• Edição 094
  • 20 de agosto de 2007

Faces e Interfaces

Pílula do dia seguinte: remediar em vez de prevenir


Marcello Henrique Corrêa

Em 1999, a apresentação da pílula para contracepção de emergência foi apresentada no Brasil. A chamada pílula do dia seguinte tinha como objetivo impedir a gravidez indesejada, nos casos de acidentes com o preservativo ou violência sexual, por exemplo. As doses altas de hormônio podem causar efeitos colaterais e danos ao organismo.

O assunto causa dúvidas, principalmente entre as jovens, que muitas vezes utilizam de maneira irresponsável o método. A preocupação geral de médicos e profissionais da área é em relação ao uso contínuo.

O uso rotineiro do método pode causar danos à saúde das mulheres e os especialistas alertam para os perigos. Para falar sobre o assunto o Olhar Vital ouviu dois profissionais da área, que explicaram como a pílula funciona, seus benefícios e seus riscos.

Teresa Sollero Claudio-da-Silva

Professora adjunta do Departamento de Farmacologia Cásica e Clínica. ICB - UFRJ

"A pílula do dia seguinte se configura no mercado brasileiro em duas apresentações: doses únicas ou doses combinadas. Em ambos, seu uso somente deve ser indicado em situações de emergência. Por exemplo, se a mulher esqueceu o comprimido, em caso de rompimento do preservativo ou violência sexual. O uso rotineiro da pílula pode causar efeitos nocivos.

A pílula deve ser utilizada o mais precoce possível, após o ato. Caso seja usada nos primeiros momentos após a relação, a eficácia é estimada em cerca de 85%. Já se for ministrada nas 72 horas seguintes, que é o tempo limite para o efeito, a eficácia cai para 35%, aproximadamente. É importante lembrar que a pílula não interrompe o processo após a implantação.

Os efeitos colaterais são náusea, vômito muito forte, tonteiras. Mas isso varia de pessoa para pessoa. A dose hormonal é muito alta e em algumas pessoas aumenta essa sensação de náusea. É comum também aumentar a sensibilidade nas mamas.

Não acredito que as pesquisas para reduzir efeitos da pílula do dia seguinte valham a pena. Acredito que os anticoncepcionais de rotina estão reduzindo seus efeitos nocivos e se tornando mais eficazes. Quando a pílula anticoncepcional foi criada, nos anos 60, os impactos ao organismo eram muito grandes e isso melhorou.

A minipílula é um anticoncepcional regular, que contém doses pequenas de hormônios e podem ser usadas de uma forma ininterrupta. É importante sempre lembrar que o uso da pílula do dia seguinte é emergencial.

Quando o método surgiu no Brasil, em 1999, discutiu-se a possível distribuição para as adolescentes. Esse assunto foi bastante debatido. O ideal, na verdade, seria que a pessoa tivesse responsabilidade e procurasse o melhor método para si. Além disso, sempre é bom lembrar que esses métodos não previnem as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), portanto é importante estar atento e sempre seguir a orientação de um médico. O que acontece muitas vezes é a procura da pílula por indicação de amiga e a compra, no Brasil, é bastante fácil. É fundamental seguir a orientação médica e a indicação de uso apenas em emergência".


Renato Ferrari

Médico ginecologista e doutor em Ciências Morfológicas pela UFRJ

“A pílula de emergência, também chamada de pílula do dia seguinte, tem uma eficácia bastante boa quando usada nos primeiros momentos, nas primeiras horas após a relação.

De um modo geral ela não causa muito problema, quando usada esporadicamente. Por exemplo, numa relação desprotegida, não há problema em usá-la nas primeiras 24 horas e com o passar do tempo pode-se perceber uma eficácia.

O uso dela continuadamente pode causar problemas, por causa das doses altas de progesterona. Isso pode desregular o ciclo menstrual da mulher, o que não é adequado. Já o uso esporádico não causaria tanto problema.

Outro dano do uso da pílula do dia seguinte é que com ela, as pessoas acabam se esquecendo de se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis. Há outros métodos bastante interessantes, como o próprio uso da camisinha. Esse tipo de displicência acaba favorecendo a contaminação por DST.

É claro que a pílula tem sua utilidade, sua aplicação. É uma idéia bastante interessante. E tem diferentes formas de apresentação, o que facilita a escolha da paciente. Existem doses combinadas, comprimidos de 12 em 12 horas. A vantagem é essa: poder usá-la esporadicamente, em casos de emergência.

A desvantagem, contudo, é a possibilidade dos efeitos colaterais, devido às altas doses de progesterona. O uso com muita freqüência pode causar sinais desagradáveis, como o aumento de peso. Entretanto, se usada com responsabilidade, é uma boa idéia”.