• Edição 068
  • 25 de janeiro de 2007

Argumento

Taxa de evasão da medicina é a menor entre os cursos universitários

Priscila Biancovilli

No final de 2006, foram divulgados os dados do Censo da Educação Superior pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia. As informações coletadas em todas as universidades públicas e privadas do Brasil constataram que aproximadamente metade dos universitários abandona a faculdade no meio do curso. Além disso, o estudo mostrou mais detalhadamente em que cursos existem maiores taxas de evasão. Marketing, publicidade e educação física, por exemplo, apresentam taxas de mais de 30%. Já os cursos de medicina se destacam por conseguir a maior retenção entre todos, com quase 95% dos alunos conseguindo obter o diploma de graduação.

Para Lúcio Pereira, coordenador de graduação da Faculdade de Medicina da UFRJ, a baixa evasão pode ser explicada pela maior segurança dos alunos ao conseguir ingressar no curso. “Ao vermos o perfil dos alunos de medicina, observamos que eles estão muito mais definidos em relação às suas escolhas.

Mais de 50% dos estudantes são admitidos apenas depois da segunda tentativa do vestibular. Quem vai em busca de um sonho tão demorado, é difícil abandonar depois de conquistá-lo.”

Marly Serzedello, assessora da graduação do curso de medicina, complementa a informação: “Alguns abandonam logo no início, no primeiro período. Isto acontece porque eles provavelmente passaram em outra faculdade. Nos períodos mais adiantados, sexto, sétimo ou oitavo, eles mudam porque vão para outra profissão. Mas isso é muito pouco. De 90% a 95% dos alunos que entram aqui, terminam o curso.” Marly faz parte da COAA (Coordenação de Orientação e Acompanhamento Acadêmico), e orienta alunos que estejam passando por dificuldades. “Nós temos um acompanhamento muito constante destes alunos. Quando eles começam a ter problemas, ter repetência, nós ficamos muito próximo deles para orientá-los. Talvez isso nos ajude também a ter uma taxa menor de evasão.”, afirma Marly.

Dados fornecidos pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) mostram que apenas 9,9% dos ingressos na Faculdade de Medicina cursaram todos os anos em escola pública. 25% cursaram particular com bolsa e 43,8% cursaram uma escola particular sem bolsa. “Ou seja, a formação privada dá inquestionavelmente mais substrato para estes alunos”, atesta Lúcio.

Ainda que os estudantes de medicina tenham um bom nível sócio-cultural, alguns deles enfrentam dificuldades para continuar estudando, pela falta de recursos financeiros. “Há alunos que não têm dinheiro para pagar transportes, nem livros, e querem ficar no alojamento, pedindo bolsa auxílio. É claro que o número de alunos nesta situação é irrisório, se comparado com outros cursos. Mas, ainda assim, é algo que está aumentando”, diz Marly.

 Entram nesta conta, ainda, os problemas emocionais. Como o curso de medicina costuma ser bastante estimado pela família, e a aprovação em um vestibular tão concorrido é considerada como a primeira grande conquista de um filho, nem sempre a insatisfação e a mudança de idéia em relação à trajetória profissional são compreendidas com facilidade. Apesar de apenas 3% dos que abandonam a universidade da medicina afirmarem sofrer deste problema, isto é algo que deve ser levado em consideração.

Segundo Marly, as transferências ex-ofício também colaboram para o aumento deste índice. “A entrada na faculdade, sem vestibular, de filhos de militares ou funcionários públicos no exterior faz com que alunos nem sempre tão bem preparados lidem com um curso bastante rigoroso, e que nem sempre lhes agrada.”, justifica a professora.

Todos estes dados em relação às taxas de evasão, no entanto, acontecem numa menor proporção nos cursos de medicina, se compararmos com outras carreiras. O professor Lúcio brinca lembrando que a Faculdade de Medicina da UFRJ apresentou um aluno que contribuiu para uma taxa de evasão histórica: “Noel Rosa cursou dois anos da carreira médica e depois partiu para a carreira de compositor”.