• Edição 094
  • 20 de agosto de 2007

Saúde em Foco

Transplante inédito no Brasil

Marceneiro fica curado do diabetes após receber pâncreas novo por técnica que evita efeitos colaterais

Natalia Von Korsch – Jornal Extra

Há cerca de um mês e meio, a dura vida do marceneiro Luciano Pereira da Costa, de 31 anos, tornou-se, literalmente, mais doce. Diabético desde os 17 anos, desempregado e vendo a doença se agravar a cada dia, o morador de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foi o primeiro paciente do Brasil a ser submetido à técnica de transplante de pâncreas mais moderna do mundo, em cirurgia realizada no dia 29 de junho, no Hospital Clementino Fraga Filho (UFRJ). Hoje, curado da doença, 14 quilos mais gordo, e cercado de açúcar por todos os lados, ele só tem motivos para comemorar.

— O resultado foi 1000%. Agora, acabou tudo, não corro o risco de perder as pernas ou o rim (devido ao diabetes). Aprendi novamente como é bom viver. E como doce todo dia, que é a melhor parte — brinca ele.

Luciano terá que usar, pelo resto da vida, remédio para evitar a rejeição. Mas, diferentemente dos diabéticos que passam pelo transplante tradicional de pâncreas realizado no país, poderá levar uma vida normal, sem efeitos colaterais. Os médicos da UFRJ trouxeram a técnica da França. Segundo um deles, o cirurgião Juan Renteria, o procedimento, no entanto, é indicado apenas para casos mais graves.

— O transplante de pâncreas é uma cirurgia muito delicada, que deve ser feita apenas nos casos gravíssimos, nos quais a insulina não resolve mais — disse o médico, com a expectativa de que o sucesso de Luciano estimule a doação do órgão.

Método inovador

A técnica de transplante isolado de pâncreas (no qual o paciente não recebe também um rim novo) usada pela primeira vez no Brasil pela primeira vez no Brasil pela equipe do Hospital do Fundão chama-se derivação venosa portal com drenagem intestinal. Sua principal diferença em relação à realidade em outros centros do país (a derivação venosa sistêmica com drenagem vevical) é o caminho percorrido no organismo pela insulina e pelas outras substâncias produzidas no pâncreas.

Na técnica nova, que segue a fisiologia normal do corpo humano, a insulina passa pelo fígado e as secreções vão para o intestino, como acontece com os não-diabéticos. Enquanto na tradicional, a insulina passa pela circulação sangüínea e as secreções vão para a bexiga, causam desidratação e lesões na bexiga e na uretra.