• Edição 079
  • 03 de maio de 2007

Por uma boa causa

"A toxina mais perigosa do planeta"

Tainá Saramago

A série de matérias que compõem a editoria Por uma Boa Causa aborda esse mês algumas doenças que são de Notificação Obrigatória ao Ministério da Saúde. Tal fato consiste na comunicação da ocorrência de determinada doença/agravo à saúde ou surto, feita às autoridades sanitárias, por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, visando a adoção das medidas de intervenção pertinentes.

Além das DNO todo e qualquer surto ou epidemia, assim como a ocorrência de agravo inusitado, independente de constar na lista de doenças de notificação obrigatória, deve ser notificado. A obrigatoriedade da notificação é definida pela lei nº 6259 de 30/10/75.

Para essa primeira edição o Olhar Vital destaca o Botulismo, uma forma grave de intoxicação alimentar que pode matar se não tratada a tempo. Além disso, alimentos em conservas preparados em casa, como aspargos, vagens, beterrabas e milho e os “docinhos da vovó”; enlatados; embutidos, como lingüiças e salsichas preparadas em casa; e outras formas menos comuns, como alho picado conservado em óleo, pimenta malagueta (chili), batatas assadas em folhas de alumínio que não foram manuseadas de maneira correta, assim como peixe fermentado ou conserva de peixe preparada em casa e até o mel, principalmente para crianças, podem se transformar em um risco para a população.

O botulismo clássico é uma forma de intoxicação alimentar, causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, presente no solo, em alimentos contaminados e mal conservados. A intoxicação se caracteriza por um comprometimento severo do sistema nervoso. “A toxina botulínica é a mais forte do planeta.”, enfatiza o professor Marco Antônio Lemos Miguel, do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPPG), responsável pelo Laboratório de Microbiologia de Alimentos da UFRJ.

O alimento é contaminado ainda no solo, por esporos ultra-resistentes. Quando em conserva, o microrganismo se modifica e começa a produzir a toxina. Latas inchadas, que parecem cheias de ar, podem indicar a presença da bactéria. Quando o alimento é ingerido, a toxina é absorvida pelo aparelho digestivo e entra na corrente sangüínea, atinge o sistema nervoso, interferindo na sinapse (comunicação) entre as células nervosas. Sem esta comunicação vital, as funções do organismo começam a ficar debilitadas.

Os sintomas são aversão à luz, visão dupla com dilatação da pupila; disfonia, dificuldade para articular palavras; vômitos e secura na boca e garganta; disfagia, dificuldade para engolir; constipação intestinal; retenção de urina; debilidade motora e até a paralisia do diafragma, que causa a parada respiratória podendo levar à morte.

– O tratamento consiste na manutenção das funções vitais, principalmente da respiratória, e uso de soro antibotulínico. O soro impede que a toxina circulante no sangue se instale no sistema nervoso. Além da lavagem intestinal e da indução ao vômito do paciente, para tentar ainda eliminar partes do alimento contaminado pela toxina. A doença pode deixar seqüelas se houver parada respiratória – afirma o Marco Antônio.

A doença pode aparecer de 12 horas à 15 dias depois da ingestão, segundo o professor isso depende da forma de contaminação.

– Outro fator é que essa é uma doença de Notificação Obrigatória ao Ministério da Saúde. É uma doença muito grave e a notificação é importante tanto para dados estatísticos da evolução da doença, quanto para a fiscalização de empresas. Se houver alguma contaminação em virtude dos alimentos de certas empresas, elas tendem a ser interditadas, a pagarem multas e até fecharem, – explica o especialista.

Existem também mais dois tipos de Botulismo, porém são menos freqüentes. O Botulismo Infantil, que acontece na maioria das vezes com o mel. Sendo um alimento que não estraga, a bactéria também se instala nele. “A criança ingere o mel e a bactéria começa a se multiplicar no seu intestino para depois produzir a toxina e causar o botulismo. Por isso não é recomendado que crianças com menos de um ano de idade comam o mel. Com adultos não é tão perigoso porque os mesmos possuem a microbiose intestinal formada, diferentemente das crianças com menos de um ano”, afirma o professor.

A terceira forma da doença é o Botulismo de Feridas, quando a pessoa sofre algum ferimento e esse entra em contato com o solo ou com alguma superfície contendo a bactéria. Segundo o especialista, esse tipo da doença é menos freqüente, pois hoje em dia as pessoas têm acesso a antibióticos e as feridas são melhor tratadas. Porém com o aumento do uso de drogas injetáveis, o número de casos tem crescido.

Marco Antônio ainda alertou para que as pessoas não comprem produtos em conserva de origem duvidosa; enlatados que estejam estufados ou com qualquer amassado e embutidos de proveniência desconhecida. Pois fatores como esses podem facilitar a entrada da bactéria e a contaminação com a doença. Mesmo os produtos de boa proveniência devem ser bem fervidos e os embutidos é melhor que sejam fritos.