• Edição 079
  • 03 de maio de 2007

Faces e Interfaces

Suplementos alimentares: até onde são saudáveis?

Fernanda de Carvalho – Agência UFRJ de Notícias – Centro de Tecnologia

Vitaminas, proteínas, fibras e sais minerais: estes são alguns exemplos de substância que compõem os suplementos alimentares. A ingestão desses nutrientes é feita de forma artificial - por meio de cápsulas, barras de cereais ou bebidas isotônicas, por exemplo - e representa um hábito comum entre pessoas com deficiências nutritivas, problemas na alimentação, atletas olímpicos, freqüentadores das academias de ginástica, entre outros. Mas será que todos precisam, de fato, dessa alimentação suplementar? Até aonde ela é saudável?

Muito se fala a respeito da real necessidade desses suplementos para o pleno funcionamento do nosso organismo, bem como suas implicações para a saúde. A fim de discutir sobre esse vasto campo, o Olhar Vital desta semana foi em busca dessas respostas e conversou com o professor Luiz Eduardo de Carvalho, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, e com a nutricionista Patrícia Schwengber, do Instituto de Nutrição da UFRJ.

Luiz Eduardo R. de Carvalho

Engenheiro de Alimentos, professor da Faculdade de Farmácia da UFRJ, coordenador do Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde (LabConsS)

“O importante é compreender o contexto onde transcorre a promoção e o comércio de suplementos alimentares. Eles não são substitutos para a alimentação convencional, podem representar riscos à saúde, assim como também podem, em alguns casos - como dos vegetarianos - ter grande utilidade. Não se trata de ser contra os suplementos, mas é preciso entender que eles se destinam a situações muito particulares e, em grande parte, são apenas tentativas mercadológicas para nos vender o que não estamos precisando.

O nome já diz tudo: é suplementação. Se a alimentação do dia-a-dia for normal, diversa, contendo cereais, vegetais, frutas, laticínios, carnes, ovos, não há nenhum motivo para suplementação nutricional. Esta pode até ser benéfica, mas apenas se for ingerida em situações, quantidades e marcas adequadas. Não me parece que os consumidores médios tenham condições de avaliar a melhor forma de se utilizar esses suplementos, o que representa não apenas um risco à saúde, mas também à economia popular.

Atletas costumam ingerir suplementos alimentares, como os concentrados protéicos (albuminas, proteínas isoladas de soja, etc.), cuja estrutura química é de proteína (ou de aminoácido, uma fração protéica). Mas isso não tem nada a ver com L-carnitina ou aminoácidos de cadeias curtas, também consumidos por atletas, mas que são anunciados para fins farmacológicos e, portanto, não-nutricionais, embora às vezes confundidos com aminoácidos e proteínas convencionais

Interessa-me, por exemplo, discutir como a mídia, as academias, o Ministério da Saúde, a Anvisa, enxergam esses conceitos ‘nutricionais’, e os consumidores se equivocam, e são conduzidos ao equívoco, por esses enxergamentos simulátricos dos formadores de opinião.

Por exemplo, o que é ‘barra de cereais’? É tudo aquilo que, contendo cereais ou não, tem um formato e uma embalagem do que se convencionou chamar de ‘barra de cereais’.

É um conceito de objeto, não de comida. Não obstante, para o consumidor, sua percepção permanece captando-a como uma ‘comida conceitual’”.

 

Patrícia Schwengber

Nutricionista mestranda do Instituto de Nutrição da UFRJ, especialista em Obesidade e Materno-Infantil

“Os suplementos alimentares devem ser utilizados apenas por pessoas que não conseguem atingir, em sua dieta habitual, os níveis recomendados de nutrientes. Uma pessoa saudável, que possui uma alimentação balanceada, não deve substituir sua alimentação normal por uma suplementação nutricional.

É muito difícil encontrar nutrientes isolados, que atendem a uma deficiência nutricional específica, e a ingestão de substâncias indevidas pode causar problemas de saúde. Não recomendo, por exemplo, o uso de suplementos multivitamínicos e minerais, a não ser que estejam sob uma forma que permite melhor absorção pelo organismo. São necessários cuidados desde a prescrição dos suplementos por parte do nutricionista: a dosagem desses nutrientes não deve ultrapassar duas vezes a Ingestão Diária Recomendada (IDR).

Há quem, de fato, necessite de uma suplementação alimentar, como nos casos de pessoas vegetarianas, que precisam suprir a falta da carne na alimentação. Se não houver a suplementação de substâncias como ferro e zinco, elas podem ficar anêmicas. A suplementação também se faz necessária em gestantes e em pessoas com doenças recorrentes – como as de caráter imunológico. Crianças com até dois anos que não recebem leite materno ou que sejam prematuras também devem ser suplementadas, assim como atletas e idosos que possuem dificuldades em se alimentar.

O uso de suplementos alimentares artificiais faz perder o sentido de uma alimentação saudável. Falta incentivo para o consumo de produtos naturais, como no caso das crianças, que preferem biscoito a frutas. Uma barra de cereais, por exemplo, contém a mesma quantidade calórica de uma fruta, e esta, por sua vez, além de ser mais barata, contém muito mais fibras, vitaminas e sais minerais do que o alimento artificial. Além disso, barras de cereais contêm gordura vegetal hidrogenada, prejudicial à saúde”.