• Edição 093
  • 09 de agosto de 2007

Faces e Interfaces

Ioga pode curar doenças?


Priscila Biancovilli

A ioga é uma técnica indiana de relaxamento e meditação. Surgiu há mais de 5000 anos, e seu nome tem origem na expressão sânscrita “yuj”, que significa unir e integrar. A maneira de manter o equilíbrio entre emoção, ação e inteligência — pressuposto da prática da ioga — acontece através de exercícios físicos, meditação e controle da respiração. Muito mais do que um modo de manter a forma, a prática faz parte de um estilo de vida, daqueles que buscam auto-conhecimento e paz interior.

Nos últimos anos, pesquisas têm mostrado que à ioga pode ter um papel importante na cura de diversas doenças, como hipertensão, diabetes, depressão, artrite e até alcoolismo. Por isso mesmo, alguns médicos indicam que seus pacientes iniciem esta prática, mas sem abandonar o tratamento convencional. Até que ponto a ioga é realmente parte importante na cura de doenças? Para discutir esta questão, convidamos os professores Roberto Simão, da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), e Silvana Miranda, chefe do ambulatório de Fisioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

Roberto Simão

Professor da Escola de Educação Física e Desportos

“A ioga, assim como qualquer exercício físico, sempre tem um lado positivo. Na verdade, qual a maior vantagem de se praticar uma atividade física? É que a pessoa se propõe a mudar seu estilo de vida, sempre para melhor. A pessoa nunca faz um exercício de forma isolada. Ela sempre acaba alterando sua alimentação, passa a ser mais ativa durante o dia-a-dia — por exemplo, ao invés de subir um prédio de elevador, opta por ir de escada. Ou então, ao invés de pegar o carro para andar três quarteirões até a padaria, ela vai caminhando. Na verdade, os exercícios físicos fazem parte de um grande conjunto, como coadjuvantes de uma grande mudança no estilo de vida.

Quando falamos em ioga, vemos que ela ainda é muito pouco fundamentada cientificamente. Na literatura especializada, quando consideramos revistas classificadas pela Capes como A e B Internacional, já existem alguns estudos provando que o gasto energético da ioga é bem baixo. Quando pensamos em aumentar o metabolismo, gastar mais energia e emagrecer, esta não é a atividade mais indicada. Mas ela tem vários benefícios. Ela pode reduzir a pressão arterial, por exemplo. Por que isso acontece? A ioga realiza todo um trabalho respiratório, e isso promove mudanças hormonais, que alteram diretamente o sistema de controle cardiorrespiratório. Se considerarmos o homem ocidental, vemos que ele não sabe respirar. O oriental fala bastante isso do ocidental, e é verdade. Até na hora de fazer um exercício, não nos preocupamos com respiração. Tratamos como se fosse algo involuntário, o que não deixa de ser. Porém, se bem trabalhada, a respiração promove benefícios à saúde.

A redução da pressão arterial promovida pela ioga não é tão significante. Porém, se ela for aliada a uma dieta ou a outra atividade física, vai otimizar os resultados. Quando falamos na hipertensão, podemos relacionar isso à obesidade. Se ela faz um trabalho mínimo, como a ioga, já consegue alguns benefícios. É bom enfatizar o seguinte: a ioga, por si só, é considerada muito pouco para controlar uma doença. No entanto, ela é um valor agregado. Não é verdade dizer que ela, sozinha, é capaz de curar uma doença. Os hábitos alimentares e atividades físicas são fundamentais, e nessas situações a ioga entra como coadjuvante, para auxiliar as pessoas a mudarem seus hábitos de vida. A bandeira do exercício físico não deve ser a estética, mas sim a saúde.

A ioga tem um trabalho muito forte de autocontrole. Isso pode ser benéfico psicologicamente, para que a pessoa consiga ter controle sobre outras atividades de sua vida. Por exemplo, para um dependente de álcool ou tabaco, é complicado dosar o consumo destes produtos. O desenvolvimento do autocontrole na ioga pode colaborar para a cura do vício. Alguns esportes, como o judô, também desenvolvem este aspecto. Normalmente, as pessoas que praticam este esporte desenvolvem respeito e autocontrole acima da média. Porém, é muito difícil fundamentarmos isso em ciência. No caso da ioga, as pessoas contam relatos, e devemos acreditar. Mas, de forma alguma, podemos afirmar que a ioga cura alcoolismo, ou depressão, ou outras doenças. Para alguns, o resultado pode ser bastante positivo, enquanto que para outros não adianta nada. Não existe uma regra, pela falta de fundamentação científica.”


Silvana Miranda

Chefe do ambulatório de Fisioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

“A Ioga é uma filosofia indiana que visa o equilíbrio do corpo e da mente. Até pouco tempo, acreditava-se que somente funcionava para aqueles que adotavam um estilo de vida zen — muito mais direcionado para a mente do que para o corpo —, sem vaidades físicas e preservando a alimentação natural. Atualmente, este comportamento vem sendo alterado, já que estudos recentes comprovam que a ioga é capaz de ajudar a medicina e resolver problemas de saúde.

Os exercícios de meditação, no qual a ioga se inclui, exigem concentração e estimulam o auto-controle. Os exercícios de relaxamento, por sua vez, diminuem as dores por tensão, e os exercícios respiratórios proporcionam a melhora dos padrões ventilatórios, com aumento das trocas gasosas no organismo, melhorando o metabolismo. Isto diminui os quadros inflamatórios e o comprometimento das estruturas musculares e articulares. O controle respiratório e o relaxamento muscular atuam no Sistema Nervoso Simpático (que é um sistema de alerta) e no Sistema Nervoso Parassimpático, que atua na regeneração tecidual. Pelos fatores citados, é um excelente coadjuvante no tratamento fisioterapêutico, já que aumenta a flexibilidade corpórea, diminui as tensões musculares e equilibra o Sistema Emocional. Tudo isto diminui os fatores que interferem no tratamento médico e facilitam a cura de determinada doença.

Algumas posturas da ioga podem ser adotadas dentro do trabalho fisioterapêutico, associadas às técnicas de cinesioterapia (tratamento de reabilitação através de movimentos nas articulações). Obviamente, devemos sempre levar em conta o quadro físico e as contra-indicações destas práticas, tendo o cuidado de não cometer excessos.

Hoje é crescente o número de profissionais de saúde que indicam a pacientes idosos, gestantes, fumantes, hipertensos, portadores de rinite alérgica, bronquite e asmáticos, dentre outros, a se tornarem adeptos da ioga. Afinal, ela atua diretamente em doenças psicossomáticas e na melhora do stress diário. A pessoa respira, dorme e se alimenta melhor, incrementando sua qualidade de vida.

Os resultados descritos acima vem sendo comprovados mediante muitos, através de testes clínicos, como por exemplo a medida da capacidade respiratória e o controle da pressão arterial, além de testes de resistência física.”