• Edição 076
  • 05 de abril de 2007

Argumento

Um segundo olhar sobre os OGMs

Stéphanie Garcia Pires

A edição anterior do Olhar Vital abordou nessa editoria o tema “Transgênicos”. Diante do caráter polêmico do assunto a equipe procurou o professor Márcio Alves Ferreira, do Departamento de Genética da UFRJ, para uma segunda opinião. O especialista considera os transgênicos uma boa opção em alguns casos. Por outro lado, compartilha da idéia do professor Tomaz Langenbach, entrevistado anterior, de que qualquer intervenção no meio ambiente deve recorrer às técnicas de menor risco.

Segundo Márcio, não há como ignorar a busca dos agricultores por uma maior produtividade e, diante desta realidade, o plantio de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) permite que isso ocorra sem que seja necessário aumentar a área de plantio. “A expansão da fronteira agrícola tem se mostrado bastante prejudicial à biodiversidade e isso desencadeia impactos tanto no meio ambiente quanto na própria sociedade” - argumenta.

Outro ponto discutido foi em relação aos combustíveis fósseis. Os argumentos são fortes quanto à excessiva emissão de gás carbônico na atmosfera causado pela utilização destes combustíveis. Por isso, procura-se cada vez mais por alternativas energéticas menos poluentes. “Os transgênicos podem atuar aí. Permitem, por exemplo, uma produção eficiente de cana-de-açúcar, que será trabalhada na composição de etanol, uma energia limpa. E fará isso sem precisar da expansão sobre áreas de plantio que normalmente eram destinadas a alimentos” – observa o professor.

Desde a liberação, no Brasil, da soja e do algodão modificados geneticamente, o país já se consolidou como o terceiro maior produtor mundial, antecedido pelos Estados Unidos e pela Argentina. O professor esclarece que “estes produtos foram desenvolvidos para a resistência aos herbicidas, o que favorece o agricultor em custo e tempo no combate a ervas daninhas, mas não traz benefício algum ao consumidor”.

A liberação do milho transgênico ainda vem sendo discutida. De acordo com o especialista, um dos motivos de hesitação diz respeito ao perigo do fluxo gênico, ou seja, a contaminação de cultivos orgânicos por resquícios do organismo geneticamente modificado. “É preciso respeitar o direito do agricultor que não optou por transgênicos. Para isso, são necessários meios de assegurar que o fluxo gênico não ocorra. E, no Brasil, isso é particularmente difícil de garantir. O governo precisa ser pressionado para providenciar medidas de fiscalização e de controle mais rígidas e efetivas”.

O uso de OGMs já é uma realidade irreversível. Mesmo países inicialmente resistentes, como os da União Européia, cederam. Para isso, criaram leis adequadas à nova prática e realmente as fizeram vigorar. Márcio conclui que uma medida indispensável é levar informações detalhadas aos pequenos e médios agricultores, que são os principais interessados em transgênicos. “Muitos prejuízos à saúde e ao meio ambiente foram e continuam sendo causados pela falta de conscientização da maioria dos cultivadores. Esta mesma falha de desinformação não pode ocorrer agora”.