• Edição 073
  • 22 de março de 2007

Por uma boa causa

Suor de atletas pode conter o vírus da hepatite B

Julianna Sá

O Por uma Boa Causa dessa semana dá seqüência à série de matérias que destaca e relaciona saúde e esporte, já que estamos às vésperas dos jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. Voltando o olhar  para a saúde dos atletas, colocamos em foco nesta edição uma recente descoberta da medicina esportiva que revela novas possibilidades na transmissão do vírus da Hepatite B, doença que, em sua forma crônica, já atinge 400 milhões de pessoas em todo o mundo e que tinha seus maiores riscos de infecção no contato sexual sem preservativos e no compartilhamento de seringas ou contatos sangüíneos no momento do parto, já que o sangue do infectado tem alta concentração do vírus. A pesquisa, realizada por cientistas turcos, indica que o vírus pode estar presente no suor dos atletas, aumentando o risco de contaminação.

Jorge Segadas professor adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina e médico do serviço de Hepatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, explica que existem várias fases da hepatite B: “Uma delas, que é o período de latência, quando a hepatite é adquirida logo quando a criança nasce, o vírus fica no organismo com uma carga viral altíssima e as enzimas do fígado são absolutamente normais, a criança não sente nada até completar cerca de vinte anos de idade. Aos vinte anos o sistema imunológico do indivíduo já está desenvolvido e descobre que tem um inimigo dentro do organismo, então, a partir disso, o próprio sistema imunológico começa a destruir as células hepáticas contaminadas pelo vírus. Essa é uma fase de atividade da doença, uma hepatite manifesta. Nesse caso, ou você cura, ou adquire hepatite crônica. Outros portadores do vírus já o possuem numa quantidade muito pequena, sem manifestação clínica e a única forma de identificar o vírus no organismo é através do teste de biologia molecular, que é a pesquisa do DNA do vírus da hepatite B, que foi o teste realizado pelos pesquisadores turcos”.

A pesquisa, realizada na Universidade turca Celar Bayar, contou com a análise de 70 lutadores nos quais foram identificados nove registros de contaminação. Desses atletas, oito apresentavam o vírus no suor, embora nenhum deles manifestasse infecções ativas provocadas pela hepatite B. “É possível ter hepatite B oculta, que ocorre sempre com baixos níveis virais ou ser portador inativo, que consiste em ter os testes sorológicos positivos, mas ter uma carga viral abaixo de duas mil cópias. É como se o paciente estivesse curado, mas ele possui o vírus circulante. Ele transmite muito menos a doença do que os que estão com carga viral alta”, explica o hepatologista. 

Com o resultado, evidenciou-se a possibilidade de o nível de concentração do vírus encontrado no suor ser muito semelhante a do sangue. Porém, para o hepatologista Jorge Segadas, encontrar o vírus no suor e na saliva é possível, mas que isso possa implicar em transmissão para outras pessoas é pouco provável. “A quantidade de partículas no suor não é muito significativa e, além disso, seria necessário entrar em contato com alguma área de ferimento do outro para que o vírus possa ingressar na corrente sangüínea. Na prática, no Brasil, toda criança que nasce é vacinada na maternidade, na rede pública, tomando a vacina da hepatite B nas primeiras 24h de vida. Isso porque a transmissão da hepatite B não é somente pela saliva, pelo suor, ou pelo sangue, ela é uma doença sexualmente transmissível, então nada mais justo do que as pessoas serem vacinadas contra ela.”

Segundo os atletas que foram testados, já há uma preocupação no que diz respeito à contaminação por contato direto de ferimentos, mas para caso do vírus HIV. “Nos esportes de contato, seja a luta livre, seja o próprio futebol, a pessoa pode ter sangue das duas partes entrando em contato. A hepatite B se transmite com maior facilidade do que o HIV, o problema é que se a contaminação for pelo vírus do HIV não há cura, existem tratamentos que permitem viver por muitos anos. Já o adulto que se contamina com hepatite B tem 95% de chance de ficar curado.”

Muitos competidores afirmam já terem tido cortes e ferimentos abertos durante competições e até mesmo nos treinos, o que cria uma situação propícia à contaminação pelo meio convencional, mas para o hepatologista, fazer testes do vírus B não seria a melhor solução, mas sim vacinar todo mundo como forma de prevenção. “È recomendável que os atletas sejam vacinados contra hepatite B como rotina. A vantagem da hepatite B é que, uma vez adquirida, existem grandes chances de cura e a outra vantagem são as diversas formas de prevenção, então todo mundo deveria se vacinar. No Brasil a vacina é de graça até os 19 anos. São três doses: uma no primeiro dia de vida, outra quinze dias depois e a terceira, seis meses após a primeira, ficando imunizado para o resto da vida. Para os que não tomaram quando bebê, a vacina pode ser aplicada em qualquer outra idade.”, conclui o especialista.