• Edição 095
  • 23 de agosto de 2007

Notícias da Semana

Aula Inaugural de Odonto


Flávia Fontinhas

Foi proferida, dia 16 de agosto, a Aula Inaugural da Faculdade de Odontologia, no Anfiteatro 1. A aula foi ministrada pelo professor Ítalo Honorato Alfredo Gandelmann, cirurgião-dentista e ex-professor da Faculdade de Odontologia.

O professor citou diversos nomes de docentes, médicos e dentistas, que tiveram uma grande participação na construção do que hoje é a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FO/UFRJ). Mestres que, segundo ele, ensinaram seus alunos não somente a arte da odontologia, mas também os pilares de sua formação humanística e moral.

O professor mencionou também acontecimentos históricos marcantes para a Faculdade de Odontologia da UFRJ. Como por exemplo, sua formação como curso, através do decreto N.º 9311 de 25 de outubro de 1884. E sua transferência do campus da Praia Vermelha, para o campus da Cidade Universitária, no ano de 1979.

Ítalo alertou os alunos a não inverterem suas prioridades. E, com isso, não desprezarem o que é velho pela novidade, não colocarem o conhecimento à frente da sabedoria, a ciência adiante da arte, a esperteza na frente do bom senso, e nunca tratarem pacientes como casos, ou fazerem a cura de uma doença ser mais dolorosa do que o sofrimento em si.

Por fim, recomendou aos novos e velhos alunos que tratassem seus pacientes como gostariam de ser tratados. E deixou claro que a finalidade de qualquer estudo ou pesquisa deve ser o de conceder aos pacientes um tratamento melhor e mais digno.

 


Abordagem filosófica na Aula Inaugural de Nutrição


Marcello Henrique Corrêa

Na última segunda-feira, dia 20, o curso de Nutrição realizou sua aula inaugural. O evento ocorreu no Auditório Professor Rodolpho Rocco — o Quinhentão — e contou com a palestra do professor da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), Paulo Vaz. O professor abordou as percepções de saúde e alimentação de um ponto de vista histórico e filosófico.

Hoje em dia, a alimentação figura em um lugar de destaque na lista de preocupações de um indivíduo. O conceito de sofrimento é fundamental para compreender o porquê dessa tendência que marca a sociedade contemporânea. O professor citou Nietzsche para explicar como o indivíduo percebe a idéia de sofrimento: “os seres humanos começaram a se perder quando começaram a pensar que sofrimento é igual a castigo”.

A partir desse raciocínio, o professor chegou a idéia de que o indivíduo, dessa forma, tenta se desvencilhar do sofrimento impondo-se voluntariamente ao sofrimento. “É preciso sofrer para não sofrer. O homem acredita que o sofrimento voluntariamente imposto ajuda a dar sentido ao sofrimento”, explicou Paulo.

— No contexto contemporâneo, a alimentação representa o lugar em que pensamos, no nexo entre presente e futuro e, simultaneamente, é um jogo muito claro entre prazer e sofrimento —, continuou o professor, comentando que a tendência geral é abster-se dos prazeres para não sofrer no futuro.

Recomendações médicas, como não comer carne vermelha, por exemplo, representam esse conceito em nosso cotidiano. A alimentação passa assumir o papel de “local de imoralidade”, isto é, o local onde o indivíduo encontra o motivo para o sofrimento, o erro.

Paulo Vaz comparou o comportamento humano a uma conduta de economista: “o ser humano estabelece relações de crédito e dívida; quanto mais moralmente se comportar, mais recompensas terá no futuro; quanto menos moralmente se comportar, por outro lado, mais sofrimentos terá”.

O comportamento alimentar dessa forma é regido por essas relações, tendo que passar, contudo, por um dilema entre prazer presente e sofrimento futuro. “O mesmo canal de TV que apresenta programas sobre dietas e saúde apresenta também programas de gastronomia e culinária”, comenta Paulo, exemplificando essa tensão por que vive o homem contemporâneo.

A ciência contemporânea assumiu um papel que lhe permitiu quebrar a idéia de equilíbrio relacionado à saúde e desequilíbrio, à doença. Para Paulo, essa premissa conduz o raciocínio a uma idéia de castigo religioso. A medicina contemporânea passa a localizar no corpo os motivos de sofrimento. Entretanto, o conceito de doença ainda era ligado a quando o corpo expressa algum sintoma; a saúde era representada pelo silêncio do organismo.

A década de 50, contudo, muda essa concepção, como nos explica o professor. “A partir desse momento, ocorre a construção da idéia do fator de risco. Ao inventar esse conceito, o indivíduo passa a ganhar poder sobre o seu sofrimento”, diz Paulo, ressaltando que, nesse mesmo momento, as doenças crônicas e degenerativas passam a ganhar destaque em detrimento das infecto-contagiosas.

O professor diferenciou, ainda, os conceitos de risco, custo e perigo. “Custo é aquilo que é necessário para se fazer alguma coisa; risco é um custo provável, que decorre de eu fazer alguma coisa”, compara o professor, ressaltando a diferença nas relações temporais. “Enquanto no custo há uma relação passado-presente, no risco existe a relação presente-futuro”.

A diferença entre perigo e risco está na posição do indivíduo. O perigo denota uma conduta passiva, o risco depende da ação da pessoa. “Quando o conceito de risco se torna predominante no vocabulário para definir o sofrimento, chegamos a uma quase onipotência humana. Qualquer sofrimento é de responsabilidade do indivíduo”, afirma.

A noção de risco inverte a relação temporal do arrependimento. Esse conceito causa o arrependimento no momento da ação, ou seja, antes do sofrimento chegar. O homem assim, segundo o professor, passa a viver em incertezas diante do momento de prazer, como a alimentação. O professor aproveitou para alertar sobre o afastamento do Estado na saúde pública. Essa responsabilidade atribuída ao indivíduo, agregada à instalação do Estado neoliberal constitui, segundo Vaz, políticas de saúde pública que se resumem a conselhos de nutrição.

Toda essa construção da idéia de fator de risco conduz o indivíduo a se conceber como “quase doentes”. “Todos nós nos tornamos portadores. Portamos não uma doença, mas uma probabilidade de adoecer. Por portar essa probabilidade, as restrições começam”, comenta o professor, ressaltando o aumento da importância da alimentação, que é o nexo entre o cotidiano e os prováveis sofrimentos futuros. “O cotidiano era um lugar de despreocupação. Cada vez mais criamos esse estado de ‘quase doença’ e nos preocupamos com esse cuidado crônico”, finaliza o professor, referindo-se à crescente preocupação com a alimentação.