• Edição 095
  • 23 de agosto de 2007

Ciência e Vida

Descoberta de bactérias pluricelulares magnéticas na lagoa de Araruama


Priscila Biancovilli

A lagoa de Araruama, no litoral do Rio de Janeiro, foi a fonte da descoberta de um novo tipo de espécie. A bactéria “Candidatus Magnetoglobus multicellularis” foi encontrada pela equipe do professor Ulysses Lins, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, da UFRJ. Estas “Magnetoglobus” são diferentes por diversas razões. Elas são compostas por várias células bacterianas, que formam uma estrutura em esfera. Se um ímã for colocado próximo a este conjunto, elas responderão ao campo magnético.

Acredita-se que estas bactérias utilizam esta “funcionalidade” para navegar nos sedimentos e na água, guiando-se pelo campo magnético da Terra. Essas bactérias apenas respondem ao campo magnético, se movem e se multiplicam se estiverem juntas. Essa é uma das características peculiares da espécie. “Outra característica é o ciclo de vida, totalmente multicelular: “elas se dividem, aumentando o tamanho de suas células e, aproximadamente, dobrando o volume de todo o organismo. Este é um método diferente das células não-magnéticas, e uma novidade na microbiologia. Acreditávamos que toda vez que algum microorganismo fosse se dividir, ele tivesse que passar no ciclo de vida dele por uma etapa em que apenas tivesse uma célula. O comum é que se tenha uma célula que saia e cresça para formar um indivíduo, como por exemplo, o espermatozóide e o óvulo, as células reprodutoras da nossa espécie”, explica Ulysses.

Pelo fato de a “Magnetoglobus” ser bastante diferente das outras bactérias, reuniu características suficientes para ser classificada como nova espécie. Porém, para que o nome seja oficializado, é necessário que se consiga cultivar as bactérias em uma cultura pura. Como isso ainda não foi feito, a nomenclatura atual contém o nome Candidatus, que é um nome ainda não definitivo. Ulysses esclarece que “quando temos características bem distintas que separam uma bactéria das outras, mesmo sem ter a cultura, conseguimos dar um nome prévio”.

As bactérias magnéticas são bem comuns. Descobertas em 1975, têm minúsculos cristais de magnetita no interior de seus corpos. Podem ser encontradas em água doce ou qualquer local que contenha sedimento. A novidade da equipe de Ulysses é a descoberta de bactérias em formato de globo.

Esta pesquisa é desenvolvida desde 2001, e conta com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade de São Paulo e Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. “A lagoa de Araruama é um lugar propício para a proliferação dessas bactérias, já que é pobre em oxigênio e rica em sulfeto. Não só em Araruama, mas também a lagoa Rodrigo de Freitas é um meio propício para essas espécies”, explica o professor. Bactérias magnéticas são encontradas em quase todo o corpo de água que tem um pouco de sedimento. Porém, os “Magnetoglobus” (esféricos) são mais encontrados em meios pobres em oxigênio.

Cada célula da bactéria produz cristais, que são ímãs. “Diz-se que os ímãs podem favorecer a sobrevivência das espécies, mas no mundo, hoje, existem muito mais bactérias não-magnéticas que magnéticas. Portanto, essa explicação é um pouco duvidosa”, avalia o professor.

Algo interessante é que a forma desse cristal que a bactéria faz é diferente do que se encontra fora do sistema biológico. Isso porque a bactéria é capaz de controlar o tamanho, a forma e a composição química do cristal, de uma maneira ainda desconhecida, que não é encontrada normalmente na natureza. “Quando descobrirmos o método de produção destes magnetos, conseguiremos construir ímãs do jeito que quisermos, e isso trará muitas vantagens para a indústria”, afirma Ulysses.