• Edição 091
  • 26 de julho de 2007

Argumento

Brasil não envia delegação para Olimpíada Internacional de Biologia


Priscila Biancovilli

Quatro jovens estudantes tiveram suas idas à 18ª Olimpíada Internacional de Biologia, no Canadá, canceladas. Eles foram selecionados entre 25 mil alunos, de todo o Brasil, que participaram da Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB), organizada pela Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), em parceria com a UFRJ. Deste grande grupo, os 20 de maior destaque passaram por uma semana de treinamento intensivo na UFRJ, de onde saíram os quatro melhores alunos. Quando já se preparavam para a ida ao Canadá, receberam a notícia do cancelamento.

— Assim que soubemos do resultado, ligamos para o Ministério da Educação (MEC), para que eles providenciassem a passagem dos quatro alunos selecionados, mais dois monitores. Nossa surpresa foi a resposta do Ministério, afirmando que pagaria apenas se os estudantes fossem de escolas públicas. Entramos em contato com as duas escolas do Ceará — de onde vieram os quatro estudantes — e verificamos que estes alunos são tão bons que têm bolsa integral no colégio. Eles não pagam mensalidade, nem material, nem nada. Não são de origem rica. Mesmo que eles fossem, estão representando o Brasil, são o melhor que nosso país tem —, afirma Ana Lúcia Henriques de Oliveira, professora do Instituto de Biologia da UFRJ que coordenou o treinamento dos vinte estudantes na fase final da OBB.

Rubens Akeshi Macedo Oda, coordenador da OBB, publicou recentemente no Jornal da Ciência uma carta de protesto pelo cancelamento da participação brasileira. Esta é a terceira edição da Olimpíada Brasileira. Nas duas primeiras, segundo ele, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o MEC patrocinaram as passagens dos estudantes. Este ano, no entanto, argumentaram que apenas ajudariam os estudantes que viessem de escolas públicas. Como todos são oriundos da rede privada, não teriam o direito.

Segue pequeno trecho da carta: “...Brasileiros são somente aqueles que estudam em escolas públicas? Sabendo que a III OBB teve mais de 70% dos alunos inscritos de escolas públicas será que o problema dos quatro primeiros serem de escolas particulares não seria da nossa rede de educação básica? Qual seu sentimento como brasileiro em saber que nosso país não tem participação em um evento que promove o desenvolvimento científico e tecnológico em que participam mais de 50 países como nossos vizinhos Argentina, Peru e Bolívia?”

Ana Lúcia explica que “na verdade, o MEC demorou muito a tomar a decisão. Disse que ia levar o processo para o jurídico, e ficamos esperando uma semana. De repente, poderíamos ter tentado formas alternativas de financiamento, como o patrocínio de uma empresa. Eles nos deram a resposta definitiva apenas dia 13 de julho, e o evento começaria já dia 15, no Canadá. Já tínhamos até reservado passagens, por nossa conta. Os alunos fizeram o visto e tiraram passaporte à toa”, continua a professora.

Algo curioso é que o MEC colaborou com a OBB, ao financiar a vinda dos 20 estudantes finalistas ao treinamento da UFRJ, além de cobrir gastos com hospedagem. “Rubens Oda, então, acreditou que o MEC colaboraria também no envio dos estudantes. Isso na verdade não estava certo. Foi uma pena”, lamenta a professora.

Esta seria a terceira Olimpíada Internacional com participação do Brasil. A primeira, na China, contou com a participação também de quatro estudantes, mais o professor Rubens, representando a ANBio, e Paulo Paiva, do Departamento de Zoologia da UFRJ. A delegação brasileira contou com os melhores estudantes da I Olimpíada Brasileira. Em 2006, na Argentina, outros quatro alunos participaram sempre de escolas particulares, sempre financiados pelo governo.

— Os alunos são excelentes e interessadíssimos. Todos os professores envolvidos no treinamento se impressionaram. Embora fossem alunos entre 15 e 18 anos, eram bastante maduros. Só para se ter uma idéia, demos para eles a prova do ENADE de Biologia. O mínimo de acertos foi 27, de 40 questões. E eles são de escolas secundárias, ou seja, obtiveram um desempenho melhor que muitos alunos da graduação —, afirma Ana Lúcia. “Ano passado, por pouco eles não trouxeram uma medalha para o Brasil. Em 2007, fizemos um treinamento mais bem estruturado, preparando os alunos não apenas na teoria, mas também na prática do laboratório. Com melhor preparo, certamente conseguiríamos uma colocação de destaque nestas olimpíadas”.