• Edição 095
  • 23 de agosto de 2007

Por uma boa causa

Crianças não querem mais pintar somente o sete

Julianna Sá

O uso de cosméticos de modo desordenado, ou até mesmo sem os cuidados básicos de remoção, já representa um problema para a pele de inúmeras mulheres. Porém, não somente por influência da mídia, mas por questões culturais e sociais, esses problemas, hoje, podem fazer parte do cotidiano das crianças. É cada vez mais comum observá-las fascinadas, em especial, pela maquiagem, antecipando o uso que, antes, figurava suas vidas de maneira lúdica, em brincadeiras. Com intuito de auxiliar aos pais a orientar e a lidar com o interesse precoce das meninas, a editoria Por uma boa causa dá continuidade à série de reportagens Crianças: pode ou não pode?, esclarecendo algumas questões acerca desses produtos, atualmente, tão sedutores à crianças.

O Brasil já está entre os maiores consumidores de produtos de beleza em todo o mundo. Novas embalagens, cores e vantagens oferecidos por esses cosméticos despertam não só o desejo das mamães em manter bela aparência, mas também os de suas filhas. No entanto, é preciso ter cuidado. Tendo a pele mais sensível, e menor conhecimento a respeito dos males que tal química pode provocar, as crianças podem tornar uma brincadeira saudável em hábito diário, se não forem intruídas e alertadas por seus pais.   

Essa vontade não precisa ser coibida, mas deve ser tratada com atenção, acredita Simone Saintive, dermatologista do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ). A professora acredita em um uso esporádico, como uma brincadeira.

Se a criança desejar utilizar a maquiagem, que o faça no sentido lúdico, de fantasia, sempre com a supervisão de um adulto, tanto para utilização como para remoção do produto. O uso eventual não provoca problemas — explica a dermatologista.

Contudo, não se deve estimular tal interesse, acredita Simone. “Adultos, pediatras e dermatologistas devem desencorajar o uso freqüente de maquiagem”, complementa a professora. O alerta é feito porque há muitos casos em que as mães acreditam ser simplesmente um estímulo à vaidade e que é importante, portanto, incentivar.

A proibição não deve ser radical, afinal, pode despertar maior interesse na criança. O ideal é procurar produtos desenvolvidos especialmente para o uso infantil, que não tenham contra-indicações, evitando, assim, problemas de pele. “Os perigos desse uso são uma sensibilização da pele, já que quanto mais cedo se entra em contato com uma substância, maior a chance de desenvolver alguma alergia a esse produto”, destaca Simone Saintive. A maquiagem infantil pode ter, através de uma permissão concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) gosto ruim para evitar o desejo de ingestão por parte da criança. Além disso, apresenta também menor quantidade de substâncias químicas e fácil aplicação e remoção.

Outra precaução a ser tomada diz respeito à maquiagem de bonecas, utilizadas em brincadeiras. A dermatologista alerta que tais substâncias confeccionadas para os brinquedos são, geralmente, tinta para plástico e não maquiagem, não sendo própria para uso na pele de adultos, tampouco na de crianças.

Outros riscos oferecidos pela maquiagem, no caso da criança, é a aplicação em locais não adequados. Não remover adequadamente também pode causar problemas, alerta a dermatologista. “Principalmente no início da adolescência, quando a pele já começa a ficar mais oleosa, esses produtos podem favorecer ainda mais essa oleosidade, agravando o quadro de acne”, exemplifica.

A vontade precoce por usar maquiagem, entre outros produtos de beleza é comum e nem sempre é possível classificá-la como uma forma de encurtamento da infância. “É natural e até faz parte de uma formação da identidade feminina. Porém, não deve ser estimulada para que uma brincadeira saudável não se torne um desejo cotidiano na vida da criança”, conclui Simone Saintive.