• Edição 097
  • 10 de setembro de 2007

Notícias da Semana

Inauguração do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear


Priscila Biancovilli

No último dia 3 de setembro, uma cerimônia no auditório Quinhentão celebrou a inauguração do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear Jiri Jonas (CNRMN). A platéia durante a cerimônia era formada, em sua maior parte, por professores, estudantes e diretores de diversos departamentos e institutos do Centro de Ciências da Saúde. A inauguração fez parte do “2nd Annual Meeting of the Millenium Institute for Structural Biology in Biomedicine and Biotechnology”, organizado pelo IMBEBB (Instituto Milênio de Biologia Estrutural em Biomedicina e Biotecnologia).

Jerson Lima da Silva, diretor do CNRMN, contou um pouco da história do Centro e de como surgiu a idéia: “A idéia surgiu no início dos anos 90, como um grande sonho distante de ser realizado, e hoje estamos aqui. Contamos com o apoio de diversos institutos, como o CNPQ, Finep, Faperj e a própria UFRJ, pela cessão do espaço e todo o apoio”. Ao final de sua fala, Jerson homenageou quatro significativos contribuintes para o sucesso da iniciativa: Leopoldo de Meis (professor do Instituto de Bioquímica Médica), João Ferreira (ex-decano do CCS), Almir Fraga (atual decano) e Aloísio Teixeira, reitor.

Em seguida, foi a vez da diretora do Instituto de Bioquímica Médica, Débora Foguel, fazer seu discurso. A professora afirmou, “esta conquista tem sabor especial, porque vem acompanhada do suor de muita gente, como os professores da UFRJ Jerson, Fábio, Ana Paula, Lúcia, José Ricardo, entre outros”.

Reinaldo Felipe Néri Guimarães, do Ministério da Saúde, agradeceu todo o apoio da UFRJ e homenageou o professor Leopoldo de Meis, afirmando que “se Jerson está avançando e crescendo, é porque está apoiado no ombro de gigantes”. Luiz Edmundo Costa Leite, do Ministério da Ciência e Tecnologia, reforçou sua responsabilidade naquele momento: “Estou representando Alexandre Cardoso, atual secretário de Ciência e Tecnologia no estado do Rio de Janeiro. Ele não pôde vir hoje, mas com certeza não perderá uma oportunidade de vir aqui e visitar o centro.”

O atual decano do CCS, Almir Fraga, deu os parabéns ao professor Jerson e a todos aqueles que contribuíram para este vitória, reforçando os comentários dos presentes à mesa. Para finalizar a cerimônia, o reitor Aloísio Teixeira fez seu discurso. Espontâneo e bem-humorado comentou que quase não compareceu à inauguração, porque “estes dias têm sido  intensos. Tivemos uma redução na receita da universidade, e nestas situações o reitor deve estar à frente para levar as primeiras pedradas. O CRMN foi construído com a idéia de independência de grupo ou departamento. A idéia era ele ser um patrimônio da UFRJ como um todo. Quando conversei isso com o Jerson, me impressionei. Ele disse que a idéia era justamente esta, construir algo amplo, não apenas parte da universidade, mas ativo em âmbito nacional”.

Após a cerimônia de abertura, em continuidade ao simpósio de Biologia Estrutural, palestrou o prêmio Nobel de Química em 2002, o suíço Kurt Wüthrich, seu tema foi “Historical Development and Current Trends of NMR in Structural Biology”.

 

 

 


Em palestra no Rio de Janeiro, Patch Adams mostrou que o amor é contagioso


Julianna Sá

Manhã fria de domingo cinzento. Era o que se via no dia 2 de setembro, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na cidade do Rio de Janeiro, onde fica o Clube Monte Líbano, sede da palestra “Humor e saúde” com Patch Adams. Poucas pessoas se exercitavam ou passeavam, o tempo estava mesmo para ficar em casa. No entanto, ao entrar no auditório onde aconteceria, em poucos minutos, uma descontraída conversa com o médico imortalizado por seu trabalho inusitado em unir amor, amizade e humor para tratar seus pacientes, esquecia-se o frio, o vento e o cinza daquele dia. Pela lotação máxima, algumas poucas pessoas ainda faziam fila na esperança de alguma falta ou desistência para também poderem ser contagiados pelas palavras que Hunter Adams falaria durante quase três horas. Três horas que passaram despercebidas dentre as histórias de vida e de trabalho, que chegam a se confundir.

De ar bem humorado e uma roupa pra lá de colorida, o médico iniciou a palestra com uma pergunta: “Quem de vocês ainda não descobriu que o humor é um ótimo remédio?”. Se referia a inúmeras pesquisas feitas e até questionadoras de seu modo de trabalho, em relação à metodologia não convencional de atuação e ainda completou: “Não diria como os jornalistas, que adoram frases de efeito, que o riso é melhor remédio. A amizade é o melhor remédio, mas o humor é um ótimo meio de se aproximar das pessoas para amá-las.”

Demonstrando postura crítica diante das atitudes de seu país, já que é norte-americano, Patch Adams contou ainda um pouco de sua história, revelando que seu pai faleceu quando ele tinha ainda 16 anos, durante uma guerra. “Meu pai era militar e perdeu a vida na guerra, já que os EUA adoram matar gente ao redor do mundo. Por isso, eu e o restante da minha família, que vivíamos fora do país, retornamos. Assistir uma sociedade altamente racista e preconceituosa partiu ainda mais meu coração, já machucado pela morte do meu pai. Um país que se intitula a ‘terra dos livres’ não respeitava suas diferenças sociais e isso eu não suportei”, explicou Patch Adams.

Em conseqüência de uma vida infeliz, por rejeitar o modo de organização social em que tinha que viver, ainda jovem, Hunter Adams tentou suicídio por três vezes, num só ano, o que o levou à internação em uma clínica psiquiátrica, por vontade própria. “Nesse período minha vida mudou. Descobri que você não se mata pra mudar as coisas, você faz revolução”.

A partir daí a trajetória já conhecida do médico começou a tomar forma e Adams dedicou seus dias para se tornar um instrumento de vida. “Comecei com brincadeiras bobas em elevador, tudo para me aproximar das pessoas, fazê-las rir, ter uma vida melhor.” A sua vontade de transformação ele uniu uma vestimenta divertida, além de acessórios de animador, trouxe para a prática médica uma humanização que, segundo ele, é escassa.

Adams ainda contou de suas experiências em guerras, em países pobres e repletos de conflitos, mostrou que a importância do trabalho dele está exatamente em alcançar o que parece impossível. “Assistir africanos refugiados, sem moradia e em péssimas condições de vida e saúde, se divertirem com o meu trabalho e dos voluntários me mostra o porquê de viver”.

Explicando um pouco sobre o tema da palestra, “Humor e saúde”, o médico declarou acreditar que o cerne de todas as grandes relações pode ser o humor e que brincar pode sim salvar vidas. A medicina, para ele, é uma profissão conceituada figurante no topo de uma hierarquia, o que permite ao médico certo distanciamento e indiferença. No entanto, a medicina  existe exatamente para tratar de pessoas, não somente de doenças, já que não está circunscrita a um laboratório; por isso ele acredita tanto no que faz. Para Hunter Adams, desconhecer e se afastar do paciente significa não permitir o tratamento adequado que cada indivíduo necessita e merece ter.

Descrevendo um pouco mais sua trajetória, explicou que ao entrar para a medicina seu interesse era fazê-la meio de transformação social e, ao longo dos anos, percebeu a população pobre sem atendimento adequado. Por isso ele luta para conseguir abrir hospitais, seguindo suas idéias de trabalho, capazes de dar o atendimento a todos os que não possuem assistência. A intenção dele, na verdade, não é somente atender e cuidar dos pacientes, é fazer com que esses se sintam parte de algo, é permitir uma relação de amizade, amor e não de dívida eterna.

– Ser bom ouvinte, ter compaixão e atenção, além de nunca demonstrar pressa são fatores essenciais numa consulta médica, destacou Patch Adams. Por essas razões é que sua primeira consulta durou cerca de quatro horas. “Quis me certificar sobre tudo na vida do meu paciente, não só aspectos de sua doença, mas características da vida que ele levava”, garantiu.

Para ele violência, pobreza, política, meio ambiente e saúde fazem parte das questões médicas e devem ser consideradas. “É por isso que cuidar é uma experiência de êxtase.” Por isso acredita no envolvimento profissional de modo algum separado de um envolvimento pessoal. “Quem aqui não quer transformar o mundo em uma coisa melhor, quem não quer ser um médico, uma enfermeira ou um melhor profissional de qualquer outra área?” A resposta foi unânime e seu discurso parecia mesmo deixar em todos uma vontade imensa de transformar o mundo, transformar um pouco as relações que travam no dia-a-dia.

Ao final, depois das perguntas, que serviram propriamente para agradecimentos e declarações de admiração, o público parecia deixar o auditório levando parte da experiência e parte da vontade motriz de todos os anos de trabalho desse médico. Os presentes pareciam mesmo levar um pouco de Patch Adams pra casa.


Em busca da prevenção da AIDS


Marcello Henrique Corrêa

Desde os anos 80, o vírus do HIV já destruiu muitas vidas. Ainda hoje, a AIDS gera muitos problemas e é temida por todos. Para discutir os projetos de prevenção da doença, professores e estudantes da saúde se reuniram na última quarta-feira, 5 de setembro, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. O professor Paulo Feijó Barroso, coordenador médico da Unidade de Avaliação de Vacinas anti-AIDS da UFRJ dirigiu a reunião.

Mesmo tão devastadora, a doença, hoje, já tem tratamento. A Terapia Anti-retroviral (TARV) — reconhecida pelo seu chamado comum, “coquetel” — inibe a reprodução do HIV no sangue. Contudo, para Paulo Barroso, é preciso lembrar os contras desse método. “A terapia anti-retroviral não é desprovida de efeitos colaterais, além de precisar ser continuada por toda a vida”, comenta o médico ao apontar dados de uma pesquisa, reveladores de que o aumento de mortes por eventos cardiovasculares é proporcional à exposição ao coquetel.

Há diversas formas de preparo da vacina. As primeiras tentativas de produção, segundo Paulo, baseavam-se na inoculação do vírus atenuado ou desativado. “Apesar de até hoje ouvirmos gente falar nisso, não se considera nos campos científicos uma possibilidade real, devido à capacidade de mutação do HIV”, avaliou o médico.

Dentre os tipos prováveis de vacinas anti-AIDS, a que seria mais eficaz ainda não existe de fato. A vacina de plasmídeos de DNA ainda está sendo desenvolvida e testada no projeto Praça Onze, em andamento no Hospital Escola São Francisco de Assis (HESFA) da UFRJ desde 1995, buscando a cura da AIDS.

No Brasil, estes estudos existem há muito tempo. Desde 1897, alguns produtos vacinais foram testados até as fases pré-clínicas e apontaram dados reveladores, como relatou Paulo Barroso: “Os resultados demonstraram que a vacina não apresentou efeitos colaterais graves. A notícia ruim é que nenhum dos protótipos apresentou nenhum grau de proteção”.

É longo o caminho da pesquisa e dos testes com as vacinas. É necessário passar por diversas etapas para provar a eficácia e a segurança do método, que começam com testes em animais até testes de eficácia em milhares de voluntários. Essa etapa é mais uma dificuldade a ser vencida. Paulo explicou que, para um estudo com cerca de 40 voluntários, são contatadas mais de duas mil pessoas. 

Resultados

Em 2002, houve um primeiro estudo, em que macacos foram vacinados com o adeno-vírus – atualmente, é uma das principais opções dos pesquisadores – e apresentaram resultados positivos. O médico, contudo, ressaltou: “Estamos aprendendo que nem tudo que acontece com o macaco acontece com o homem.”

O sucesso dos testes está em considerar que os métodos interferiram na evolução da doença, por exemplo, diminuindo o tempo do consumo de anti-retrovirais. “Começamos a caminhar lentamente, de uma posição zero, alguns anos atrás, para alguma resposta, agora”, considerou o médico. Os estudos já integram projetos por todo o mundo em universidades e centros de pesquisas – entre eles está o Praça Onze.


Médicos discutem a síndrome dos ovários policísticos e a TPM


Monique Pereira - Agência UFRJ de Notícias / Praia Vermelha

O Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ realizou mais uma sessão semanal do Centro de Estudos, desta vez com o tema “Transtornos metabólicos e do humor em mulheres”, em parceria com o Instituto de Ginecologia da UFRJ.

O médico ginecologista Márcio Ávila esclareceu as dúvidas sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos – SOP em sua modalidade grave, aquela cuja evolução é direcionada para um quadro prejudicialmente metabólico: “Alguns pesquisadores ainda questionam a existência dessa síndrome. Aos poucos ela vem garantindo espaço clínico. Scott M. Grundy, professor da Universidade do Texas, defendia a síndrome existir se fosse definida como a multiplicidade de fatores de risco”, afirmou o ginecologista.

Márcio destacou como fatores de risco a obesidade, o sedentarismo, a alimentação inadequada e a idade entre outros; salientou ser esta uma doença silenciosa, desenvolvida dos 15 aos 20 anos, emite sinais  geralmente não valorizados no momento do diagnóstico. Segundo o médico, a síndrome metabólica guarda associações com alguns tipos de câncer, distúrbio do sono, esteatose hepática, depressão e, possivelmente, com o mal de Alzheimer.

Contudo, Márcio Ávila deixou claro que existem especificações: “Os ovários policísticos não são exclusivos da SOP, são apenas um sintoma em busca de uma doença.” Os sintomas visíveis da SOP, de acordo com o palestrante, são o hirsutismo – desenvolvimento exagerado de pêlos – a acne e, de certa forma, a obesidade: “Mais do que reparar o sobrepeso, é necessário atentar para a circunferência abdominal”, declarou. A  resistência à insulina e o transtorno depressivo são fatores invisíveis.

Ávila garantiu que o diagnóstico da SOP é complexo, envolve a presença de ovários policísticos, de distúrbios da ovulação e de algum estado hiperandrógeno. No entanto, se apenas forem constatados os dois últimos, a SOP pode ser confirmada, mesmo na ausência de ovários policísticos.

Segundo, o ginecologista e doutorando da UFRJ, Ricardo Bruno, alguns autores afirmam que pelo menos 80% das mulheres possui algum tipo de Tensão Pré-Menstrual – TPM. Trata-se de uma patologia de multiplicidade etiológica especificamente inconclusiva: “O conceito de TPM consiste de manifestações pós-ovulatórias, que podem ser físicas, funcionais ou cognitivas”, afirmou Ricardo.

A Disforia Pré-Menstrual – DPM, de acordo com o ginecologista, é a forma mais grave de TPM e acomete, geralmente, cerca de 3 a 8% das mulheres em idade madura, tendo em vista as freqüentes preocupações estranhas à adolescência: “Não se conclui a causa determinante para a DPM, mas a hipoglicemia e o histórico familiar de depressão estão muito ligados ao desenvolvimento da Disforia”, declarou. Já a alteração do humor, a ansiedade, o distúrbio do sono, a mastalgia – dor mamária – e cefaléia são alguns dos sintomas clássicos da DPM.

Ricardo Bruno observou nas pacientes uma compulsão por carboidratos, o que certamente só piorará a situação: “A alimentação mais saudável é fundamental, assim como os exercícios físicos. O álcool e a cafeína devem ser evitados, pelo menos nesse período pré-menstrual”, recomendou o palestrante.

A médica psiquiátrica, Arabella Rassi, apresentou uma pesquisa do IPUB, realizada com colaboração do Instituto de Ginecologia, com pacientes do ambulatório de Síndrome dos Ovários Policísticos, para avaliar a prevalência de transtornos psiquiátricos: “A importância desse estudo é que a SOP é a endocrinopatia mais comum em mulheres, com prevalência de 5 a 10%. Nosso objetivo é relacionar o diagnóstico psiquiátrico oficial a todos os dados obtidos nos exames dessas pacientes”, afirmou.

Já o psiquiatra e pesquisador do IPUB, Antônio Egídio Nardi, adiantou alguns dados provenientes de um estudo levado pelo doutor André Barciela Veras, a ser publicado pela revista de psiquiatria do Rio Grande do Sul: “O doutor André fez um levantamento epidemiológico no ambulatório de Perimenopausa – transição entre a vida fértil e a menopausa – tentando relacioná-lo, principalmente, aos casos depressivos e ansiosos”, declarou Nardi. Segundo o pesquisador, a intenção desse estudo é mostrar que uma escala simples e rotineira no âmbito psiquiátrico, a escala de Black Kuppermann, pode ajudar na identificação de quadros depressivos e de ansiedade. A aplicação desta escala, no âmbito da pesquisa, freqüentemente já identifica pelo menos metade dos casos.