• Edição 069
  • 08 de fevereiro de 2007

Por uma boa causa

Intolerância ao glúten atinge cerca de 300 mil brasileiros

Isabella Bonisolo

Restrição. Essa é a palavra que define a vida de pacientes com intolerância a certos alimentos. O Por uma Boa Causa de fevereiro aborda algumas doenças que impõe rigor na hora das refeições por toda a vida.

Para iniciar o ciclo, o Olhar Vital traz na primeira edição a doença celíaca, disfunção que acomete cerca de 300 mil brasileiros e impede a ingestão de glúten, uma proteína presente no trigo, aveia e cereais em geral.

De acordo com Cyrla Zaltman, professora adjunta em Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, os celíacos são indivíduos predispostos geneticamente que ativam uma resposta imunológica logo após a exposição ao glúten. Graças a isso, as paredes do intestino delgado não “aceitam” essa proteína.

A doença pode tanto se iniciar na infância quanto na fase adulta. As características mais freqüentes em crianças são a perda muscular, vômitos, diarréia, irritabilidade, tristeza e falhas no crescimento. O diagnóstico na idade mais avançada, porém, pode demorar em média 10 anos, já que nesta fase os sintomas são raros.

– Atualmente observamos que a historia natural da doença se modificou e o seu início tende a ocorrer de forma silenciosa  e, quando se manifesta, geralmente o paciente apresenta quadro de diarréia crônico, associado à desnutrição. Se não detectada precocemente, a doença pode se manifestar por infertilidade de causa ignorada, dificuldade de crescimento, tumores de intestino delgado e presença de outras doenças imunológicas, como tireoidite e diabetes – esclarece Cyrla.

Diagnosticada a doença, o tratamento é feito através de dieta com exclusão total de glúten. Isso inclui uma delicada escolha de alimentos, pois a proteína não existe apenas no pão, empada ou macarrão, mas também em molhos, sopas prontas e caldos de carne vendidos nos supermercados. “É importante que nas etiquetas dos alimentos industrializados esteja descrita a presença de glúten. Já existem até pizzarias onde se produzem alimentos sem glúten, facilitando a vida social destes pacientes, sem estigmatizá-los ou excluí-los do convívio social”, ressalta a professora.

Ao contrário do que se possa imaginar, a retirada do glúten não prejudica o crescimento. Basta o celíaco alimentar-se de forma saudável e equilibrada, que dificilmente apresentará problemas na formação orgânica. Um estudo revela, porém, que crianças que não seguem corretamente a dieta, que pode incluir farinhas de tapioca, milho, arroz, nozes, leite e derivados, carnes e legumes, comprometem 50% de seu crescimento.