas são afetadas.  

- A leucemia pode ser aguda ou crônica. Em uma abordagem mais ampla, a leucemia aguda surge normalmente de forma rápida, causa vários e graves transtornos; principalmente sangramentos, febre e anemias intensas. Já as leucemias crônicas são leucemias de aparecimento mais gradual, lento e aparentemente sem grandes transtornos clínicos; são também mais relacionadas ao aumento de órgãos como o fígado e o baço - , afirma o professor e explica o problema também do ponto de vista laboratorial: “Os indivíduos que têm as leucemias agudas, habitualmente apresentam um hemograma muito alterado, com anemia intensa, leucopenia, neutropenia, e trombocitopenia. Enquanto os indivíduos com leucemias crônicas, habitualmente têm um aumento das contagens leucocitárias, apresentando, entretanto, células menos agressivas, e de aumento gradual.”

Já em relação aos tipos de células afetadas, a leucemia pode se desenvolver em um dos dois tipos principais de glóbulos brancos: nas células linfóides ou nas células mielóides. Quando a enfermidade atinge as células linfóides, é chamada de leucemia linfóide, linfoblástica ou linfocítica. Quando atinge as células mielóides, é chamada de leucemia mielóide ou mielógena.  

- Os tipos mais comuns de leucemia são: leucemia linfóide aguda (LLA), o mais comumente encontrado em crianças; leucemia linfóide crônica (LLC), a mais freqüente no mundo inteiro, acometendo principalmente pessoas acima de 60 anos; leucemia mielóide aguda (LMA), a mais recorrente no adulto; leucemia mielóide crônica (LMC), também sendo mais prevalente nos adultos; e leucemia das células pilosas, um tipo incomum de leucemia crônica -, explica Wolmar.

Diagnóstico e tratamento 

- O diagnóstico é feito observando o sangue do paciente. Inicialmente é feita uma avaliação do sangue periférico, o hemograma, e depois avalia-se também, por aspiração ou biópsia, a medula óssea- , afirma o médico.

Além disso, pode ser feita uma punção lombar (aspiração feita com uma agulha injetada na espinha para recolher uma amostra do líquido espinhal) para determinar se a doença não se espalhou para a espinha ou para o cérebro. Exames de raios-X podem também ser pedidos, para determinar se existem sinais da doença na região do peito.  

O tratamento para leucemia é complexo. Pode variar de acordo com o tipo da doença, e mesmo assim não é sempre o mesmo para todos os pacientes. O médico irá avaliar o melhor tratamento para cada paciente, dependendo do número de células afetadas, de ser a primeira manifestação da doença, da idade entre outros fatores.  

Em geral, as leucemias agudas requerem quimioterapia intensa. As linfóides agudas apresentam resultados mais favoráveis à quimioterapia que as mielóides agudas.

- O tratamento para a leucemia linfóide aguda na criança, em quem predomina a doença, é bastante eficaz. A taxa de cura em alguns países chega a 80%. Apesar dos resultados com quimioterapia em pacientes de leucemia mielóide aguda não serem tão eficazes, existe ainda a possibilidade de transplante de medula óssea; principalmente para pacientes com menos de 50 anos com um doador compatível - , diz o professor.

Já as leucemias crônicas, por serem doenças graduais, necessitam de um tratamento de longa duração, mas também menos agressivo.

- Existem vários tipos de medicamentos capazes de controlar as leucemias crônicas no mundo hoje; nenhum deles tem potencial de cura. Mas, em geral, pacientes com doenças crônicas podem ser tratados com medicamentos relativamente simples, por via oral e muitas vezes sem necessitar de internação. A evolução mais lenta dessa enfermidade facilita o tratamento que avançou muito nas últimas décadas - , afirma o professor, se referindo principalmente à descoberta de um novo medicamento para tratar a leucemia mielóide crônica, composto de Mesilato de Imatini; e afirma “Esse medicamento aumenta a sobrevida dos pacientes e o potencial de cura da doença, é um grande avanço no tratamento. E, com isso, pode mudar a história de um diagnóstico antes considerado fatal para a maioria das pessoas”.

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