• Edição 090
  • 19 de julho de 2007

Saúde e Prevenção

Amebíase: higiene é a melhor prevenção para a doença

Marcello Henrique Corrêa

O mundo microscópico pode conter surpresas, muitas vezes desagradáveis. Invisível a olho nu, o protozoário Entamoeba histolytica pode estar presente em vegetais, frutas e água contaminada e, ao invadir o organismo humano, iniciar o processo de uma doença tratável, mas que pode gerar muitos incômodos: a amebíase. Esta parasitose acomete principalmente pessoas que residem em locais com condições precárias de saneamento, e também naquelas que descuidam da própria higiene. As conseqüências são sérios problemas, com infecções que podem durar de alguns dias até anos para serem tratadas, dependendo do caso. Em média, porém a doença leva de duas a quatro semanas para ser sanada.

Detectar os sintomas é fundamental, por isso é necessário saber quando se pode suspeitar de estar com a doença para iniciar o tratamento. Segundo José Mauro Peralta, professor titular do departamento de Imunologia do Instituto de Microbiologia da UFRJ, os principais sintomas são dores abdominais e diarréia, que pode, em muitos casos, ser sanguinolenta. A entrada e a instalação da ameba ocorrem da seguinte forma, explicada pelo professor: “ao serem ingeridos pelo homem, os cistos se rompem no intestino liberando as formas trofozoíticas e estas podem infectar as células intestinais do homem e provocar lesões na mucosa intestinal. Em alguns casos ela pode ser invasiva levando a formação de abscessos amebianos em outros locais, principalmente no fígado”, explica o professor.

Contudo, nem sempre a ameba é detectada através dos sintomas. O Entamoeba histolytica pode permanecer no organismo sem causar nenhum sintoma, não demonstrando sua presença. Essa capacidade de se “esconder” do Entamoeba histolytica pode gerar em alguns casos, dificuldades no diagnóstico, como explica o doutor Peralta: “O diagnostico é feito através da observação das formas císticas ou trofozoítos nas fezes. Entretanto, através desse exame fica difícil distinguir E. histolytica de outras amebas não invasivas, como por exemplo, Entamoeba dispar. Dessa forma, é necessário empregar técnicas imunológicas e moleculares que permitam distinguir corretamente essas espécies”, afirma José Mauro.

Para incrementar esses métodos, pesquisadores da UFRJ estão trabalhando, em colaboração com o departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da UFF. Os dados da pesquisa, segundo Peralta, apontam que a grande maioria (90%) das amebas não é invasiva.

A doença é intimamente ligada à falta de condições de saneamento básico, que aumenta a possibilidade de contaminação. Água não tratada e alimentos lavados com a mesma são fontes perigosas de protozoários causadores de doenças. Para o especialista, o melhor modo de prevenção coletiva é a educação sanitária e as medidas de saneamento básico. Entretanto, a prevenção individual é fundamental: “a principal forma de prevenção individual é evitar o contato com água contaminada. Deve-se sempre utilizar água tratada na irrigação de hortas e ingerir água filtrada e fervida. Lavar as mãos sempre que possível, principalmente antes de manipular os alimentos”, recomenda Peralta.

Não se tem registros de grandes epidemias de amebíase. No Brasil, a amebíase apresenta grande diversidade no número de indivíduos infectados ou com sintomatologia da doença, variando de região para região. No sul e sudoeste do país, a prevalência varia de 2,5 a 11%, na região amazônica atinge até 19% e nas demais regiões fica em torno de 10%. No mundo, dentre as áreas mais seriamente afetadas, destacam-se México, África e Ásia.

Ainda não existe uma vacina para esta doença, contudo diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com esse propósito. De qualquer forma, segundo José Peralta, existem muitos medicamentos para tratar a amebíase e com nenhum deles foi registrada qualquer resistência. Para o tratamento da forma invasiva, é necessário um tempo maior do que para a intestinal. Por enquanto, prevenir, mantendo o cuidado com a higiene principalmente, tem sido a melhor solução para a doença.