No último mês de abril, a OMS (Organização Mundial de Saúde) revelou que pelo menos 200 mil pessoas morrem ao ano por algum tipo de câncer relacionado ao ambiente de trabalho. A incidência do chamado câncer ocupacional é mais freqüente em lugares que não cumprem os requerimentos de proteção à saúde e à segurança, e que, devido ao descaso, expõe os trabalhadores a sérios riscos.
Para se ter uma idéia, mesmo um escritório aparentemente inocente pode se constituir como um ambiente cancerígeno. Se houver fumantes no local, a chance dos trabalhadores desenvolverem câncer no pulmão é duas vezes maior. Mesmo que a pessoa não fume, a inalação da fumaça o transforma em um fumante passivo, e os riscos de doença aumentam significativamente.
Os cânceres de origem ocupacional são gerados pela exposição a diversas substâncias químicas ou radiações. De acordo com Alberto José de Araújo, coordenador do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo (NETT), este problema “ultrapassa os limites da indústria ou fábrica, e hoje já atinge as comunidades do entorno do parque industrial. As partículas, gases e radiações não afetam apenas o trabalhador. Um dos problemas mais estudados é o provocado pelo amianto. Muitas esposas que tiveram contato com roupas de seus maridos, sujas de pó de amianto, desenvolveram o câncer”, explica o professor.
Radiações
As substâncias mais conhecidas que provocam esta doença são
as radiações ionizantes, cujo exemplo clássico é
a bomba atômica. Ainda segundo Alberto, a partir do contato com estas
radiações surgiu uma grande quantidade de leucemias, que é
o câncer nos glóbulos brancos do sangue. Outro problema causado
pela radiação é o câncer no cérebro, além
de fígado, pulmão, e outros órgãos. Quando se
pensa em radiação, o normal é associar apenas a grandes
tragédias ou artefatos de guerra, mas não é bem assim.
O sol, por exemplo, libera uma radiação que pode provocar o
câncer de pele: os famosos raios ultravioleta (UVA e UVB). Apesar de
a camada de ozônio filtrar boa parte destes raios, o cuidado com a pele
deve ser constante.
A radiação transmitida pelos campos eletromagnéticos, como torres de luz, de TV, microondas e torres de celular, também pode provocar problemas. “Estes campos podem afetar pessoas que usam baterias em equipamentos de prótese, como os marcapassos”, alerta Alberto.
Risco Químico
Várias substâncias químicas são atualmente reconhecidas
como agentes carcinogênicos. Dentre elas, a mais conhecida é
o benzeno. “Ela está em vários elementos do petróleo,
como a gasolina. As indústrias petroquímica e siderúrgica
produzem muito benzeno. Além disso, a queima do carvão também
libera esta substância”, atesta o professor.
A queima do cigarro libera uma série de substâncias químicas que geram danos à saúde tanto do fumante quanto de quem respira a fumaça. “O cigarro libera 4740 substâncias químicas durante a combustão. O cachimbo e o charuto também produzem esta mesma quantidade de substâncias. Além da nicotina, a fumaça do cigarro contém formol e benzopireno, que é a substância conhecida como maior indutora do câncer, mesmo a baixas quantidades. O fumante passivo tem praticamente as mesmas chances de um ‘ativo’ de desenvolver a doença. Isto depende também da freqüência de exposição às substâncias tóxicas”, afirma o professor.
Princípio da Precaução
Na conferência Rio 92, formalizou-se a definição do princípio
da precaução, que é a garantia contra os riscos potenciais
que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda
identificados. Ou seja, se existe a possibilidade de problemas ou danos irreversíveis
em determinada ação, todas as medidas possíveis de precaução
devem ser tomadas.
Este princípio perpassa inúmeras questões sócio-ambientais e atitudes ambientalmente responsáveis, tão discutidas pelas grandes corporações, mas nem sempre praticadas. “É preciso ter leis muito fortes para impedir que a ganância do capital gere problemas sociais e ambientais. O progresso nunca deve sobrepor a questão intrínseca da sobrevivência das espécies”, argumenta o professor.
Risco Psicológico
Além das radiações e de inúmeras substâncias
químicas, um outro fator que desencadeia o câncer ocupacional
é o psicológico. Em todas as profissões existe a possibilidade
de desenvolvimento da doença, gerada pela pressão violenta e
constante por resultados, pela competitividade de mercado, e também
pelo assédio moral e sexual. Alberto argumenta que “hoje não
existe mais o trabalho solidário, de colaboração, mas
sim a individualidade cada vez maior e a competitividade, o massacre”.
Ou seja, somado aos fatores químicos e físicos, os fatores mentais
e psicológicos mostram ter a mesma relevância.