• Edição 074
  • 29 de março de 2007

Notícias da Semana

Debate suscita discussão acerca da importância do voto

Julianna Sá

Terça-feira de agenda repleta de atividades dedicadas ao esclarecimento das últimas dúvidas de seus eleitores, os professores Aloísio Teixeira e Sylvia Vargas, candidatos à reeleição para a Reitoria da UFRJ, encerraram o dia com uma visita ao Centro de Ciências da Saúde, seguido por um debate no auditório Hélio Fraga, localizado no mesmo prédio. Tratando de diversos assuntos de interesse geral dentro da universidade, os candidatos deram enfoque à importância do voto para garantir a legitimidade dos eleitos e trataram da dificuldade que é garantir a presença de um número considerável de eleitores, ouvindo também sugestões para melhorias nesse provável terceiro mandato.

Promovendo uma discussão marcada muito mais  pelo caráter de conversa, do que por um clima de comício de campanha, os candidatos da Chapa 10, única a concorrer no pleito de 2007, contaram com a presença de membros do corpo docente, além de técnicos-administrativos. Se no debate ocorrido na mesma tarde do dia 27, no auditório do Centro de Tecnologia, o CT, a presença dos estudantes foi massiva e a discussão seguiu a linha das exigências desses, no CCS não havia, sequer, um representante do corpo discente da universidade.

No entanto, é preciso destacar que, segundo o candidato a reitor, houve mudança no perfil da campanha para estas eleições que acontecem nos dias 2, 3 e 4 de abril,  no que se refere ao comparecimento e empenho dos estudantes, mostrando que o caso desse último debate é uma exceção dentro do que foi apresentado em outros dias. “É preciso falar do comparecimento em massa dos estudantes aos debates. A participação deles é intensa e acontece em forma de cobrança. Em vários lugares foram apresentados documentos escritos com reivindicações, em outros, abaixo assinados com número significativo de assinaturas, incorporando, também, os anseios deles”, mas ressalta que isso não é um indicativo de maior votação. “Nas urnas, os alunos são os que menos comparecem, representado em 2003, ano recorde de votação desses, apenas 22% dos votos”, ocupando o último lugar, atrás dos técnicos-administrativos e dos professores, grupo que mais comparece nas eleições.

- Estamos fazendo uma conta para que possamos alcançar dez mil votantes, o que significaria 75% dos professores, 50 % dos técnicos-administrativos e 15% dos estudantes, sendo menos que o número nas últimas eleições, mas isso representaria uma expressividade para garantir respaldo tanto em Brasília, quanto dentro da universidade -, complementou o professor.

Sylvia Vargas ratificou a fala de Aloísio Teixeira e enfatizou, novamente, a importância da participação do corpo social da universidade no processo eleitoral, principalmente por se tratar de uma chapa única, o que implica em algumas dificuldades. “O maior adversário, sem dúvida, nesse caso, é a abstenção. As pessoas acreditam que, por ser uma chapa única, já se sabe o resultado e que não há necessidade do voto, mas esquecem que precisamos de legitimação e respaldo para reforçar o poder dentro e fora da UFRJ”.

A candidata à vice-reitoria explicou, também, o ponto positivo que acredita ter implícito na inexistência de concorrentes: “O fato de ser uma chapa única pleiteando uma eleição, inédito na UFRJ, gerou uma série de diagnósticos altamente sofisticados, mas eu acredito em um modo simples. De alguma forma esse fato representa uma aprovação do que foi feito. Não que todos acreditem que tenhamos feito muito, de forma esplendorosa, mas é um indício de que há confiança em nós, no nosso trabalho e que não há oposição ao que foi feito até agora o que, na minha opinião, não se trata de uma passividade de todos os outros professores que não se candidataram”.

Os candidatos finalizaram abrindo espaço para que os presentes expusessem suas dúvidas e sugestões, entrando em questões como pedidos para abertura de novos cursos, maior oferta de vagas, fim do processo seletivo em vigor, o vestibular, mas com visível reconhecimento da dificuldade de implantar tais idéias e ressaltando a boa gestão dos candidatos que já conseguiram diversos avanços dentro da universidade. O Hospital Universitário também foi foco de críticas, principalmente o fato do fechamento do atendimento de emergência, mas outra vez os docentes reconheceram as dificuldades para a questão. Além das críticas e indicações das necessidades da universidade, o que aconteceu, majoritariamente, foi uma manifestação de apoio à causa do voto, com direito a professores declarando que incentivariam a presença de seus companheiros de profissão a comparecer as eleições.


Aula Inaugural da LATE UFRJ

Priscila Biancovilli

No dia 27 de março, a Liga Acadêmica de Trauma e Emergência da Faculdade de Medicina (LATE-UFRJ) promoveu uma Aula Inaugural, no auditório Quinhentão. Hélder Vilella, presidente do LATE e estudante de medicina, apresentou os propósitos desta liga e, em seguida, passou a palavra para Eduardo Kanann, chefe do serviço de cirurgia do Hospital Municipal Lourenço Jorge.

O médico ministrou uma aula sobre a cinemática do trauma e a avaliação inicial do politraumatizado. Em uma apresentação bem-humorada, que prendeu a atenção dos estudantes presentes, Kanann discursou sobre o suporte pré-hospitalar de vida no trauma, mostrando a relação entre massa, velocidade e força do impacto.

Além disso, mostrou exemplos de lesões que podem ser provocadas por colisões de motocicletas, carro, atropelamentos, quedas de grandes alturas, quedas de cabeça, esportes e atividades recreacionais, explosão, ferimentos por arma branca e arma de fogo.

Kanann fez questão de destacar aos futuros médicos sobre o cuidado especial que se deve ter ao paciente politraumatizado, pois nem sempre as lesões são aparentes e provocam dor imediatamente. Por isso, este tipo de atendimento é bastante complexo e demanda ações rápidas e eficientes do médico.

A LATE-UFRJ foi idealizada pelo recém-formado Rodrigo Barros. A liga acadêmica é uma associação de alunos que visa realizar atividades no âmbito teórico e prático, contando com obrigatório suporte e orientação de professores, além do apoio de médicos e de outros profissionais da área de saúde. Atualmente, a diretoria da liga é composta por nove acadêmicos de medicina, fisioterapia e enfermagem, e tem como orientador geral o professor Marcos Freire, chefe do serviço de emergência do Hospital Universitário.


Tabagismo: um problema social

Stéphanie Garcia Pires

Em 2003, o tabagismo passou a ser considerado uma pandemia. A partir daí, obrigou-se restrições ao plantio de tabaco, foram estabelecidas medidas de apoio à cessação deste vício, além de ter sido requerida uma legislação que garantisse ambientes livres da poluição da fumaça do cigarro.

Inspirando-se nisso, o Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo (NETT) realizou no Auditório Alice Rosa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) a II Jornada Interdisciplinar de Tabagismo. Gilvan Renato, diretor do Instituto de Doenças do Tórax (IDT) destaca: “fumar é prazeroso, mas parar de fumar é muito melhor”.

A psiquiatra Analice Gigliotte, chefe do setor de Dependência Química da Santa Casa, iniciou a palestra falando que por mais viciado que seja o usuário de drogas, ele não perde sua consciência e pode largar o vício quando quiser. A dificuldade está em buscar desvincular-se da droga sozinho, êxito alcançado por apenas 5% dos que tentam.

A droga do cigarro é a nicotina. Quando inalada, é logo absorvida pelos alvéolos pulmonares, em seguida, alcançando o cérebro. A nicotina causa sensação de prazer, por provocar a liberação de dopamina, substância que age por aproximadamente duas horas até que se inicie o processo de abstinência.

O homem tem de início dez receptores de acetilcolina, com os quais a nicotina consegue se ligar. Adquirido o hábito de fumar, o corpo se adapta à presença desta substância, aumentando gradativamente a quantidade de receptores nicotínicos – o que acentua a capacidade de o indivíduo fumar sem sentir desconforto. Neste processo, o cérebro aprende que a sensação de prazer se repetirá sempre que se recorrer ao cigarro.

O consumo de tabaco provoca mudanças intracelulares, diferenciando pouco a pouco o cérebro do fumante em relação ao do não fumante. Algumas alterações acabam enfraquecendo a região cerebral responsável pelo controle inibitório. Isso explicaria, por exemplo, porque tantas pessoas insistem em fumar, mesmo após anos livres desta dependência e mesmo conscientes dos prejuízos à saúde gerados pelo cigarro.

A psiquiatra concluiu sua apresentação mencionando a insula. Uma novidade no tratamento contra o tabagismo foi a percepção de que a manipulação desta área do cérebro consegue inibir no indivíduo o craving, ou seja, a vontade de fumar.

Alberto José de Araújo, diretor do NETT, apontou o tabaco como o primeiro produto global, hoje, a quarta indústria mundial em lucros. E um relatório do Instituto Souza Cruz indica que a venda de cigarros permanece crescente. Neste contexto, a Aliança de Controle de Tabagismo (ACT) iniciou sua campanha “não seja cúmplice da indústria de tabaco. Aceitar doações ou parcerias ajuda a vender mais cigarros!”.

O especialista alerta que o cigarro deveria ser regulado pelo governo, tamanho é o malefício inerente ao produto. O hábito de fumar causa mais de 50 doenças, entre elas, o câncer de pulmão, acidentes cardiovasculares e o infarto do miocárdio. Vale ressaltar que todos os danos à saúde trazidos pelo cigarro resultam em um custo significativamente alto para o Sistema Único de Saúde no Brasil – o SUS.

Alberto José diz ainda que a reflexão sobre o tabagismo abre caminho para a discussão de responsabilidade social. As substâncias tóxicas do cigarro não afetam apenas quem fuma. Envolvem todos nas proximidades, os fumantes passivos, entre eles, crianças. O tabaco pode ser considerado uma doença infantil, até mesmo chegando ao extremo de bebês que morrem por overdose de nicotina, vítimas de pais fumantes.

Análises revelam que a epidemia do cigarro vem se caracterizando com uma doença da pobreza, atingindo grande parte da população de baixa renda, particularmente as mulheres. No Brasil, apesar de constatada uma redução drástica no número de fumantes, há ainda, aproximadamente, 25 milhões de viciados. Além disso, o tabaco é responsável direto por cerca de 200 mil óbitos ao ano.

Referindo-se às alternativas de tratamento contra o fumo, Alberto José destacou a vareniclina, um novo medicamento que reduz o craving eameniza os sintomas de abstinência. Outra novidade é uma vacina que insere no organismo anticorpos capazes de seqüestrar grande parte da nicotina antes que ela desencadeie as sensações de prazer, de recompensa. Porém, sem efeitos sobre os sintomas de abstinência.

Joab Trajano Silva, professor adjunto do Instituto de Química da UFRJ falou mais a respeito da nicotina. Alerta que esta substância não provoca dependência sozinha. Ela precisa da colaboração de outros componentes presentes na fumaça do cigarro. Entre eles, um açúcar que, ao ser queimado, deriva um aldeído capaz de inibir a enzima monoaminoxidase. Esta é codificada pelos genes MAOA e MAOB, responsáveis por equilibrar os níveis de dopamina. Ou seja, o cigarro não apenas provoca a liberação deste hormônio, como retarda sua degradação no organismo.

O professor concluiu mostrando a hipótese de aspectos genéticos diferenciados influenciarem em uma maior ou menor predisposição nas pessoas para experimentar o cigarro e, feito isso, de recair ao vício em tabaco.

Por fim, teve a palavra Nelson Caldas, psiquiatra do Serviço de Psicologia Médica e Saúde Mental. Esclareceu que o vício em cigarro pode ser impulsionado por fatores sociais, psicológicos e biológicos. Disse ainda que mais relevante não é a qualidade, nem a quantidade da droga, mas a alteração comportamental produzida por este consumo.

Muitas vezes, os fumantes escolhem momentos particularmente emotivos para largar o vício, como a morte de um familiar. Entretanto, é mais aconselhável dedicar-se a esta tarefa em fases mais tranqüilas. Análises revelam também que geralmente há um persistente desejo de parar de fumar, porém os esforços acabam falhando. Mas quanto maior o contato humano recebido pelo paciente, maior a chance de ele se curar.

Segundo Nelson, a nicotina é das drogas mais difíceis de superar. Parar de fumar pode precipitar um transtorno bipolar, uma recaída de depressão mais intensa e até problemas com outras drogas – como álcool. A abstinência de nicotina provoca ganhos de peso, sono, irritabilidade, diminui a taxa metabólica e os batimentos cardíacos.

Os primeiros traços de abstinência se manifestam entre 24 e 48 horas, podendo se estender por quatro semanas. Seus sintomas afetam o organismo, daí poderem ser amenizados por medicamentos. Mas parar de fumar também causa fissura, um traço comportamental que se prolonga por até seis meses, e não pode ser tratado senão por uma abordagem psicológica.