• Edição 077
  • 19 de abril de 2007

Argumento

Surdez: os prejuízos e a solução desta deficiência invisível

Stéphanie Garcia Pires

Seja qual for o nível de deficiência auditiva, surgem conseqüências que afetam em muito a vida de uma pessoa. Porém, a medicina dispõe de inúmeros caminhos para amenizar e até mesmo eliminar os efeitos deste problema, que abrange cerca de 20% da população brasileira.

De acordo com Shiro Tomita, chefe de serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF – UFRJ) a dificuldade de compreender sons e ruídos cria um instinto de isolamento, principalmente em crianças, o que acentua a barreira natural para o desenvolvimento de fala e escrita criada pela deficiência na audição.

Além da questão intelectual, a socialização também é prejudicada. A criança torna-se arredia, insegura e pode, ainda, adquirir um quadro de hiperatividade, “uma vez que seu equilíbrio emocional é abalado, ela sente a necessidade de falar mais alto e fica em uma constante inquietação na tentativa de se comunicar com outras pessoas ao redor” – explica.

Para evitar que a situação chegue a níveis críticos, doutor Shiro destaca que a solução é simples. “A obrigatoriedade de realização de uma triagem auditiva neonatal permite um diagnóstico precoce de possíveis danos no ouvido. Também é aconselhável submeter crianças e adultos a exames como o de audiometria, a fim de detectar qualquer perda auditiva posterior ao nascimento”.

Esclarece que entre as causas de surdez parcial ou total estão os tumores, geralmente benignos, a má formação de algum elemento do ouvido, traumatismos, a meningite, e perdas gradativas de audição conforme o envelhecimento. “Outro fato comum, geralmente em crianças, é a otite média por efusão - acúmulo de líquido no ouvido, o que atrapalha a transmissão sonora. Na maioria dos casos, ele é expelido espontaneamente, porém, se isso não ocorrer, o líquido pode prejudicar a ventilação, atrofiando o tímpano. O agravante disso é o possível surgimento de um tumor – colesteatroma”.

Os tratamentos também são inúmeros. Pode ir do simples uso de um aparelho auditivo até intervenções cirúrgicas.  Shiro aponta o HUCFF como um centro de referência em correções de falhas na audição e diz que, em breve, a equipe estará apta a realizar os mais atuais tratamentos cirúrgicos, tal como o implante coclear – a inserção de um eletrodo dentro da cóclea (uma região do ouvido), que será um condutor eletrônico das ondas sonoras até o cérebro. “As intervenções devem ser complementadas com o apoio de um fonoaudiólogo e de um psicólogo, para a adaptação da pessoa a ouvir e falar”. Outra alternativa são os produtos implantáveis, dentre eles, o substituto do aparelho auditivo tradicional, em que o receptor do som é colocado embaixo da pele atrás da orelha e o transmissor é posicionado internamente no ouvido.

Doutor Shiro conclui alertando que “o resultado dos tratamentos são animadores, mas a probabilidade de êxito é maior quanto mais cedo for diagnosticada a perda auditiva”. E destaca a importância de as pessoas se relacionarem com os deficientes auditivos “com carinho, de maneira atenciosa e paciente. O preconceito é grande, principalmente porque a surdez não é uma deficiência visível aos olhos da sociedade, mas é, de fato, um problema sério e deve ser encarado como tal”.