• Edição 094
  • 20 de agosto de 2007

Por uma boa causa

Namoro infantil: brincadeira de criança?

Por Cinthia Pascueto - Agência UFRJ de Notícias - Praia Vermelha

A sexualidade é um tema que a cada dia aumenta sua exposição na mídia. Desde o namoro inocente ao ato sexual, o assunto é abordado em insinuações verbais, cenas com conteúdo explícito e até mesmo em programas e conversas informais, sobretudo no que se refere às relações entre homem e mulher. Nesse contexto, surge uma discussão que tem chocado muitos papais e mamães: o namoro na infância. Como agir se meu filho começar a namorar tão cedo? Dando continuidade ao tema Crianças: pode ou não pode?, a editoria Por uma Boa Causa discute sobre namoro.

Segundo Luciana Rizo, psicóloga clínica e mestre em psicologia cognitiva pela UFRJ, existe sim, aquela fase em que a criança assume um “namoradinho”. Geralmente é aquele amigo das brincadeiras infantis, por quem ela nutre apenas um carinho especial. Nesse caso, a especialista alerta que, primeiramente, é necessário conversar com a criança, para saber o que ela entende por namorar. “Os pais precisam mostrar, após essa averiguação, que entendem que ela gosta do amiguinho e não polemizar o assunto. É recomendável agir naturalmente, estabelecendo com a criança os limites considerados saudáveis. Incentivar esse tipo de brincadeira pode antecipar um comportamento que não é próprio da infância”, alerta a psicóloga.

Quando ainda na infância a concepção de namoro toma proporções maiores que pegar na mão e brincar junto, fica evidente a tese de que, atualmente, as crianças estão amadurecendo muito cedo. Para Luciana, apesar da dificuldade em determinar a idade certa para começar a namorar, pois cada pessoa apresenta um desenvolvimento próprio, é fato que o comportamento pré-adolescente tem se manifestado precocemente. “O ‘ficar’, tirar a ‘BV’ (boca virgem) vem acontecendo cada vez mais cedo nessas últimas gerações. O interessante é que o diálogo entre pais e filhos seja aberto sobre esse assunto. Cabe reforçar que permitir que o filho ou filha namore na idade infantil é incentivar uma conduta defasada em relação à idade da criança”, pondera a especialista.

Esse comportamento precoce, porém, tem sido fortemente influenciado pela mídia. Como mencionado anteriormente, programas televisivos, inclusive aqueles que se dizem infantis, têm apresentado um maior teor sexual, através de atitudes, roupas, produtos e conduta que não condizem com a faixa etária à qual se destinam.  “Os programas de televisão (principalmente na TV aberta) são cada vez mais juvenis do que infantis. Com isso, as crianças acabam incorporando comportamentos adolescentes. Por exemplo, nos últimos tempos, as sandálias para meninas têm saltos altos, indumentária típica de adolescentes e não de crianças”, analisa a psicóloga.

Para Luciana Rizo, a maior conseqüência em relação a essa atitude dos filhos, que deve ser alvo de preocupação dos pais, é que a criança antecipe uma etapa do seu desenvolvimento, ‘amadurecendo’ repentinamente e deixando de viver plenamente a sua meninice. “A infância é o momento de brincar, imaginar e não de assumir compromissos, como um namoro”, conclui a especialista.