• Edição 098
  • 13 de setembro de 2007

Microscópio

Simpósio debate terapias avançadas e células-tronco


Julianna Sá

Há grande polêmica na área bioética, os estudos com células-tronco e as terapias gênicas são pautas cada vez mais reais não só de interesse científico para pesquisas laboratoriais, mas de debates e trocas de informação e conhecimento. Capazes de, em sua multiplicação, originar diferenciados tecidos, as células-tronco podem representar um alento para muitos e garantir a chance de tratamento para diversas doenças, em geral crônico-degenerativas. Os estudos em todo o mundo avançam e o Brasil também progride nas pesquisas, inúmeros especialistas se dedicam às investigações no campo das terapias celulares, gênica, além da nanotecnologia aplicada à saúde.

Em hospitais de diferentes estados brasileiros ocorrem os estudos em células-tronco e terapias celulares, divididos em pré-clínico e clínico. O primeiro diz respeito aos estudos realizados em modelos animais; os clínicos utilizam modelo humano. Ambos já são realizados na UFRJ, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o HUCFF, que conta, inclusive, com uma Comissão de Pesquisa em Terapia Celular. Tal grupo foi o responsável pela criação do PROTECEL, Programa de Terapia Celular que, dentre outras funções, garante a realização de seminários e palestras que possam disseminar tal técnica.

- O Hospital Universitário trabalha com pacientes de acidente vascular cerebral (AVC), em sua fase aguda, de doenças hepáticas e cardíacas. No entanto, ainda se encontram na fase 1 do processo, ou seja, o período no qual se avalia a segurança do estudo - , garante Rosália Mendez-Otero, professora e pesquisadora da UFRJ. Isso acontece porque o estudo é experimental e exige, inclusive, ao paciente, voluntário, atender os critérios de inclusão e exclusão, as análises precisam ser submetidas à aprovação de um Comitê de ética em pesquisa na universidade.

As fases seguintes, 2 e 3, também requerem aprovação para, então, trabalhar com um grupo controle, composto de doentes não incluídos no processo de terapia celular, e com o grupo que recebe tratamento. “O médico, quando avalia os pacientes, não tem informações a respeito de qual deles executa o tratamento. Isso é um recurso para verificar a eficácia, destaca a pesquisadora. O processo tem a mesma nomenclatura e divisão de um teste de remédio, mas os mecanismos se diferem, já que no caso do remédio, manipula-se também em indivíduos saudáveis”.

Outra divisão dos estudos é a utilização de células adultas e de embrionárias, razão da polêmica que remete à ética médica e até mesmo à religião. O Brasil ocupa lugar de destaque na área e já é bem posicionado quando se trata de células-tronco adultas, comparado a outros países. No entanto, as células-tronco embrionárias ficam restritas à pesquisa. “A lei de biosegurança é relativamente recente, então os estudos ainda são preliminares”, complementa a pesquisadora Rosália Mendez-Otero.

O Simpósio

Pela pertinência do assunto, além do interesse em promover maior cruzamento de resultados e experiências com respaldo em pesquisas realizadas, é que durante três dias, de 21 a 23 de setembro, acontece o II Simpósio Internacional de Terapias Avançadas e Células-Tronco, sediado na cidade do Rio de Janeiro este ano. Debates em mesas-redondas, conferências e apresentação de painéis de trabalhos inscritos e selecionados, compõem o evento que pretende abordar “várias áreas de aplicação das terapias celulares incluindo desde o sistema nervoso central até o sistema locomotor”, explica Rosália Mendez-Otero, também componente da Comissão Organizadora do evento, com vários profissionais da UFRJ.

Com a presença de dez convidados estrangeiros e diversos pesquisadores de todo o país, o simpósio apresenta discussões sobre terapias celulares para doenças cardíacas, hepáticas, renais, neurológicas, inflamatórias e auto-imunes, doença de chagas, entre outras, além de debater o uso de células embrionárias, ou já adultas. A organização espera cerca de 700 pessoas durante os três dias, e aproveita para lançar o livro Terapias avançadas, no qual vários dos professores da UFRJ, palestrantes no evento, são autores de capítulos. “O congresso, ano passado realizado em Salvador, na Bahia, tem extrema importância para troca de conhecimento entre os pesquisadores de diversos países”, encerra a coordenadora.