• Edição 069
  • 08 de fevereiro de 2007

Saúde e Prevenção

AVC atinge primeiro lugar em causa de mortes no Brasil

Fabíola Ortiz AgN/Praia Vermelha

Mais conhecido como “derrame cerebral”, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) é responsável por mais de cinco milhões de mortes por ano em todo o mundo sendo a terceira causa de óbitos em muitos países, mas, no Brasil, a doença atinge o primeiro lugar no ranking.

A doença é súbita e caracteriza-se pela falta de irrigação sanguínea em alguma parte do cérebro humano, causando a morte do tecido cerebral. O AVC ocorre quando há uma ruptura na artéria, hemorragia, ou quando há uma obstrução permanente desta, embolia ou trombose, impedindo o fluxo sanguíneo nessa área do cérebro.

- Existem basicamente dois tipos de AVC: o isquêmico que é o mais comum e corresponde entre 70 e 85% dos casos, e o hemorrágico - explica Marco Py Coordenador da Residência Médica do Instituto de Neurologia Deolindo Couto, INDC/UFRJ, e Vice-presidente da Associação de Neurologia do Estado do Rio de Janeiro (fundada em dezembro de 2006).

O Acidente isquêmico acontece por uma oclusão, isto é, um entupimento de alguma artéria cerebral por placas de gordura levando a formação de um coágulo nessa artéria. Ele ocorre quando não há passagem de sangue por uma obstrução no vaso ou redução no fluxo sangüíneo do corpo. Já o hemorrágico se dá quando o vaso sangüíneo se rompe, extravasando sangue. “O mais comum é o hipertensivo, pois há uma fragilização da parede das artérias e ela se rompe gerando um sangramento”, informa o neurologista.

Marco Py explica que existem outras formas de AVC como a ruptura de um aneurisma cerebral ou uma má formação dos vasos cerebrais de nascença. “Há também uma predisposição genética, pessoas com parentes que já tiveram aneurisma têm maiores chances de desenvolver a doença”.

- O AVC é um quadro súbito, agudo, a pessoa está bem e de repente apresenta um déficit neurológico em poucos minutos ou no máximo em algumas horas. Chama-se sinal de localização neurológica quando uma área específica do cérebro é afetada- complementa o médico.

As conseqüências do Acidente variam e podem afetar muitos aspectos da vida cotidiana como a motricidade, a fala e as emoções. O verdadeiro tratamento dos acidentes vasculares cerebrais consiste na luta contra a hipertensão, hoje em dia, a grande causa das hemorragias.

As manifestações de um derrame cerebral são repentinas e diferentes em cada paciente, pois varia de acordo com a área do cérebro atingida. As alterações mais comuns são: fraqueza ou adormecimento de um membro ou de um lado do corpo; dificuldades para se movimentar e falar sem conseguir se expressar; perda de visão de um olho ou parte do campo visual de ambos os olhos; dor de cabeça súbita seguida de vômitos; sonolência ou coma; perda de memória, confusão mental e dificuldades para executar tarefas habituais.

Como proceder?

A primeira coisa a ser feita é levar o paciente imediatamente ao hospital mais próximo com atendimento de emergência. Na saúde pública do Rio de Janeiro ainda não há um setor referência para todos os casos de AVC. Para Marco Py “o ideal seria que houvesse uma unidade especializada para o tratamento de acidentes vasculares cerebrais”.

Algumas medidas simples ajudam: manter o paciente deitado com a cabeça em posição reta; não dar remédios para reduzir a pressão nessa fase aguda, pois é normal que a pressão arterial eleve. É necessário mantê-lo clinicamente estável, monitorar os níveis de glicose e pressão arterial para prevenir complicações como pneumonia ou trombose nas pernas.

Segundo Marco Py, é fundamental fazer uma tomografia computadorizada de crânio para descobrir qual o tipo de AVC, para que o tratamento seja adequado. “Quanto mais rápido o paciente for atendido e der início ao tratamento, melhor, pois algumas providências  só podem ser tomadas nas primeiras três horas de evolução. Caso demore o atendimento o quadro pode se tornar irreversível”, acrescenta o Coordenador da Residência Médica do Instituto de Neurologia Deolindo Couto.

Em alguns casos correções de neurocirurgias são recomendadas, “cada vez mais estão sendo utilizados métodos chamados de radiologia intervencionista que são técnicas de cateterismo”. A UFRJ realiza neurocirurgias desse porte para corrigir aneurismas cerebrais no INDC, e as técnicas de radiologia intervencionista são feitas no serviço de radiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) na Ilha do Fundão.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para o AVC são a pressão arterial, tanto a elevada quanto a baixa. A hipertensão acelera o processo de aterosclerose (placa de gordura no sangue), e pode levar a uma ruptura de um vaso sangüíneo ou a uma isquemia. Qualquer doença cardíaca pode originar um AVC - arritmias, infarto no miocárdio, problemas nas válvulas favorecem a formação de coágulos. A diabetes e o colesterol alto, em especial o nível elevado da fração LDL (presente nas gorduras saturadas de origem animal) podem acarretar na formação de placas de aterosclerose. O tabagismo torna o sangue mais concentrado ao longo dos anos e aumenta o risco da hipertensão arterial. A obesidade, o sedentarismo, o uso excessivo de bebidas alcoólicas e a idade avançada aumentam a probabilidade de ter um AVC.

Entre os fatores de risco, Marco Py aponta aqueles não modificáveis: “a idade é o principal risco, quanto mais idoso maior a probabilidade; a partir dos 50 anos o risco dobra a cada dez anos. O sexo masculino tem maiores chances que o feminino, só reverte acima dos 80 anos”.

Por isso as recomendações são sempre manter uma vida saudável, praticar esportes e ter uma alimentação balanceada. “O ideal é fazer exercícios aeróbicos (caminhada, natação, hidroginástica) no mínimo três vezes na semana com meia hora de duração no mínimo” recomenda.

De acordo com Marco Py “já está constatado que outras áreas do cérebro assumem a função da parte lesada (neuroplasticidade cerebral). Isso pode acontecer naturalmente, mas pode ser de forma mais rápida quando há uma estimulação externa - a reabilitação neurológica através de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia. São técnicas de reabilitação não medicamentosas eficazes que conseguem acelerar o processo de recuperação. Tudo depende da área lesada, da extensão da lesão, uma reabilitação adequada e também de cada individuo” conclui o nerurologista.