• Edição 098
  • 13 de setembro de 2007

Argumento

Pandemia de gripe aviária ainda distante


Marcello Henrique Corrêa

Nos últimos anos, a Organização Mundial da Saúde tem apresentado ao mundo informações preocupantes a respeito de uma possível pandemia de gripe aviária. Declarações desse tipo têm dividido opiniões de especialistas por todo o mundo. Os pontos de vista variam: alguns temem algo semelhante à aterradora gripe espanhola, vitimadora de milhões de pessoas em todo o mundo, em 1918; enquanto isso, outros demonstram uma visão mais ponderada sobre o assunto, afirmando ainda ser cedo para tomar qualquer medida. De qualquer forma, ninguém nega o risco.

A gripe aviária é, conforme o nome indica, uma enfermidade caracterizada pela rápida disseminação entre aves em geral. A doença pode destruir granjas inteiras caso não se tome medidas de isolamento e sacrifício dos animais infectados. O vírus passou a chamar a atenção do mundo quando demonstrou ser capaz de saltar a barreira das espécies. Em 1997, Hong Kong presenciou a morte de sete pessoas das 20 infectadas pelo temido vírus H5N1.

— Não podemos falar em chances reais de uma pandemia, pois ninguém é profeta. Temos probabilidades e especulações —, afirma Fernando Portela Camara, professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para Portela, as chances de epidemia dependem de muitas variáveis. “O vírus da gripe aviária, apesar de se propagar facilmente entre as aves, tem dificuldades, devido a características genéticas, de se transmitir entre humanos. Somente por mutações que alterem essas características, poderíamos pensar em uma epidemia”, avalia o professor.

Fernando Portela explica ainda, para acontecer uma epidemia séria as mutações do vírus deveriam, além de possibilitar a transmissão entre humanos, diminuir sua capacidade de matar o hospedeiro. “Admitindo-se o vírus sofrer mutações, caso sua letalidade não diminuísse, as chances de uma pandemia ainda estariam distantes, pois um vírus que mata o seu hospedeiro em poucos dias não pode proliferar, simplesmente por falta de tempo”, explica Portela, lembrando a taxa de letalidade do vírus Influenza, de 1918: cerca de 3%, considerada baixa.

Como combater a epidemia

O professor é enfático: “Nenhum país no mundo está preparado para combater uma epidemia de gripe aviária.” Para Fernando Portela, não se pode confiar totalmente nos medicamentos como o oseltamivir. Ele alerta, como o vírus apresenta forte capacidade de mutação, estocar a substância não irá ajudar no combate a uma possível pandemia. “Em uma segunda ou terceira onda da doença, o vírus certamente apresentaria uma forma resistente ao medicamento”, afirma.

A respeito de vacinas, Portela não comemora os sucessos de testes anunciados na imprensa. Para o professor, não se pode ainda afirmar que vacinas como a produzida na Hungria, funcionem em campo. “Muito disso tudo é para passar sensação de segurança à população; temos que esperar para ver os resultados reais”, opina.

Para o professor, a área de saúde no Brasil ainda não precisa se preocupar com a gripe. Além das chances de uma pandemia serem raras, segundo Portela, o país sofreria mais no âmbito econômico — já que é um dos maiores exportadores de aves do mundo — do que na saúde pública. De qualquer forma, Fernando Portela afirma que qualquer governo tem obrigação de estar preparado para combater qualquer doença, garantindo a saúde da população.